As Controvérsias sobre a Eternização do Samba, por Luís da Silva
“O Samba Pede Passagem”
A primeira controvérsia sobre ele se refere às mais variadas versões sobre sua origem, desde místicas, até a mais aceita, que descreve sua rota histórica da África à Bahia e Rio de Janeiro, onde seria urbanizado, principalmente através do Rádio.
A data do seu centenário ficou sendo como válida a de 16 de dezembro de 1916, dia em que Ernesto Maria dos Santos, o Donga, registrou a partitura para piano da música PELO TELEPHONE, que viria a ser conhecida como o primeiro Samba gravado em disco. Foi o grande sucesso carnavalesco de 1917.
A baiana Tia Ciata e outros frequentadores das rodas musicais realizadas em sua casa, alegaram que a música havia sido feita coletivamente, e que Donga, um dos participantes, havia registrado indevidamente apenas em seu nome, em parceria com o jornalista Mauro de Almeida.
Na realidade, vários renomados pesquisadores/historiadores localizaram cerca de cinco gravações no Rio de Janeiro, entre 1909 e 1914. O folclorista gaúcho Paixão Cortez localizou um catálogo de uma gravadora do Rio Grande do Sul, contendo seis músicas, gravadas como gênero Samba, entre os anos 1913 e 1917.
Quanto à contestada originalidade, o próprio Mauro de Almeida chegou a declarar que ele apenas recolheu trechos de trovas populares e colocou na música que lhe apresentaram.
O respeitabilíssimo José Ramos Tinhorão sempre afirmou que o PELO TELEPHONE “é uma colcha de retalhos, com nuances de batuques, estribilhos de folclore baiano e maxixe carioca”.
Segundo publicação do escritor e pesquisador J. Muniz Jr., corroborada por Osvaldinho da Cuíca – primeiro Cidadão Samba de São Paulo -, mais uma polêmica surgiu quando se pretendeu criar uma data específica para o Samba. Uma delas atribuía à data em que o ufanista compositor Ari Barroso, visitara a Bahia ou à data de seu nascimento. Mas até hoje, nenhum documento foi encontrado que viesse a confirmar essa versão.
Segundo J. Muniz Jr., uma das maiores autoridades no assunto, a data de 02 de dezembro foi reconhecida por um decreto no Rio de Janeiro, no ano de 1962, durante a realização do Primeiro Congresso Nacional do Samba, sob a Chancela da Campanha de defesa do Folclore Brasileiro e do Conselho Nacional de Cultura da Ordem dos Músicos do Brasil.
Na ocasião, o Deputado Anésio Frota Aguiar apresentou na Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara, o Projeto de Lei nº681, de 19 de dezembro de 1962, que instituía o dia 02 de dezembro, como data consagrada ao Samba, “visto que nessa data na época começavam, por determinação legal, os ensaios das escolas de Samba, visando o Carnaval do ano seguinte”.
O Projeto de Lei foi vetado pelo então governador Carlos Lacerda, mas o Projeto foi mantido na Assembleia. No ano seguinte, 1963, no II Congresso Nacional do Samba, realizado no MAM-RJ, foi expedido um Boletim recomendando que o dia do Samba fosse comemorado condignamente, “com repicar dos sinos, o roncar das cuícas e com uma alvorada de 21 (vinte e uma) batidas de surdo”, em todos os redutos de samba da Guanabara e de todo o país, inclusive pelas emissoras de Rádio.
No ano de 1964, a Assembleia derrubou o veto e promulgou a referida Lei, ficando o “Dia 02 de dezembro, oficialmente considerado o Dia do Samba”!
Na realidade, o dia 02 de dezembro se tornou em mais uma grande oportunidade de se apresentar o Samba em suas mais variadas vertentes, e de serem lembrados os seus históricos personagens pois tem suas origens nos cantos de trabalho, de banzo, de festa e Resistência dos negros escravizados e seus descendentes. Onde houve escravidão, houve batuques dos mais variados, que com certeza contribuíram para sua eternização !
Todo dia, deveria ser Dia do Samba!!!
Luís da Silva, produtor e apresentador do programa “O samba pede passagem”, no ar há 38 anos pela Rádio USP
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