O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reclamou nesta terça-feira que as declarações do presidente Lula (PT) à Record foram descontextualizadas, fruto da decisão da emissora de antecipar trechos específicos da entrevista, cuja íntegra irá ao ar nesta noite.
Segundo Haddad, essa estratégia de divulgação gera uma especulação desnecessária sobre a política fiscal do governo.
Nas últimas semanas, setores do mercado criticaram Lula pela ofensiva sobre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e por uma suposta falta de sinalização quanto à disposição de cortar gastos. A área econômica tenta a todo custo evitar uma nova escalada do dólar, como a que ocorreu entre o fim de junho e o começo de julho.
Em um dos recortes que começam a gerar uma repercussão, Lula disse: “É apenas uma questão de visão. Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Este País é muito grande, este País é muito poderoso. O que é pequeno é a cabeça dos dirigentes deste País e a cabeça de alguns especuladores”.
Haddad afirmou que Lula reforçou seu compromisso com o arcabouço fiscal, desenhado pelo atual governo como substituto do teto de gastos de Michel Temer (MDB). Ato contínuo, o Ministério da Fazenda divulgou outro trecho da entrevista, em que Lula declara: “Vamos fazer o que for necessário para cumprir o arcabouço fiscal. Eu dizia na campanha que íamos criar um país com estabilidade política, jurídica, fiscal, econômica e social. Essa responsabilidade, esse compromisso — posso dizer para você como se tivesse dizendo para um filho meu, para a minha mulher —, responsabilidade fiscal eu não aprendi na faculdade, eu trago do berço”.
No início de julho, Haddad anunciou um corte de 25,9 bilhões de reais em despesas obrigatórias no Orçamento de 2025, a fim de cumprir o arcabouço. Nesta terça, o ministro afirmou que o Planejamento, pasta comandada por Simone Tebet (MDB), divulgará nos próximos dias os detalhes sobre essa redução.
O ministro da Fazenda também declarou que se reunirá com Lula nos próximos dias para tratar do Orçamento deste ano e indicou a possibilidade de anunciar bloqueios e contingenciamentos para respeitar a regra fiscal.
O arcabouço prevê déficit zero em 2024 e em 2025. Na prática, significaria um resultado neutro nas contas do governo, sem considerar os juros da dívida pública. A regra oferece, no entanto, uma tolerância de 0,25% do PIB para mais ou para menos, margem citada por Lula na entrevista à Record.
“Este País não tem nenhum problema se é déficit zero, se é déficit 0,1%, se é déficit 0,2%. Não tem nenhum problema para o País. O que é importante é que este País esteja crescendo, que a economia esteja crescendo, que o emprego esteja crescendo, que o salário esteja crescendo”, disse o presidente.
Esse trecho reforçou a estratégia de “panos quentes” de Haddad: “Ele falou que pode ser zero, 0,1. Isso está, inclusive, dentro da banda”.