
A maior parte das fraudes envolvendo descontos associativos de beneficiários do INSS foi articulada dentro da poderosa Diretoria de Benefícios da autarquia — setor responsável pelo controle de uma folha de pagamentos que ultrapassa R$ 1 trilhão ao ano. Nos últimos anos, essa estrutura estratégica foi gradualmente ocupada por indicações políticas do Centrão, em substituição a servidores técnicos, segundo relatos colhidos pela Folha.
Até 2016, sindicatos rurais, como a Contag, dominavam os acordos com o INSS, principalmente por meio de descontos autorizados em aposentadorias. Com o tempo, novas entidades passaram a firmar convênios com o instituto, como Conafer, Ambec e Sindnapi — hoje investigadas pela Polícia Federal por suspeitas de fraudes. O avanço desses acordos gerou alertas dentro do órgão, culminando na MP 871, proposta por servidores para endurecer a fiscalização. No entanto, o lobby no Congresso barrou os principais dispositivos da medida.
A tentativa de moralização passou a enfrentar forte resistência política.
Associações como a Conafer viram seus repasses mensais ultrapassarem R$ 6 milhões, o que gerou pressão direta sobre a diretoria do INSS para manter os acordos.
O deputado Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) foi identificado como articulador político da entidade nas tratativas com o instituto.
A Conafer também tinha relações com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que abrigou um diretor da entidade em seu gabinete.

Com a pandemia da Covid-19, no governo de Jair Bolsonaro, os acordos se multiplicaram.
Em 2020, apenas dois termos foram publicados no Diário Oficial.
No ano seguinte, foram sete; em 2022, chegaram a 15.
A arrecadação com os descontos associativos explodiu, passando de R$ 510 milhões para R$ 1,3 bilhão em apenas três anos. A ascensão de nomes ligados ao Centrão, como José Carlos Oliveira, ampliou o controle político sobre a diretoria de Benefícios, que concentrou as decisões sobre os repasses.
A mudança de governo, com a eleição de Lula, não foi suficiente para conter a escalada das irregularidades.
O comando da diretoria foi entregue a André Fidelis, também ligado ao Centrão, que deixou o cargo após atrasar uma auditoria interna. Seu substituto, Vanderlei Barbosa, também foi afastado após a operação Sem Desconto da Polícia Federal, que apura a extensão da rede de fraudes.
O escândalo já derrubou um ministro, dois presidentes do INSS e ameaça desencadear uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso.
A Polícia Federal segue investigando os fluxos de dinheiro e influência que, durante anos, sustentaram um esquema que drenou recursos de aposentados e beneficiários em nome de entidades de fachada com respaldo político.