A colunista Tereza Cruvinel, em artigo publicado no Brasil 247 (27 de junho de 2025), defende que o governo Lula, ao recorrer ao STF contra a derrubada do aumento do IOF pelo Congresso, busca evitar um “confronto aberto” com o Legislativo, mas sem “abaixar a cabeça”. Ela sugere que Lula deve “fazer política, ora conciliando, ora endurecendo”, e sustenta que o governo deve manter a retórica da “justiça tributária” para enfrentar a sabotagem da direita, enquanto planeja um encontro com os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, para “distensionar a relação”. Essa análise reformista é contraditória e ilusória, pois confia em negociações com um Congresso reacionário que, como a própria Cruvinel admite, sabota Lula para impedir sua reeleição. A única saída para enfrentar essa sabotagem — que vem tanto do Congresso quanto de setores internos do governo — é a mobilização popular, convocando a base social de Lula para defender o programa de desenvolvimento nacional e social pelo qual foi eleito, não medidas impopulares como o IOF.

Cruvinel reconhece que o Congresso, dominado pela direita, busca “sangrar Lula para evitar sua reeleição”, como visto na “derrota acachapante” da revogação do decreto do IOF, que ela descreve como uma “usurpação” de uma prerrogativa constitucional do presidente. Ela aponta que a votação do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) violou acordos, com Hugo Motta marcando a votação “por decisão unilateral” e Davi Alcolumbre pressionando pela demissão do ministro Alexandre Silveira. Apesar disso, Cruvinel propõe que Lula “lavará as mágoas” em um encontro com Motta e Alcolumbre para “zerar o jogo” e “distensionar a relação”. Essa estratégia é contraditória: como negociar com um Congresso que, nas palavras dela, impõe derrotas “de cabeça pensada” e rompe “canais de diálogo”? Sua sugestão de “fazer política, ora conciliando, ora endurecendo” reflete uma ilusão reformista de que é possível convencer a burguesia reacionária, representada por partidos como o PL, União Brasil e Progressistas, a apoiar o governo.

A sabotagem, como Cruvinel nota, é eleitoral e estrutural, com o Congresso controlando o orçamento via emendas e derrubando medidas sociais, como a isenção de IR até cinco salários mínimos. Apostar no diálogo, como ela propõe, é desarmar a luta de classes. Lula deve usar os dispositivos institucionais, claro, mas sua força está na mobilização de sua base social — trabalhadores, sindicatos e movimentos sociais.

Cruvinel defende que o governo sustente a “retórica da justiça tributária” para justificar o aumento do IOF, que, segundo ela, garante “o ajuste das contas públicas e a manutenção de políticas que favorecem os mais pobres”. Essa posição é equivocada. O IOF é um imposto regressivo que onera os trabalhadores, contradizendo o programa de desenvolvimento nacional e social pelo qual Lula foi eleito em 2022. Em vez de defender medidas impopulares, o governo deveria confrontar o capital financeiro, suspendendo o pagamento da dívida pública, que consume quase metade do orçamento federal para pagar banqueiros. A retórica de Cruvinel, ao apoiar o IOF, alinha-se com os interesses do capital, não dos trabalhadores.

Cruvinel reconhece a sabotagem externa, mas ignora a interna. Figuras como Fernando Haddad, que ela cita como defensor do IOF, priorizam políticas de austeridade, como o arcabouço fiscal de 2023, que limitam gastos sociais para agradar o mercado. Essa sabotagem dentro do governo enfraquece a base social de Lula. A solução não é, como Cruvinel sugere, “zerar o jogo” com o Congresso, mas mobilizar o povo. Lula deve convocar trabalhadores e movimentos sociais para defender um programa radical, como a reindustrialização do País.

Lula deve ter meios próprios para romper a dependência da imprensa capitalista. Porém, esses canais não devem defender o IOF, como Cruvinel parece endossar, mas mobilizar o povo em torno de um programa de transformação social, convocando manifestações e fortalecendo a luta de classes. Tereza Cruvinel, ao propor diálogo com um Congresso que sabota Lula e defender o IOF, contradiz sua própria análise de que a direita busca “sangrar” o governo. Sua estratégia de “conciliar e endurecer” é uma ilusão reformista que desarma os trabalhadores. O governo Lula deve rejeitar articulações com a burguesia reacionária e mobilizar sua base social para enfrentar a sabotagem externa e interna.

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Last Update: 29/06/2025