Adilson Sousa Santiago, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana(CONDEPE-SP) foi condenado pela 1a Vara Criminal da Capital, a 4 meses de cárcere e pagamento de multa por difamação ao comparar em suas redes sociais,o atual Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, com o ditador alemão, Adolf Hitler.
Ainda cabe recurso da decisão judicial e é certo – penso – que, no máximo, se chegar a tanto, Adilson, deve arcar financeiramente com a feliz comparação que, na verdade, não consistiu em difamação alguma, mas tão somente em uma verdadeira denúncia,pois,fato é que a violência policial, não pode ser nem acatada, nem naturalizada.
Daí porque ao referir-se a: Adolf Derrite ou Guilherme Hitler buscou-se apenas evidenciar o aumento preocupante do grau de letalidade das abordagens policiais e, com isso, o despreparo de toda uma corporação (do comando ao soldado) expondo uma cadeia de descaso e negligência inaceitáveis com os direitos humanos.
Os números são testemunhas desta predileção doentia dos agentes públicos por matar. De janeiro a novembro de 2023 foram 504 mortes em abordagens policiais, enquanto no mesmo período de 2024 foram 740 óbitos, portanto, um aumento de 14,88%, o que significa que Adolf Derrite superou seu próprio record, uma vez que, assumiu em janeiro de 2023, a função de Secretário de Segurança Pública de São Paulo.
O que deve ser objeto de preocupação é o fato de que somos governados por autoridades que além de autoritárias pensam pequeno demais. E este é o caso de Guilherme Hitler (que também é vice-prefeito de São Paulo), que ao invés de se preocupar com uma justa comparação histórica deveria arregaçar as mangas e trabalhar duro para que houvesse uma redução robusta de abordagens violentas da polícia e, então, a partir daí mudar-se das pessoas a concepção a seu respeito.
No entanto, Adolf Derrite não só deixa de se empenhar para qualificar a corporação policial no aprendizado correto do seu trabalho, que deve estar em sintonia com os direitos humanos, como também parece concordar com toda esta barbárie e para isto basta exumar a declaração de Guilherme Dehitler, quando em 2015, ocasião em que era Capitão da ROTA, disse que cada policial deveria ter: “no mínimo três mortes em seu currículo”.
Daí porque, se este sempre foi o propósito de Adolf Derrite; se os números atestam a expansão de uma violência que foi premeditada e incitada; se, já na condição de Secretário de Segurança Pública de São Paulo, os números da violência policial traduzem, na prática, o discurso de Guilherme Dehitler, então, Adilson Sousa Santiago cumpre o seu dever cívico ao denunciar o autoritarismo de Derrite, que vem azeitar as engrenagens da corporação para industrializar os assassinatos consentido pelo Estado à semelhança do que ocorreu em 1964.
Ocorre que a condenação de Adilson Sousa Santiago é um teatro dos autoritários que ainda estão infiltrados no poder.
Por parte de Derrite é um teatro porque a sua prática em consentir extermínio em abordagens policiais é algo do qual deve se orgulhar, bem como a comparação feita,intimamente, deve lhe soar como um elogio, mas simula indignação apenas para não parecer politicamente incorreto; afinal, para os autoritários o jogo das aparências consiste em rejeitar em teoria, o que é assumido na prática.Aí está o requinte de toda crueldade e banalização do mal.
Por parte da Justiça esta condenação é um teatro porque o fato grave sabe-se que não é o conteúdo da denúncia, mas o que é denunciado, ou seja, a escalada da violência policial em flagrante desrespeito aos direitos humanos.
Porém, a condenação de Adilson Sousa Santiago é, na verdade, um teatro horripilante e enquanto encenação grotesca não deixa de ser também um gesto de violenta intimidação, pois, assim, busca-se não só silenciá-lo, mas também calar qualquer um, que pretendesse se aventurar na denúncia do autoritarismo presente na conduta da corporação policial, que reproduz em pleno Estado Democrático de Direito práticas sanguinárias da época da ditadura.
Toda solidariedade a Adilson Sousa Santiago.
Não podemos aceitar a tentativa deste silenciamento e nem que se busque calar a defesa dos direitos humanos.
Charles Gentil
Presidente do Diretório Zonal PT do Centro