O jornalista Luís Nassif, no Brasil 247, voltou a discutir sobre o suposto golpe de Estado planejado por militares bolsonaristas. Segundo ele, “a derrota do movimento golpista, seguida do encarceramento de seus chefes, deixou um aviso aos navegantes de uma história de avanços e retrocessos que envolve o Brasil há pelo menos uma década”.
E qual seria essa lição? Ele responde: “não cabe esperar boas novidades a partir dos conchavos de gabinete, muito menos dos acertos em linguagem elegante pelo alto, com fanfarra militar e troca de flores, falsas juras de amor à Constituição e seus valores democráticos”.
Num primeiro momento, pensar-se-ia que, finalmente, o jornalista chegou a uma conclusão acertada: não podemos esperar nada da institucionalidade, portanto, é preciso atuar por fora dos limites institucionais (a mobilização do povo, por exemplo). Seria a conclusão óbvia a se tirar, com a declaração seguinte do jornalista:
“Neste início de século XXI assistimos no Brasil, em vários vizinhos sul-americanos e outras partes do Planeta, a um conflito que já transbordou a fronteira das disputas políticas convencionais para exigir a mobilização vigilante dos trabalhadores, da classe média e setores comprometidos com as necessidades da maioria da população.”
“Em toda parte, os povos se colocam de pé para defender seus direitos e proclamar suas esperanças. Trata-se de um processo gigantesco, onde é possível reconhecer as grandes linhas em disputa”.
Mas não é disso que se trata.
Primeiro, a afirmação de Luís Nassif parte de um princípio errado, de que o “movimento golpista” teria sido derrotado. Isso é uma farsa. O verdadeiro movimento golpista no Brasil, aquele que se iniciou com o Mensalão e passou pela derrubada de Dilma Rousseff e a prisão de Lula, continua presente.
É que Luís Nassif resume o golpismo brasileiro apenas às articulações recentes de militares, chefiados pelo general Walter Braga Netto, enquanto esquece que tais golpistas estão sendo colocados na cadeia por um outro setor — e ainda mais fundamental — do golpe, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Polícia Federal (PF), braços do imperialismo no Brasil.
Segundo, a defesa de Luís Nassif da mobilização popular é completamente errônea. Ele diz que “numa época de grandes avanços da ciência e oportunidades tecnológicas, que deveriam lançar as bases para modos mais igualitários de civilização, assistimos a uma guerra de ditaduras contra a democracia, da carestia programa contra a abundância mais que possível”.
“Neste ambiente de risco e esperança, brasileiros e brasileiras devem ir às ruas, de forma organizada, para proteger uma democracia que nasceu na luta dos trabalhadores e no calor dos protestos estudantis. Tornou-se um exemplo para o Continente e uma esperança para o mundo — e não pode ser esmagada pelo egoísmo canalha dos entreguistas e aproveitadores.”
Quer dizer, os trabalhadores deveriam se colocar como parte ativa dessa “guerra de ditaduras contra a democracia”. O problema é que, para Luís Nassif, a “democracia” seria representada justamente pelos golpistas do STF e da Polícia Federal, que ele, ingenuamente, acredita serem aliados da esquerda.
A classe trabalhadora e os estudantes, então, deveriam se colocar a reboque da atual política do imperialismo contra os generais, que usou a preparação de um golpe de Estado como um espantalho para, anti-democraticamente, impôr com mais força sua política em solo nacional.
A isso, temos que responder: não, os trabalhadores não devem se aliar à “democracia” contra a “ditadura”. Os trabalhadores devem lutar com uma política própria contra todos os golpistas, não apenas os militares entreguistas, mas também as instituições pró-imperialistas que concretizaram o golpe de 2016.
É, no mínimo, estranho que um jornalista acredite que os mesmos golpistas de 2016, e que agora estão realizando uma série de manobras anti-democráticas, retirando os direitos mais básicos do povo mediante o uso do espantalho da extrema direita, sejam democráticos.
Há, sim, uma série de ataques aos direitos democráticos da população, mas esses ataques, agora, estão sendo levados, fundamentalmente, pelo setor que Luís Nassif apresenta como “democracia”. Os trabalhadores não devem se aliar à “democracia”, sistema político da burguesia totalmente ilusório no atual estágio de decadência do capitalismo. Ao contrário, devem lutar em defesa dos direitos democráticos que estão sendo pisoteados pelo conjunto dos golpistas.
Mas como Luís Nassif acredita cegamente na “democracia”, ele concluiu: “a resposta à traição golpista apenas começou. Deve prosseguir até que os culpados tenham sido presos e julgados, sem anistia nem perdão, numa caminhada à altura do caminho percorrido até aqui”.
Se o jornalista estivesse se referindo também ao setor que ele agora considerada aliado, teríamos de concordar com ele. No entanto, sabemos que não se trata disso. Portanto, podemos apenas dizer que, enquanto Luís Nassif acha que “a resposta à traição golpista apenas começou”, os verdadeiros golpistas estão sendo fortalecidos pela política suicida da esquerda, da qual o jornalista é um propagandista.