Tenho notado que os argumentos que criticam o filme “Ainda estou aqui” são frequentemente equivocados, apesar de terem um certo fundamento. Isso é especialmente verdadeiro entre os ativistas da esquerda, que fazem críticas injustas ao filme, muitas vezes utilizando clichês identitários. O ativista da USP, Chavoso, argumenta em sua crítica, que se tornou conhecida no YouTube, que o filme não abordou as camadas pobres da população e apenas mostrou as dores dos brancos e pequenos burgueses da sociedade de classe média carioca. Segundo ele, o que a família de Rubens Paiva sofreu nos anos 70 é o que os pobres sofrem até hoje, cotidianamente, nas mãos da polícia. Os abusos denunciados no filme ganham relevância pela classe social dos protagonistas e pela cor de sua pele, enquanto os pretos e pobres continuam a receber o mesmo tipo de violência, mas sem a glamorização oferecida pelo filme.
Não há como negar que a crítica é justa… mas não ao filme!!! A crítica poderia ser feita com propriedade à cinematografia nacional que não faz mais filmes para denunciar a barbárie aplicada sobre pretos e pobres que sofreram nas mãos da ditadura (e hoje nas mãos da polícia), mas não para um sujeito que pretende contar o sofrimento da sua mãe e sua família por conta do golpe militar que ocorreu no Brasil. Não cabe a um cineasta – ou um compositor, pintor, escritor – cobrir todos os aspectos possíveis de um drama qualquer. “Ora, o Rubens Paiva era carioca, e os gaúchos como eu, que sofreram nas mãos da ditadura, não serão representados? Ahhh, e ele era homem, e as mulheres presas e torturadas pela ditadura? E os gays, e os negros?“ Tenho notado que os argumentos que criticam o filme “Ainda estou aqui” são frequentemente equivocados, apesar de terem um certo fundamento. Isso é especialmente verdadeiro entre os ativistas da esquerda, que fazem críticas injustas ao filme, muitas vezes utilizando clichês identitários. O ativista da USP, Chavoso, argumenta em sua crítica, que se tornou conhecida no YouTube, que o filme não abordou as camadas pobres da população e apenas mostrou as dores dos brancos e pequenos burgueses da sociedade de classe média carioca. Segundo ele, o que a família de Rubens Paiva sofreu nos anos 70 é o que os pobres sofrem até hoje, cotidianamente, nas mãos da polícia. Os abusos denunciados no filme ganham relevância pela classe social dos protagonistas e pela cor de sua pele, enquanto os pretos e pobres continuam a receber o mesmo tipo de violência, mas sem a glamorização oferecida pelo filme.
Não há como negar que a crítica é justa… mas não ao filme!!! A crítica poderia ser feita com propriedade à cinematografia nacional que não faz mais filmes para denunciar a barbárie aplicada sobre pretos e pobres que sofreram nas mãos da ditadura (e hoje nas mãos da polícia), mas não para um sujeito que pretende contar o sofrimento da sua mãe e sua família por conta do golpe militar que ocorreu no Brasil. Não cabe a um cineasta – ou um compositor, pintor, escritor – cobrir todos os aspectos possíveis de um drama qualquer. “Ora, o Rubens Paiva era carioca, e os gaúchos como eu, que sofreram nas mãos da ditadura, não serão representados? Ahhh, e ele era homem, e as mulheres presas e torturadas pela ditadura? E os gays, e os negros?“
Poderia ficar horas citando todos os setores da sociedade e todas as camadas não contemplados pelo filme, mas sei o quanto isso é desonestidade intelectual. Um filme deve ser cobrado pelo que faz e diz e não pelo que não mostra – a menos que o filme sirva para esconder algo, ou ocultar a verdade por meio de uma perspectiva falsa. Digo isso porque nenhum filme ou obra artística tem a capacidade de dar conta de todas as perspectivas da realidade. Portanto, é possível que a crítica do Chavoso (entre outros) seja adequada sobre a produção do cinema nacional, pela importância do resgate da memória nacional do segmento mais pobre e sem voz do país, mas injusta ao criticar o filme por não mostrar tudo o que desejava ver.