Coerência, Responsabilidade e Pragmatismo
por Alexandre Barbosa Neves
A crise venezuelana é o maior desafio para o Governo Lula 3, até o momento. Penso que este desafio requer coerência, responsabilidade e pragmatismo. A coerência deve vir do reconhecimento de que as democracias costumam ser imperfeitas, assim como que há uma superexploração – principalmente por parte da mídia hegemônica – dos problemas existentes no regime venezuelano. A coerência também exige que problemas sérios em eleições já houve em países e regimes amplamente reconhecidos como democráticos.
Em segundo lugar, é preciso agir com responsabilidade. Neste sentido, considero que vale a pena ouvir a análise de João Carlos Jarochinski, professor de Relações Internacionais da UFRR, no episódio de hoje do podcast “O Assunto”. Achei bastante apropriada a decisão de escolher um professor de uma universidade que fica localizada no ente federativo mais afetado pelos conflitos na Venezuela. O Presidente Lula, seu assessor Celso Amorim e o Itamaraty estão agindo de forma prudente e responsável.
Finalmente, penso que é preciso pragmatismo. Primeiramente, é necessário reconhecer que – mesmo não esquecendo da profunda injustiça produzida pelas sanções econômicas – os governos chavistas estão completando 25 anos com uma situação econômica extremamente deteriorada.
Vejo o caso da Venezuela como mais uma evidência do que tenho chamado de “Lei de Przeworski”, qual seja, a de que a esquerda só tem dois caminhos factíveis, o leninismo ou a socialdemocracia. Chama a atenção que, na América Latina, a esquerda populista radical consiga manter o poder numa crise de acumulação econômica tão longa quanto se tem vivido na Venezuela.
Portanto, sendo bastante pragmático, penso que o mais importante hoje para a América Latina e todas as forças progressistas no hemisfério é o sucesso do Governo Lula 3. Os resultados socioeconômicos até aqui são excelentes, o que mostra a viabilidade de governos verdadeiramente social-democratas na América Latina, um modelo que pode ser seguido em todo o subcontinente.
NOTAS:
(1) Eu explorei este ponto em outro artigo aqui do GGN.
(2) Uma coisa que sempre me incomodou é a assimetria entre as atrocidades cometidas pelo regime oligárquico que imperava até 2022 na Colômbia, onde a violência política era brutal.
(3) Ver: https://www.whitehouse.gov/briefing-room/statements-releases/2024/07/30/readout-of-president-joe-bidens-call-with-president-luiz-inacio-lula-da-silva-of-brazil-2/.
(4) Minha convicção só aumentou ao analisar atentamente o trabalho realizado por acadêmicos que respeito e admiro, que pode ser encontrado aqui: https://storage.googleapis.com/project-pvt-2.appspot.com/public/Alta_Vista_PPA.pdf.
Jorge Alexandre Barbosa Neves – Ph.D, University of Wisconsin – Madison, 1997. Pesquisador PQ do CNPq. Pesquisador Visitante University of Texas – Austin. Professor Titular do Departamento de Sociologia – UFMG – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
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