Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que já levou mais de 3 milhões de espectadores às salas de cinema desde novembro de 2024 e tornou-se um fenômeno cultural no País, emplacou três indicações ao Oscar 2025 na manhã de quinta-feira 23. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou que o longa vai competir aos prêmios de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres no páreo.
A indicação de Ainda Estou Aqui a título Internacional e Atriz era esperada, mas a escolha entre os dez indicados principais foi uma surpresa – e a primeira vez na história que o Brasil disputa a categoria de Melhor Filme. Havia um clima provável de isso acontecer desde a estreia nos EUA, no último fim de semana, mas ainda assim a competição era bastante dura. Ainda Estou Aqui repete a trajetória do sul-coreano Parasita em 2020, que também disputou as duas categorias – e acabou ganhando ambas.
É também uma repetição para Walter Salles, que 26 anos depois de Central do Brasil concorrer em Filme Internacional e Atriz, com Fernanda Montenegro, vê agora seu mais recente trabalho nas mesmas categorias e ainda a filha de Fernandona tentando o prêmio que a mãe perdeu para Gwyneth Paltrow, por Shakespeare Apaixonado. Torres tem como concorrentes Cynthia Erivo, por Wicked; Karla Sofia Gascón, por Emilia Pérez; Mikey Madison, que compete por Anora; e Demi Moore, em A Substância.
Na disputa principal de Melhor Filme, Ainda Estou Aqui vai encarar alguns títulos fortes da temporada, entre eles Anora, Um Completo Desconhecido, Conclave, Emilia Pérez e, principalmente, O Brutalista, que venceu o Globo de Ouro de melhor drama em janeiro. Na categoria Internacional, o principal concorrente brasileiro é o francês Emilia Pérez, também com indicação dupla. Outros países representados são Dinamarca, por A Garota da Agulha; Irã, com A Semente do Fruto Sagrado; e Letônia, por Flow.
Reações positivas da crítica norte-americana a Ainda Estou Aqui e a visibilidade de Torres, inclusive sua elogiada participação no programa de entrevistas de Jimmy Kimmel, podem ter dado o impulso final necessário para que votantes da Academia incluíssem o filme entre seus escolhidos. A Sony Pictures, produtora do longa-metragem, investiu tempo e dinheiro numa campanha até o momento muito bem-sucedida.
Até hoje, o título brasileiro com mais indicações é Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, que em 2004 emplacou quatro nomeações (Direção, Roteiro Adaptado, Montagem e Fotografia), graças ao trabalho maciço de divulgação da produtora Miramax. No caso das atuações, agora com Fernanda Torres no páreo, apenas duas atrizes brasileiras tiveram indicações até hoje. Nenhuma atriz latino-americana ganhou o prêmio principal em 97 anos de Oscar. Isso pode mudar na noite do próximo dia 2 de março. •
Publicado na edição n° 1346 de CartaCapital, em 29 de janeiro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Consagração em Hollywood’