Angelo Bonelli, deputado italiano. Foto: reprodução

O deputado italiano Angelo Bonelli, do partido Europa Verde, solicitou formalmente ao governo da Itália esclarecimentos sobre uma possível cooperação com o Brasil para a extradição da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). A ação ocorre após a parlamentar brasileira, condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão, anunciar que deixou o Brasil e pretende se estabelecer na Itália, onde possui cidadania.

“Implementando o acordo de cooperação judiciária entre Itália e Brasil, em matéria de extradição: não se pode usar a cidadania italiana para escapar de uma condenação. A Itália, portanto, corre o risco de se tornar um paraíso para gente condenada”, argumentou Bonelli, em comunicado oficial, destinado ao ministro do Interior, Matteo Piantedosi, e ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani.

Quem é Angelo Bonelli?

Bonelli ocupa o cargo de deputado na Câmara dos Deputados da Itália pela coalizão Alleanza Verdi e Sinistra (AVS) além de ser porta-voz do partido Europa Verde. Ele iniciou sua carreira política em 1990 como conselheiro distrital em Roma. Entre 1993 e 1994, presidiu a XIII Circunscrição da cidade.

Foi eleito deputado pela primeira vez em 2006, representando a Federação dos Verdes. Em 2012, candidatou-se à prefeitura de Taranto, destacando-se por sua atuação ambientalista. Em 2022, retornou à Câmara dos Deputados pelo partido Europa Verde, dentro da coalizão AVS, após vencer no distrito uninominal de Imola.

Neste mesmo ano, ele iniciou uma campanha para cassar a cidadania do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em conversa com o DCM, disse que o benefício não pode ser estendido a “alguém acusado no Brasil de causar a morte de 600 mil pessoas na pandemia, muitos deles indígenas, e que é acusado de cometer crimes contra a humanidade”.

O parlamentar tem se destacado por propostas legislativas que visam impedir a concessão de cidadania italiana a indivíduos condenados por crimes como conspiração política, como pode ser encarado o caso de Zambelli, terrorismo e violência contra a mulher. Em 2023, apresentou uma emenda à lei de cidadania italiana para incluir tais restrições.

Condenação de Zambelli

O caso ganhou repercussão após Zambelli declarar em entrevistas que se considera “intocável” em território italiano. “Como tenho cidadania italiana, eu sou intocável na Itália, não há o que ele [Alexandre de Moraes] possa fazer para me extraditar onde sou cidadã”, afirmou a deputada à CNN.

Bonelli classificou as declarações como “uma vergonha” e cobrou posicionamento claro do governo italiano. “Aguardamos uma resposta clara do governo italiano em caso que pretende extraditar Carla Zambelli para o Brasil”, declarou o parlamentar.

O STF já determinou a prisão preventiva de Zambelli e solicitou à Interpol sua inclusão na lista de procurados internacionais. A condenação da deputada refere-se à invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), quando teria orientado o hacker Walter Delgatti Neto a inserir documentos falsos, incluindo um suposto mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.

A bolsonarista anunciou sua saída do Brasil em entrevista à Rádio AuriVerde: “Eu queria anunciar que estou fora do Brasil. Já faz alguns dias. A princípio, buscando um tratamento médico, é um tratamento que eu já fazia aqui [sem especificar o lugar]. Vou pedir afastamento do cargo”. A deputada afirmou ainda que pretende “denunciar a ditadura” que, segundo ela, o Brasil vive atualmente.

Especialistas em direito internacional destacam que, embora a Itália não seja obrigada a extraditar seus cidadãos devido ao tratado bilateral com o Brasil, o governo italiano poderia cooperar com a Justiça brasileira caso considere a gravidade dos crimes.

Jair Bolsonaro e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) durante evento em Belém (PA), em 2022. Foto: Isac Nóbrega/PR

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Last Update: 04/06/2025