O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a atacar nesta quarta-feira 16 a Universidade de Harvard, chamando-a de “piada”. Para o republicano, a renomada instituição de ensino “é indigna de financiamento do governo dos EUA”. Enquanto a Casa Branca reforça o impasse, o presidente de Harvard, Alan Garber, se torna um símbolo da resistência contra a ingerência das autoridades americanas sobre o ensino privado no país.

“Harvard é uma piada que ensina ódio e estupidez e não deveria mais receber financiamento federal”, afirmou Trump na rede Truth Social, acusando a universidade de recrutar principalmente “esquerdistas radicais e idiotas sem cérebro”.

Enquanto o presidente critica uma das universidades mais respeitadas do mundo, membro da famosa Ivy League, grupo que reúne as principais instituições de ensino do país, Garber, presidente de Harvard até 2027, ganha destaque por sua postura firme, resistindo aos ataques da Casa Branca.

A universidade americana se recusa a ceder à pressão do governo de Donald Trump e se opõe a exigências consideradas contrárias à liberdade acadêmica, incluindo auditorias sobre diversidade de opinião e restrições a programas de inclusão. Essa posição levou ao congelamento de 2,2 bilhões de dólares em bolsas federais (quase 13 bilhões de reais), mas também reforçou a reputação da universidade como um bastião da independência acadêmica.

Outras instituições, como a Universidade da Pensilvânia, a Brown University e a Universidade de Princeton, também tiveram o repasse de verbas suspenso até que cumpram as exigências da Casa Branca. Sob a ameaça de perder bilhões de dólares, a Universidade de Columbia, em Nova York, preferiu a implementar mudanças drásticas solicitadas pelo governo, na tentativa de recuperar esses fundos.

Tendo se tornado o epicentro universitário de manifestações em favor da Palestina por mais de um ano, a universidade nova-iorquina disse estar pronta para revisar completamente sua gestão dos movimentos de protesto estudantis, formalizar uma definição de antissemitismo e reformar os departamentos de estudos do Oriente Médio, Sul da Ásia e África, que o governo Trump ameaçou colocar “sob supervisão acadêmica”.

Desde que assumiu a Casa Branca, em janeiro deste ano, a administração Trump intensificou os ataques às universidades, alegando que investiga dezenas de instituições para erradicar programas de diversidade e combater o que classifica como antissemitismo desenfreado nos campi.

Enquanto outras instituições preferiram fazer um pacto a ter seu financiamento cortado, em Harvard, o presidente Alan Garber mantém o poder de fogo contra Trump. Nascido em 1965 no estado norte-americano de Illinois, Garber recebeu seu doutorado em economia por Harvard em 1982 e completou o doutorado em medicina por Stanford, em 1983.

O economista e médico supervisionou políticas acadêmicas e promoveu iniciativas interdisciplinares com a responsabilidade direta por iniciativas interescolares, desenvolvimento do corpo docente, política de pesquisa e relações internacionais. Alan Garber também é reconhecido por sua pesquisa sobre economia da saúde, tendo publicado mais de 150 artigos acadêmicos sobre o assunto.

Reitor de Harvard desde 2011

Alan Garber foi professor de medicina e economia e política de saúde na Universidade de Stanford, antes de se tornar reitor de Harvard, em 2011. Lá, ele fundou e dirigiu o Centro de Política de Saúde e o Centro de Cuidados Primários e Pesquisa de Resultados, além de atuar como Diretor Médico do Departamento de Assuntos de Veteranos do Sistema de Saúde de Palo Alto.

Em agosto de 2024, Garber foi nomeado presidente da universidade de Harvard. Ele foi escolhido para o cargo por sua vasta experiência e profundo conhecimento da instituição. O presidente lida atualmente com as consequências de décadas de crise de liderança na universidade, um êxodo de doadores, uma investigação do Congresso e um campus profundamente dividido sobre a guerra de Israel em Gaza.

Em carta aos alunos e professores, Garber reiterou, na segunda-feira 14 que a instituição já vinha tomando medidas contra o antissemitismo há mais de um ano e garantiu que Harvard não abandonaria “sua independência, nem seus direitos garantidos pela Constituição”, como a Primeira Emenda sobre liberdade de expressão.

Financiamento híbrido

Nos Estados Unidos, as instituições de ensino superior são financiadas por diversas fontes. Mas todas as universidades, incluindo as privadas, recebem dinheiro público dos governos federal, estadual e local. Embora esta seja a principal fonte de financiamento das instituições públicas, os fundos governamentais representam uma parcela minoritária, mas significativa, do orçamento das universidades privadas.

Segundo dados publicados por Harvard, as bolsas federais representam 11% da receita da instituição privada, de um orçamento anual de 6,4 bilhões de dólares. Valores que podem parecer colossais, principalmente quando comparados com a França, onde o orçamento total do ensino superior para 2025 chega a 31,3 bilhões de euros. Para ter uma ideia, o orçamento para 2025 da Universidade Panthéon-Sorbonne, a maior instituição de Humanas do país, é de 270 milhões de euros.

Nos Estados Unidos, o financiamento do ensino superior é amplamente descentralizado, dando às instituições um maior grau de autonomia e gerando grande competitividade entre as universidades.

Uma das principais fontes de financiamento para instituições privadas são as taxas de inscrição e mensalidades, particularmente caras. De acordo com o site da Universidade de Harvard, a contribuição média anual para um estudante de graduação para 2025-2026 é de 59.320 dólares (346 mil reais).

As mensalidades representam 21% da receita da instituição, de acordo com o relatório financeiro de 2024, às quais se somam despesas como moradia, alimentação e outros serviços através dos quais a universidade também gera receita. De acordo com os números do relatório, Harvard também recebe 8% de seu financiamento de doações. A arrecadação de fundos é realizada através de fundações ricas e indivíduos generosos, normalmente ex-alunos.

Outra fonte importante de financiamento são os fundos patrimoniais, compostos de capital inicialmente financiado por doadores e investido no mercado de ações. Harvard tem um fundo patrimonial avaliado em 53,2 bilhões de reais em 30 de junho de 2024, gerando centenas de milhões de dólares em juros anuais.

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Last Update: 17/04/2025