A facção criminosa venezuelana El Tren de Aragua atravessou a fronteira do Brasil e já se estabelece com domínio confirmado em diversos bairros de Boa Vista, capital de Roraima. A expansão da organização, que se aproveita da intensificação do fluxo migratório dos últimos anos, tem gerado preocupações entre as autoridades de segurança pública e os moradores locais.
De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Roraima (MPRR), a facção já conta com integrantes presos no sistema prisional do estado e lideranças estabelecidas em bairros como 13 de Setembro e São Vicente, em Boa Vista. Além disso, os planos de expansão da facção incluem a conquista de novas áreas, como o bairro Calungá.
A Tren de Aragua, considerada a maior facção criminosa da Venezuela, é conhecida pela alta periculosidade e por atuar em uma ampla gama de crimes, como tráfico de drogas, contrabando e tráfico de pessoas.
A organização criminosa surgiu no presídio de Tocorón, na Venezuela, e atualmente tem uma estrutura transnacional, com presença confirmada em países como Colômbia, Chile, Bolívia, Equador e até Estados Unidos.
O agravamento da crise política e econômica na Venezuela tem favorecido as ações da El Tren de Aragua. O grupo tem se beneficiado da vulnerabilidade de milhões de venezuelanos em fuga, usando a exploração sexual e a extorsão como meios de arrecadação. Além disso, a facção tem se infiltrado em diversos territórios, ampliando seu domínio e atuação.
Em Roraima, apesar dos registros de homicídios brutais, como esquartejamentos, associados à El Tren de Aragua, não houve confrontos diretos com facções brasileiras, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Pelo contrário, as investigações apontam que há negociações e acordos entre a facção venezuelana e as organizações criminosas brasileiras.
Inicialmente, a Tren de Aragua tentou formar uma aliança com o PCC, com foco no comércio de armas. No entanto, nos últimos anos, a aproximação tem sido maior com o Comando Vermelho, que tem ganhado força no estado, dominando áreas estratégicas como o garimpo ilegal e alguns bairros de Boa Vista.
A presença da El Tren de Aragua em Roraima não é isolada. Além dela, outros grupos criminosos venezuelanos, como a Tren de Guayana e o Sindicato de Las Claritas, também foram identificados na região. As forças de segurança e inteligência locais estão em constante alerta, monitorando a expansão da facção, que se beneficia da posição geográfica estratégica do estado.
Além disso, a fuga do líder da Tren de Aragua, Héctor Rustherford Guerrero Flores, o Niño Guerrero, em 2023, após uma megaoperação policial na Venezuela, aumentou a preocupação sobre a atuação da facção no Brasil. O presídio de Tocorón, onde o líder comandava a facção, era conhecido por sua estrutura semelhante a uma minicidade, com boate, clube aquático, bares e até um zoológico, refletindo o poder de influência e organização do grupo.
A presença massiva de venezuelanos em Roraima também tem sido um fator que agrava a situação. Atualmente, estima-se que 180 mil venezuelanos residam no estado, representando cerca de 25% da população local. O fluxo migratório tem gerado tensões sociais e impactos no sistema de segurança, já que o número de venezuelanos presos nas penitenciárias de Roraima aumentou cinco vezes nos últimos seis anos.
As autoridades locais afirmam que a maioria dos presos está na Ala 5 da Penitenciária Agrícola do Monte Cristo (PAMC), em Boa Vista, e entre eles estão faccionados da El Tren de Aragua, envolvidos em diversos homicídios e crimes violentos na região.
O crescimento da Tren de Aragua em território brasileiro também tem chamado a atenção internacional. Em julho deste ano, o governo dos Estados Unidos classificou a facção como uma “organização criminosa transnacional”, destacando o risco de expansão de suas atividades para outros países.