Congresso comete ataque à Constituição ao revogar decreto de Lula sobre IOF, diz Marco Aurélio de Carvalho

O advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas. Foto: Reprodução

O advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, afirmou em artigo publicado na Folha de S.Paulo que o Congresso Nacional comete um “gravíssimo ataque à Constituição” ao revogar decretos do presidente Lula (PT) sobre o IOF, invadindo competências exclusivas do Executivo. Para ele, trata-se de “um verdadeiro tsunami institucional”:

O presidente Lula, no exercício regular de suas prerrogativas, editou decretos elevando as alíquotas do IOF para operações de crédito, câmbio e valores mobiliários. Tais atos, rigorosamente dentro dos limites legais, foram revogados pelo Congresso Nacional em uma clara e inequívoca demonstração de usurpação de competências.

Não cabem aqui meias palavras: foi um gravíssimo ataque à ordem constitucional vigente e uma ruptura institucional que atenta frontalmente contra os pilares da separação de Poderes. Que se grave pela repetição o que não se pode negar: o que estamos testemunhando não é o exercício legítimo de um controle legislativo, mas sim uma clara e descarada invasão de competências exclusivas do Poder Executivo, em clara violação ao artigo 2º da Constituição Federal.

Os argumentos jurídicos em defesa da posição presidencial são irrefutáveis. O artigo 153, §1º da Constituição Federal confere ao Poder Executivo competência exclusiva para alterar as alíquotas do IOF. Essa não é uma prerrogativa compartilhada, negociável ou sujeita à chancela posterior do Legislativo. É competência privativa, e ponto final. (…)

O Supremo Tribunal Federal já consolidou jurisprudência reconhecendo a legitimidade desses atos executivos para impostos extrafiscais como o IOF. A natureza extrafiscal do tributo, longe de contaminar sua constitucionalidade, reforça a necessidade de que sua gestão permaneça nas mãos do Poder Executivo, que tem as condições técnicas e a agilidade necessária para responder às demandas conjunturais da economia.

O precedente é grave. Há uma tentativa velada de transformar o presidencialismo brasileiro em regime parlamentarista, sem consulta popular, sem debate constitucional e pela via autoritária dos fatos consumados.

O Congresso Nacional, que já sequestrou competências executivas com as nada transparentes emendas impositivas, agora avança sobre o núcleo duro das prerrogativas presidenciais.

Não podemos esquecer da tentativa de revogação dos decretos de homologação das terras indígenas Toldo Embu e Morro de Cavalos. Esse PDL pretende revogar o artigo 2 do decreto 1775/1996, que dispõe sobre a regulamentação do processo demarcatório. (…)

Se permitirmos que decisões técnicas do Executivo sejam derrubadas por motivações meramente políticas e eleitorais, estaremos criando as condições ideais para tornar o país ingovernável.

Diante desse ataque frontal às instituições, a reação do governo tem sido exemplar. Serena, firme, respeitosa e com sólida fundamentação jurídica. (…)

O governo não precisa de artifícios ou de manobras pirotécnicas. Tem a Constituição, a lei e a jurisprudência consolidada do STF a seu lado. Não se insurgiu contra uma medida do Congresso Nacional. Optou pelo caminho jurídico de defesa de uma das suas mais legítimas prerrogativas.

E por que esse ataque acontece justamente agora? A resposta é cristalina: porque o Brasil vai excepcionalmente bem. Vivemos um momento extraordinário de crescimento econômico —superior a todas as projeções—, de desemprego em queda —o menor da série histórica—, de inflação controlada, de recuperação da credibilidade internacional e de volta dos investimentos externos diretos. Os indicadores sociais e econômicos apontam para um país que encontrou seu rumo após anos de turbulência.

Ao assinar o decreto do IOF, o presidente, de olho no equilíbrio fiscal, majorou um imposto que poupa os mais pobres e atinge o bolso dos mais ricos. Justiça tributária!

Os que ainda resistem não conseguem esconder que têm visão estreita e que só conseguem enxergar 2026.

O Supremo Tribunal Federal terá agora a oportunidade histórica de reafirmar os princípios fundamentais da nossa ordem constitucional. Esperamos que a corte, fiel à sua missão de guardiã da Constituição, restabeleça os limites para um relacionamento saudável, independente e harmônico entre os Poderes da República, que foram tão flagrantemente violados, de forma perigosa e ousada pelo parlamento brasileiro.

Mas que não agrave esta crise avocando para si um poder que não tem.

Não há conciliação possível.

A única saída é a aplicação da lei.

Cada Poder na sua “caixinha”. Simples assim.

A imagem mostra o plenário da Câmara dos Deputados do Brasil, com várias pessoas em pé e sentadas. Ao fundo, há uma mesa com representantes e bandeiras do Brasil. As paredes laterais estão equipadas com painéis eletrônicos que exibem informações. O ambiente é amplo, com cadeiras dispostas em fileiras e um piso claro.
Sessão da Câmara que sustou decreto do Governo Federal sobre o IOF. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Artigo Anterior

Bancada do PT protocola projeto de lei na Câmara que acaba com os supersalários no serviço público

Próximo Artigo

Decreto define funcionamento do comitê de defesa da economia nacional

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!