Depois de afirmar, durante a posse na presidência do Senado, que a anistia aos golpistas não era um tema de interesse dos brasileiros, Davi Alcolumbre, segundo relatos da imprensa, resolveu arbitrar a disputa entre bolsonaristas, STF e partidos progressistas. O perdão continua a não interessar à maioria. Ao contrário, quase 60% da população defende a punição dos envolvidos na tramoia. A opinião popular só é levada em conta, porém, quando interessa aos donos do poder. A proposta de Alcolumbre consiste em reduzir as penas dos invasores das sedes dos Três Poderes, entre os quais estava a “moça do batom”, a mártir bolsonaresca, e elevar a punição dos mandantes. As condenações dos “baderneiros” seriam reduzidas de um sexto a um terço, a depender do caso, o que permitiria a conversão de grande parte das detenções em prisão domiciliar. Ainda de acordo com as descrições publicadas na mídia, a ideia teria o aval da Corte e do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, além de não encontrar oposição no Palácio do Planalto. “Redimensionar a extensão das penas, se o Congresso entender por bem, está dentro de sua competência”, declarou Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo. Líder na Câmara do PL, partido de Bolsonaro, e articulador do pedido de urgência adiado, Sóstenes Cavalcante criticou as negociações: “Não acho normal o STF legislar juntamente com o Senado. Se é verdade o que está na mídia, estamos vivendo tempos sombrios na nossa democracia”. Os golpistas, como num passe de mágica, viraram ferrenhos defensores do Estado de Direito.
Gêmeos univitelinos
Nascidos da mesma costela, a Arena dos tempos da ditadura, o PP e o União Brasil mudaram de nome e de rumos desde 1985, mas não conseguiram evitar a mútua atração. Na segunda-feira 28, lideranças do UB, ex-PDS, ex-PFL, ex-DEM, aprovaram a federação com a legenda de Ciro Nogueira e Arthur Lira. Antes mesmo de o acordo vigorar, a disputa pelo controle da estrutura correu solta. Lira quer encabeçar a aliança, que reunirá 109 deputados federais, 14 senadores e mais de 1,3 mil prefeitos Brasil afora. Por ora, as agremiações optaram por uma solução salomônica: Nogueira e Antônio Rueda, cacique do UB, vão dividir o comando até dezembro. Depois, o lado mais forte leva.
STF/ Collor no xilindró
A maioria do tribunal vota a favor da prisão do ex-presidente

O “caçador de marajás” foi condenado a oito anos – Imagem: Roque de Sá/Agência Senado
Por 6 votos a 4, o Supremo Tribunal Federal manteve a prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello, determinada anteriormente pelo ministro Alexandre de Moraes. Votaram pela libertação André Mendonça, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Kassio Nunes Marques. Cristiano Zanin declarou-se impedido. O “caçador de marajás”, esgotados os recursos, passou a cumprir a pena de 8 anos e 10 meses em um presídio de Alagoas por corrupção e lavagem de dinheiro em um inquérito derivado da Operação Lava Jato. A Corte havia condenado Collor em 2023 pelo recebimento de 20 milhões de reais em propina da BR Distribuidora entre 2010 e 2014. Dois diretores da empresa à época foram indicados pelo ex-presidente. Os advogados de defesa solicitaram o cumprimento da punição em prisão domiciliar, com base no estado de saúde do cliente. Aos 75 anos, Collor apresenta sinais de Parkinson, apneia do sono e transtorno bipolar. A maioria dos magistrados do STF não se comoveu e manteve o regime fechado. Em princípio, o ex-presidente deverá progredir para o semiaberto em menos de dois anos. Um empresário generoso ofereceu emprego ao condenado, com salário de 1.518 reais.
Estupro, não
A Faculdade Santa Marcelina anunciou a expulsão de 12 alunos de Medicina fotografados ao lado de uma bandeira com apologia do estupro durante jogos estudantis. Outros 11 envolvidos receberam sanções regimentais, entre elas a suspensão. Em nota, a instituição de ensino superior declarou: “Comprometida com a transparência, os princípios éticos e morais, a dignidade social, acadêmica e a legislação vigente, a Faculdade Santa Marcelina reafirma sua postura proativa e colaborativa em relação ao assunto perante as autoridades competentes”.
Educação/ 2+2=5
Pesquisa aponta baixo desempenho em matemática e português

O aprendizado regrediu em uma década – Imagem: Rogério Cassimiro/GOVSP
Meros 5,2% dos alunos da rede pública que cursavam o 3° ano do ensino médio em 2023 tinham conhecimento adequado de matemática, aponta um levantamento baseado nos dados do Saeb. Nas escolas privadas, o índice é de 30,5%, ainda assim vexatório para a oitava economia do mundo. O nível de aprendizagem na disciplina recuou a patamares de uma década atrás. No caso de português, o porcentual de estudantes de instituições públicas soma 35,9%. A pesquisa também registra um aumento da desigualdade de aprendizado por raça e renda. Quando se observa o desempenho de alunos do 9º ano do fundamental, a diferença entre brancos e amarelos, de um lado, e pretos, pardos e indígenas, de outro, chegou a 14 pontos porcentuais em língua portuguesa e 8,6 em matemática. Em entrevistas, Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas da ONG Todos pela Educação, lamentou: “É inadmissível que o País não tenha conseguido, em uma década, reduzir as enormes diferenças de aprendizagem”.
Europa/ Península no escuro
Apagão iniciado na Espanha bagunça e assusta o continente

Os espanhóis ficaram ilhados – Imagem: Joseph Lago/AFP
Uma falha elétrica em uma subestação derrubou por mais de seis horas o fornecimento de energia na Espanha, Portugal e em porções da França. O blecaute repercutiu em outras partes do continente e estendeu-se ao Reino Unido, onde voos tiveram de ser cancelados. A Justiça espanhola decidiu investigar as causas do apagão e o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, não descartou a hipótese de um ataque terrorista ou de hackers ao sistema. “Entendo a pressa para saber o que aconteceu, mas precisamos de tempo”, pediu. Tanto na Espanha quanto em Portugal houve uma corrida aos supermercados e uma paralisação completa dos transportes públicos e dos serviços em geral. O Ministério do Interior espanhol declarou estado de emergência e mobilizou 30 mil policiais para manter a ordem. A operadora espanhola REE atribuiu o problema a uma falha na conexão com a França. “A extensão da perda foi além do que os sistemas europeus foram projetados para lidar”, afirmou o executivo Eduardo Prieto.
Nazistas na Argentina
Mais de 1.850 documentos a respeito de fugitivos nazistas que se esconderam na Argentina foram liberados para consulta pública. Da lista constam, entre outros, Josef Mengele, que mais tarde migraria e viveria até a morte no Brasil, Walter Kutschmann, oficial da SS, Adolf Eichmann, arquiteto do Holocausto, e Gustav Franz Wagner, comandante do campo de concentração de Sobibor. “Os registros”, diz um texto na página do arquivo nacional argentino, “são o resultado de investigações conduzidas pela Diretoria de Relações Exteriores da Polícia Federal, pela Secretaria de Inteligência do Estado (Side) e pela Gendarmaria Nacional entre as décadas de 1950 e 1980.”
Vaticano/ A hora da política
Os Cardeais se preparam para a escolha do novo papa

Por ora, o conclave terá 133 eleitores – Imagem: Filippo Monteforte/AFP
A partir da quarta-feira 7, os cardeais com menos de 80 anos de idade, aptos a votar, darão início ao conclave que nomeará o sucessor de Francisco, sepultado no sábado 26. O número de votantes caiu de 135 para 133, por conta da ausência de dois clérigos: o espanhol Antonio Cañizares Llovera e o bósnio Vinko Puljic. Se o número for mantido, o futuro papa precisará de 89 apoiadores. Outro nome vetado é o do italiano Giovanni Becciu, condenado por peculato em decorrência de um imóvel de alto valor em Londres. Becciu, ex-assessor de Francisco, renunciou aos privilégios do cardinalato em 2020. “Tendo no coração o bem da Igreja, à qual servi e continuarei servindo com fidelidade e amor, assim como para contribuir com a comunhão e a serenidade do conclave, decidi obedecer como sempre fiz”, afirmou em comunicado enviado à agência de notícias AFP por seu advogado. O número de papáveis nas bolsas de apostas no Reino Unido continua expressivo: dez candidatos. Uma mostra de quão indecifrável será a eleição. Vaticanistas apostam em um pontífice entre moderado (ou centrista) ou ligado à direita. Se em 34 rodadas não houver um vencedor, os dois mais bem votados disputam uma espécie de “segundo turno”.
Publicado na edição n° 1360 de CartaCapital, em 7 de Maio de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’