Congelar quem ou o quê?
por Francisco Celso Calmon
Quem precisa ser congelado é o brasileiro-norte-americano Armínio Fraga. E não é retórica, realmente os espaços dados ao banqueiro são desproporcionais à sua competência e eventual contribuição ao debate econômico.
Armínio não entende de capitalismo, só entende de uma fração dele que é o capitalismo financeiro. Por isso, não compreende, à luz da história, do desenvolvimento capitalista, o papel que desempenham as melhorias salariais, porque força a buscar aumento da produtividade, via novas tecnologias e métodos de produção.
Não foi e nem é o congelamento ou arrocho de salários que eleva a produtividade, é exatamente o contrário, esse é um fenômeno histórico.
Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central, declarou de forma enfática que o pleno emprego não deveria existir, pois gera, segundo ele, inflação, isto porque os capitalistas diminuem o poder de negociação, já que não há mão de obra disponível para a qualquer tempo e hora substituir àqueles que estão na ativa com salários que satisfaçam as suas necessidades elementares.
Quando o salário-mínimo é aumentado, o capital força engenheiros, ferramenteiros, enfim, técnicos e gestores, buscarem mais criatividade e performances para alcançar a meta permanente do capitalismo, ou seja, a maximização do lucro.
Sendo Arminio Fraga um ideólogo do rentismo, conseguiu suscitar o velho debate quanto ao salário-mínimo, diga-se de passagem, que é inconstitucional, basta recorrermos a Constituição, artigo 7º, inciso IV, que estabelece: “salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”, e, por outro lado, a reconhecer que o salário mínimo, na forma atual, serve mais aos empresários do que aos trabalhadores.
O salário-mínimo real deveria ser aquele salário médio ou o salário mediano da massa salarial, como salários referências, deixando o salário-mínimo sem existência, sem ser referência, sairemos do mínimo para o médio, e todas as vezes que aumentarem os altos salários, o médio aumenta.
Atualmente o salário médio que o IBGE apresentou no final de fevereiro estava em R$ 3.428 e o mediano em R$ 3.378. (https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/03/28/salario—pnad-fevereiro.htm)
Os democratas da justiça social, deveriam retrucar e contraditar falas atrasadas, anacrônicas, de ideólogos ultrapassados, como Roberto Campos Neto, Armínio Fraga, e o outros que não vem ao caso nomeá-los.
Enquanto os altos salários correrem soltos no mundo institucional e no mundo privado, e o salário-mínimo continuar inconstitucional, estar-se-á praticando a injustiça social e instabilidade democrática.
A saída para isso é indexar o salário-mínimo ao salário máximo de forma que, à guisa de exemplo, o maior salário não poderia ultrapassar o menor em mais de 12 vezes.
A concentração de renda no Brasil é fator de desequilíbrio fiscal e social, e não o salário-mínimo.
Toda vez que se aproxima da taxação dos ricaços, jogam o foco no salário, quando não é no mínimo, é no dos servidores públicos.
O imperialismo sendo o estágio maior do capitalismo, na atualidade representado pelos Estados Unidos, está vivendo uma crise estrutural de identidade, pois não se preparou e resiste ao movimento inevitável do fim do unilateralismo para o predomínio do multilateralismo.
A esquerda ao ter abandonado a luta ideológica, desertou da crítica imperiosa ao capitalismo predatório ao homem e a natureza, cujo modo de produção se esgota periodicamente, gera crises, e as soluções têm sido através do desemprego massivo e de guerras de dominação e espoliação.
A política de Trump é suicida, por um lado, mas por outro, evidencia que não haverá mais volta atrás, e a guerra tarifária está mostrando que, por hora, os Estados Unidos estão se fechando e diminuindo seus poderes internacionais.
Na política é necessário e tempestivo colocar na ordem do dia a análise do capitalismo, da sua elite, no sentido de criarmos uma massa crítica que entenda e acelere a ruína do império estadunidense.
Devemos aceitar o debate e não congelar, retomar a luta ideológica congelada com a queda do mundo de Berlim e o fim da União soviética, é vital para a conjuntura de reorganização internacional do poder.
Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “