Gaza e Síria: genocídio, guerra, revolução e a geopolítica do Oriente Médio
por [Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto e Gisele Fonseca Chagas]
O Oriente Médio está passando por eventos dramáticos que apontam para uma reconfiguração geopolítica da região: uma guerra total contra a população palestina, que inclui o genocídio perpetrado por Israel em Gaza e a intensificação da brutalidade e violência contra a população da Cisjordânia por parte do exército israelense e dos colonos judeus; a ampliação da agressão militar israelense para o Líbano com o objetivo de neutralizar o Hizbollah; a contração do poder regional do Irã diante de uma guerra de atrito fomentada por Israel; e, finalmente, o colapso do regime Baathista na Síria diante da ofensiva do Hayat al-Tahrir al-Sham.
Apesar do sentimento de ruptura causado por esses eventos, eles são compreensíveis apenas quando colocados no contexto dos processos de longa duração que atravessam a região há décadas.
A mudança de paradigma na política israelense de dominação dos palestinos, da submissão pela violência militar para uma gerada por ações genocidas, é exemplificada na campanha que Israel levou contra a UNRWA, a agência humanitária da ONU que cuida dos refugiados palestinos em diversos países do Oriente Médio e nos territórios ocupados.
Claramente, Israel procura eliminar qualquer quadro institucional de proteção da população civil palestina que possa colocar algum limite às políticas brutais de dominação e extermínio às quais a população de Gaza está sujeita há mais de um ano.
O enfraquecimento de forças regionais como o Hizbollah e o próprio Irã, envolvidos no conflito com Israel, e internacionais, como a Rússia, envolvida na guerra contra a Ucrânia, modificou o equilíbrio de forças na região, permitindo o desencadeamento de eventos políticos inesperados, como a queda do regime baathista na Síria.
A guerra civil emergiu da brutal repressão militar e paramilitar que o regime baathista fez contra os protestos e movimentos de desobediência civil, chamados de Revolução Síria de 2011, contra a ditadura de Bashar al-Assad, no poder desde 2000.
Desse modo, somente a composição de forças dentro do HTS e com as outras forças políticas permitirá vislumbrar a nova ordem em construção na Síria.
Assim, os eventos políticos que estão reconfigurando o Oriente Médio atualmente apontam tanto para processos políticos de longa duração quanto para rupturas e novos paradigmas, os quais trazem em si a incerteza e a esperança da mudança.
Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto é professor do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da UFF, e coordenador do Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOM). Também é pesquisador do CNPq (Produtividade em Pesquisa) e da FAPERJ (Cientista do Nosso Estado).
Gisele Fonseca Chagas é professora do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da UFF, e vice-coordenadora do Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOM). Pesquisadora do CNPq (Produtividade em Pesquisa) e da FAPERJ (Cientista do Nosso Estado).