A imprensa internacional repercutiu a condenação de Jair Bolsonaro e de outros sete radicais que integraram o chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe de Estado. Jornais do mundo inteiro elogiaram a maturidade institucional do Brasil e o apreço do país pela democracia. A pena de mais de 27 anos estipulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para o capitão da extrema direita estampou as principais manchetes.
O The New York Times observou que “o Brasil teve sucesso onde os Estados Unidos falharam”. O artigo assinado por Steven Levitsky, autor de “Como as Democracias Morrem” e professor de Harvard, e por Filipe Campante, da universidade John Hopkins, argumenta que o presidente Donald Trump não foi responsabilizado por sua aventura subversiva no Capitólio.
“Esses acontecimentos contrastam fortemente com os Estados Unidos, onde Trump, que também tentou reverter uma eleição, não foi preso, mas retornou à Casa Branca”, pontua o NYT.
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O Wall Street Journal disse que a decisão da primeira turma do STF “sela a queda dramática de Bolsonaro e seus aliados de direita” e que “inflama uma disputa entre o presidente Trump e o atual líder esquerdista do país”. “Muitos brasileiros começaram a comemorar, buzinando e comemorando nas janelas de seus prédios.”
O Washington Post destacou que Bolsonaro deve deparar-se com um longo tempo de prisão, embora seus advogados tenham manifestado que devem recorrer da decisão.
Além de mostrar imagens das comemorações progressistas, o britânico The Guardian descreveu os votos dos ministros Cristiano Zanin e Cármen Lúcia, que sacramentaram a decisão na última quinta-feira (12). O jornal também deu ênfase às principais falas do relator do processo, Alexandre de Moraes.
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“Ao anunciar a sentença de Bolsonaro por crimes como golpe de Estado e tentativa violenta de abolir a democracia brasileira, o ministro da suprema corte Alexandre de Moraes disse: ‘[Ele tentou] aniquilar os pilares essenciais do Estado Democrático de Direito, cuja consequência maior teria sido o retorno da ditadura ao Brasil’”, observou.
Já o francês Le Monde informou os leitores que Bolsonaro chefiou uma organização criminosa na tentativa de se manter no poder.
“Inelegível até 2030 e em prisão domiciliar em Brasília desde o início de agosto por suspeita de obstrução da Justiça, Bolsonaro não compareceu às audiências por motivos de saúde, segundo a defesa. Um jornalista da agência France-Presse conseguiu avistá-lo na manhã de quinta, em seu jardim, vestindo uma camisa pólo verde, com um amigo próximo”, relatou o diário.
Condenação histórica
Na Espanha, o El País classificou de “histórica” a condenação do capitão da extrema direita e deu ênfase à presença de militares de alta patente no intento golpista. “Nunca um ex-presidente brasileiro ou militares prestaram contas à Justiça por uma rebelião”, noticiou.
“O ultradireitista encabeçou uma conspiração golpista para subverter o resultado eleitoral e permanecer no poder depois de ser derrotado nas eleições de 2022 pelo atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou o El País.
O La Nación, da Argentina, apontou igualmente o ineditismo do julgamento: “Este é o primeiro ex-mandatário a ser declarado culpado por tentar anular uma eleição no país, a maior economia da América Latina”.
A agência de notícias Reuters foi na mesma linha ao lembrar que Bolsonaro é o primeiro ex-presidente condenado por ataques à democracia.