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Por Seu Nome

Do blog Cinegnose

Por que, não mais que de repente, os “colonistas” do jornalismo corporativo resolveram dar pitacos sobre a comunicação do Governo? Cinicamente até admitem os bem-feitos de Lula na área econômica. Mas, segundo eles, Lula não está conseguindo transmitir para o povo e o mercado. Qual o ardil dessa súbita preocupação? A resposta está no costumeiro comportamento reativo do Governo e do PT: colocar um marqueteiro na Secom. Reativamente, confunde comunicação com propaganda. Dentro da atual arapuca de ataques especulativos da Faria Lima, a questão não é mais a excelência da informação transmitida à sociedade. Os recentes sincericídios da economista Zeina Latif e do banqueiro André Esteves revelam o ardil mídia-Faria Lima: fazer o governo continuar a confundir comunicação com propaganda, enquanto eles operam a comunicação no verdadeiro patamar epistemológico dessa ciência – a comunicação como acontecimento, que cria uma pauta ou agenda autorrealizável na qual o Governo está prisioneiro. Nesse momento, o Governo deve pensar a comunicação interdisciplinarmente.

A “questão da comunicação” do governo Lula, a suposta ineficiência da comunicação governamental incapaz de criar uma percepção positiva no populacho (apesar dos bons auspícios no front econômico), deve ser abordada a partir de duas afirmações crípticas de dois personagens – um na mídia hegemônica especializada; e o outro nos bastidores sem filtro da Faria Lima.

No jornal “O Globo” (20/12/2024), a ex economista-chefe da XP Investimentos e colunista do jornal, Zeina Latif, disparou: “Partido de esquerda tendo de mexer em salário-mínimo e abono deve doer na pele”. Latif vê um “simbolismo” nisso: a dor sentida por um governo de esquerda ao ser obrigado a cortar a própria carne – para bom entendimento político, arriscar-se a se inviabilizar para as eleições de 2016.

A “colonista” da grande mídia e insider da Faria Lima cometeu uma espécie de sincericídio: revelou que a atual crise do dólar, a perda de confiança do mercado com a “gastança” do governo e a insistência da mídia com o cenário de derrocada e inflação descontrolada nada têm de racionalidade baseada em leis econômicas… é uma questão SIMBÓLICA.

Parafraseando aquele comercial de cartão de crédito: ver Lula cortar a própria carne não tem preço!… para todas as outras, tem as eleições de 2026.

Em outras palavras, Zeina Latif confessou que o que ela e a Banca querem é ver o Governo de joelhos, se auto imolando em praça pública. Para que, humilhado e combalido, não chegue viável em 2026.

Um pouco tempo antes, em um daqueles portentosos eventos fechados do mercado, o banqueiro André Esteves (BTG Pactual), com a autoconfiança debochada dos vencedores, foi ainda mais incisivo.

Se autoelogiando por ter participado da privatização de três grandes estatais (Sabesp, a Copel e a Eletrobrás), Esteves foi incisivo:

“Há dez anos a maioria de nós acharia isso impossível acontecer… a três meses antes das eleições, privatizamos a Eletrobrás sem nenhum protesto… não apareceu ninguém na sede da BTG com um cartaz de cartolina dizendo ‘sou contra’… vimos as privatizações no final dos anos 1990… no Rio de Janeiro, na Praça XV, virava uma praça de guerra, gás lacrimogênio, investidor tomando pancada… dessa vez privatizamos e não apareceu ninguém… então, a sociedade brasileira mudou…” – clique aqui na Live Extra Cinegnose 360 #79, a partir de 1:55:19.

Aqui o banqueiro André Esteves mostrou a outra faceta desse “simbolismo” a que Zeina Latif se refere: enquanto assistimos à grande mídia batendo o bumbo da crise e da derrocada econômica (supostamente baseada na racionalidade econômica), tranquila e silenciosamente a agenda do tripé neoliberal (privatizações, superávit primário e câmbio flutuante) é colocada em ação.

Parece que secretamente ou numa espécie de universo paralelo, invisível para todos. Enquanto a opinião pública parece sedada, alheia. Ou melhor, ocupada com alguma outra coisa.

Naquela mesma semana em que André Esteves ostentava seu orgulho mesclado com deboche, no Allianz Park (a arena do Palmeiras) o público que assistia ao show de Maria Bethânia e Caetano Veloso puxava o coro: “Anistia não! Anistia não!”.

Talvez sedada e alheia não sejam as palavras certas. Talvez a atenção e energia dessa opinião pública esteja sendo desviada para uma outra cena: o palco do teatro do 8/1 e seus sucessivos spin-offs em cartaz há quase dois anos – agora, assistimos ao thriller da ameaça da anistia aos golpistas, a épica defesa da Democracia pelo ministro Xandão e a peça “Esperando Godot”, ou melhor, esperando o Procurador da República Gonet fazer alguma coisa em relação ao inquérito do golpe no ano que vem.

Esses são os dois lados da moeda do “simbolismo” de Zeina Latif: de um lado, através do método de agenda setting CAOs (Consonâncias, Acumulações e Onipresenças midiáticas – sobre isso, clique aqui) cria a atmosfera de medo generalizada – medo dos vilões serem anistiados, medo de um golpe que possa vir de qualquer lado, medo da derrocada inflacionária etc., sugando como um buraco negro a energia atenção dos agentes sociais e da maioria silenciosa.

E do outro, o orgulhoso deboche da Faria Lima que placidamente agita o mercado das privatizações, ao mesmo tempo que fatura em dólares a especulação do medo enquanto paradoxalmente aposta contra o País.

O método CAOs é uma arma diversionista apontada para dois públicos: a esquerda, criando um misto de medo e o efeito Pavlov de vingança – ver os golpistas (principalmente Bolsonaro) atrás das grandes, como forma de compensação pela prostração diante da Operação Lava Jato. E a chamada “maioria silenciosa” (sobre esse conceito, clique aqui), cuja percepção é modelada pelo medo do descontrole inflacionário – por exemplo, com o bate bumbo midiático, ver em aumentos de preços sazonais provas de uma ameaçadora inflação estrutural.

Comunicação não é propaganda

O que a “questão da comunicação” do Governo Lula tem a ver com tudo isso?

Talvez a resposta esteja no súbito interesse da grande mídia (em particular, dos “colonistas” do grupo Globo) em dar pitacos nas estratégias de comunicação do Governo. Por que agora a mídia hegemônica se arvora em querer dar assessoria a Lula em Marketing e Comunicação?

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Last Update: 28/12/2024