Na última semana, intensas chuvas que atingiram Alagoas no sábado (17) e domingo (18) causaram a suspensão do abastecimento de água em 12 cidades do estado, conforme informou a Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal). Os municípios afetados incluem Porto de Pedras, Colônia Leopoldina, Passo de Camaragibe, Ibateguara, Anadia, Jacuípe, Capela, Joaquim Gomes, Matriz de Camaragibe, Murici, Messias e Rio Largo. A interrupção, que afetou milhares de moradores, expôs a fragilidade da infraestrutura de saneamento básico no estado, resultado da falta de manutenção adequada e da influência de interesses privados na gestão da companhia.
O mais grave caso foi registrado em Porto de Pedras, onde a Estação de Tratamento de Água (ETA) teve suas operações paralisadas desde as 7h30 de sábado devido à interrupção no fornecimento de energia elétrica. A Casal acionou a Equatorial, concessionária responsável pela distribuição de energia, mas até o último domingo (18) não havia previsão para o restabelecimento do serviço.
Em cidades como Colônia Leopoldina, Passo de Camaragibe, Ibateguara e Anadia, as chuvas elevaram a turbidez da água bruta nos mananciais, comprometendo o processo de tratamento e forçando a suspensão temporária da captação. Já em Jacuípe, Capela, Joaquim Gomes e Matriz de Camaragibe, detritos e materiais sólidos arrastados pelas chuvas obstruíram os conjuntos motobombas, gerando falhas mecânicas que interromperam o abastecimento.
Os sistemas de abastecimento Mata do Rolo (Rio Largo), Cachoeira (Murici) e Osório (Messias) também foram impactados. O aumento da turbidez nos mananciais dessas regiões dificultou o tratamento da água, resultando em deficiências no fornecimento.
A Casal informou que, após o tratamento, a água é entregue à concessionária Verde Alagoas, responsável pela distribuição nos municípios afetados. A companhia afirmou estar trabalhando para resolver as falhas com rapidez e pediu a compreensão da população, mas não forneceu prazos concretos para a normalização do serviço.
O problema, no entanto, vai além das chuvas. A falta de manutenção preventiva na infraestrutura de saneamento básico é o principal fator por trás das recorrentes interrupções no abastecimento.
Estações de tratamento e sistemas de captação, como os afetados em Porto de Pedras e outras cidades, sofrem com equipamentos obsoletos e redes de distribuição mal conservadas.
Relatórios da própria Casal, disponíveis em seu site oficial até outubro de 2024, apontam que 40% das estruturas de captação no estado operam com tecnologia defasada, incapaz de suportar variações climáticas extremas, como as chuvas recentes. Além disso, a ausência de investimentos, agravando a vulnerabilidade do sistema.
A Casal não é 100% estatal, o que a submete a pressões de acionistas privados focados em maximizar lucros em detrimento da qualidade do serviço. A Verde Alagoas, parceira na distribuição, também opera sob influência de capitalistas, priorizando áreas mais rentáveis e deixando regiões periféricas com atendimento precário.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2023, mostram que 22% dos domicílios alagoanos não têm acesso regular à água potável. Iniciada na década de 1990, a privatização parcial da Casal reduziu os investimentos em infraestrutura, enquanto os lucros são direcionados a acionistas em vez de serem reinvestidos no sistema.
A suspensão do abastecimento em Alagoas após as chuvas de maio de 2025 não é um evento isolado, mas um sintoma de um problema recorrente. A única solução duradoura é a transformação da Casal em uma empresa 100% estatal, livre das amarras do lucro privado, com foco exclusivo no atendimento das necessidades da população e na modernização da infraestrutura de saneamento.