Luís Eduardo iniciou a faculdade de História em São Paulo, mas se mudou para Moscou, na Rússia, para concluir a graduação. Ficou por lá e se especializou em História da União Soviética. César é cearense, mora no Recife e é formado em Biblioteconomia. Os dois se conheceram em São Paulo, em eventos políticos. E sempre tiveram algo em comum: o gosto por viagens e a paixão pelo marxismo. Após uma tentativa frustrada de visitar o Irã, em 2022, Guimarães mudou a rota e combinou um encontro na Geórgia com o amigo que estava em Moscou. Eduardo, assentado há mais de dez anos no Leste Europeu, trabalha como guia de turismo e conhece bem a região. Depois de 15 dias entre a Geórgia e a Armênia, surgiu a ideia: por que não criar uma agência de viagens focada em destinos que fizeram parte do bloco socialista ou que possuem alguma ligação com a esquerda? Nascia assim a Estrela Vermelha, especializada em roteiros socialistas.
Os pacotes da Estrela Vermelha permitem aos viajantes explorar a história do socialismo em diversos países. As viagens incluem guias em português e são planejadas para grupos de até 15 clientes. “Nosso objetivo é proporcionar uma experiência enriquecedora para os viajantes. Abraçamos a cultura e a descoberta como pilares fundamentais, permitindo que os nossos clientes explorem os destinos”, afirmou Eduardo, direto do Azerbaijão. A agência funciona de forma online e fornece consultoria completa sobre os roteiros oferecidos. Os circuitos são direcionados a simpatizantes do socialismo e a quem tenha um pensamento de esquerda, de forma geral, e os pacotes incluem hospedagem, transporte e entrada para museus e pontos turísticos. Um dos mais procurados é a expedição de 25 dias pela Rota Transiberiana, que cruza a Rússia, de Moscou a Vladivostok, na Sibéria, ao longo de mais de 9 mil quilômetros e sete fusos horários. Eduardo fez o roteiro três vezes e será o guia de um grupo de mais de 15 brasileiros em setembro. “Este já está lotado, fechamos um vagão inteiro só com turistas nossos.”
Com sua experiência de guia de turismo na Rússia, Eduardo viu a demanda crescente por roteiros que explorassem a história da União Soviética e de outros países socialistas. “Há uma curiosidade muito grande por parte dos turistas em relação a esse período, e essa demanda era pouco atendida, até mesmo pelos russos”, comenta. Sobre o negócio, os sócios esperam um crescimento orgânico ao longo dos próximos anos, enquanto ganham terreno e visibilidade nesse mercado.
A primeira rota da Estrela Vermelha passou pela Geórgia e Armênia, a mesma na qual os amigos amadureceram a ideia da agência. A viagem incluiu visita ao Museu de Stalin, em Gori, cidade natal do ditador soviético, e incursões às regiões vinícolas da Geórgia. “Lá é um dos berços da vinicultura mundial, existem registros de mais de 8 mil anos de cultivo de uvas e produção de vinhos”, explica Eduardo. A agência também oferece pacotes para destinos como Alemanha, na parte oriental, Cuba, Rússia e China, com visitas a locais históricos da Revolução Chinesa e atrações como a Casa de Mao Tsé-tung e o Parque Nacional de Zhangjiajie. A Estrela Vermelha planeja ainda pacotes para o Vietnã e a Coreia do Norte, na expectativa de que seja a primeira agência brasileira a operar nesse país. “Estamos em contato com a agência local coreana e, assim que reabrirem totalmente para o turismo, iniciaremos as operações”, adianta Eduardo.
“Há uma curiosidade muito grande por parte dos turistas em relação a esse período”, diz Eduardo, um dos sócios
Os pacotes da Estrela Vermelha são planejados com detalhes, da hospedagem em hotéis de 3 a 5 estrelas e à inclusão de especialistas que enriquecem a experiência dos viajantes. No roteiro para o Irã, em outubro deste ano, o professor e influenciador digital Jones Manoel será o convidado especial, proporcionando uma visão aprofundada sobre a história e a conjuntura política do país.
Desde seu primeiro destino, a agência realizou diversas viagens para cinco países em três continentes, levando viajantes para visitar 42 cidades e 13 patrimônios universais reconhecidos pela Unesco. Os sócios também têm o cuidado de elaborar o roteiro em ocasiões especiais. A viagem para Cuba, em janeiro de 2025, vai coincidir com o aniversário de José Martí, intelectual e um dos heróis da independência do país. Para a Rússia, eles aproveitam o mês de maio, quando é celebrado o dia da vitória do Exército Vermelho contra os nazistas em 1945.
Para evitar os efeitos da flutuação cambial, os sócios estabeleceram os preços dos pacotes em euros, pois a maioria das operações e contratações de serviços é feita fora do Brasil. O próximo roteiro do grupo, neste mês, para Armênia e Geórgia, custa 1.799 euros (cerca de 10 mil reais), dura 17 dias e inclui hospedagem e traslados. O trajeto em agosto, para Rússia e Bielorrússia, sairá por 2.299 euros (cerca de 13 mil reais) durante 17 dias e 16 noites. No caso do Irã, em outubro, os 15 dias custam 2.359 euros por cabeça e, na China, em novembro, 2.699 euros para 15 dias na terra de Mao. Viajar por 25 dias pela Transiberiana custa 2.799 euros, e o mais popular destino, Cuba, 1.699 euros por 12 dias na ilha. As viagens podem ser parceladas em até seis vezes sem juros.
A Estrela Vermelha não se responsabiliza pelas passagens aéreas ou pelo seguro viagem, mas recomenda as boas companhias e os melhores voos. Também oferece orientação para obtenção de vistos, traslados internos e guias de viagem. Segundo os fundadores, a agência busca consolidar-se como uma referência no turismo alternativo, focado na exploração histórica e política de destinos que foram parte do bloco socialista. Com quase um ano de operação, conquistou um público fiel e crescente, com muitos clientes em busca de novos roteiros. •
Publicado na edição n° 1320 de CartaCapital, em 24 de julho de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Destinos camaradas’