Há quatro anos, quando apoiadores trumpistas de Donald Trump revoltados com a vitória eleitoral de Joe Biden invadiram o CapitólioMark Zuckerberg, presidente da Meta, chamou o episódio de “chocante” e disse que o então presidente em fim de mandato usou a plataforma “para incitar a insurreição violenta contra um governo democraticamente eleito”. Uma postura bem diferente da adotada neste início de 2025.

Em 7 de Janeiro de 2021, dia seguinte ao atentado, Zuckerberg baniu os perfis de Trump das redes sociais de sua propriedade, Facebook e Instagram, sob a justificativa de que o republicano usava as plataformas para “perdoar em vez de condenar as ações dos seus apoiadores no edifício do Capitólio”, o que, segundo o entendimento de Zuckerberg, “deixou perplexas, com razão, as pessoas nos EUA e em todo o mundo”.

Exatos quatro anos mais tarde – em 7 de Janeiro de 2025 –, a postura de Zuckerberg em relação a Trump, que voltará à Casa Branca em 20 de janeiro, é bem diferente. “Vamos trabalhar com o presidente Trump para resistir a governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas norte-americanas e pressionando por mais censura”, disse, ao anunciar mudanças nas regras de moderação de conteúdo de suas redes

Das críticas aos elogios

A chegada de Trump para um segundo mandato foi, também, a senha para Zuckerberg mudar de postura. Ele deixou de lado as críticas e, na última terça-feira 7, unindo-se ao discurso de Trump, decidiu encerrar o seu programa de fact-checking (um sistema de verificação digital de informações).

Até então o grupo Meta não adotava uma postura tão abertamente contrária aos sistemas de checagem, como o faz um de seus principais concorrentes, o X, de propriedade de Elon Musk. Para Zuckerberg, porém, “os verificadores de fatos têm sido muito parciais politicamente e destruíram mais confiança do que construíram, especialmente nos Estados Unidos”.

“Depois da eleição da primeira eleição de Trump, em 2016, a mídia tradicional escreveu sem parar sobre como fake news eram uma ameaça para a democracia. Tentamos de boa-fé endereçar essas preocupações, sem nos tornamos árbitros da verdade. Mas os checadores de fatos são muito enviesados politicamente e destruíram mais a confiança [das pessoas] do que a criaram, especialmente nos EUA”, prosseguiu o dono da Meta.

Ao adotar um modelo já usado pelo X de Musk, Zuckerberg também deu a entender que países da América Latina teriam “tribunais secretos” que determinam que empresas tirem conteúdos das plataformas, no que parece ter sido um recado ao Supremo Tribunal Federal do Brasil.

As críticas também foram direcionadas à Europa, região que, segundo o empresário, “tem cada vez mais leis que institucionalizam a censura”, sem indicar o que o levou a fazer tal afirmação.

Os riscos

Logo após o anúncio das mudanças no Facebook e no Instagram, especialistas do mundo inteiro passaram a alertar para os riscos democráticos do fim da checagem independente nas plataformas da Meta.

Em conversa com CartaCapital, Marcio Moretto, professor da Universidade de São Paulo e coordenador do projeto Monitor do Debate Político no Meio Digital, explicou que a medida é potencialmente perigosa, pois deverá contribuir para o relaxamento no controle das notícias falsas. Na prática, serve como uma sinalização à extrema-direita.

Internamente, o anúncio de Zuckerberg acontece em meio à chegada de um poderoso nome trumpista à Meta: o empresário Dana White, presidente da Ultimate Fighting Championship (UCF), amigo de longa data e apoiador do republicano, que fará parte do conselho administrativo do grupo.

Esse “sinal dos tempos” não é apenas retórico, mas um movimento político. Há quatro anos, Zuckerberg apontava a gravidade da postura de Trump que levou à invasão do Capitólio, dizendo que permitia que o republicano usasse a sua plataforma de acordo com as suas próprias regras, “por vezes removendo conteúdos ou rotulando as suas publicações” quando violavam as suas políticas.

Agora, não mais. Sob a justificativa da necessidade de “restaurar a liberdade de expressão”, conforme mencionou, Zuckerberg pretende “acabar com a escalada de censura” em um alinhamento aberto com Trump, visando, segundo ele, “pressionar os governos ao redor do mundo que estão impondo mais censura às plataformas”.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 08/01/2025