Aos poucos, lentamente, vai sendo formado um consenso pragmático entre os economistas, para amenizar a armadilha da Teoria do Equilíbrio Geral Estocástico à brasileira.

A armadilha foi descrita ontem no artigo “Economistas do Brasil: o país conta com vocês”.

  1. A economia fica entre dois garrotes: metas inflacionárias extremamente rígidas e superávit fiscal.
  2. Há um terrorismo explícito contra a “gastança”, o “rombo” das contas e outros adjetivos mais propícios a páginas policiais do que econômicas.
  3. Bastam as expectativas de inflação saírem um pouco do limite máximo para ampliar o terrorismo, desaguando na grita geral por aumento na taxa Selic.
  4. O aumento da taxa Selic, por sua vez, inviabiliza qualquer tentativa de ajuste fiscal, em função do peso da dívida no déficit nominal e na relação dívida/PIB.

Há dois caminhos para atenuar essa caminhada para o abismo.

Um deles foi proposto ontem pelo economista Bráulio Borges, no Blog do IBRE: recorrer às chamadas medidas macroprudenciais.

É uma lógica objetiva. Todo o processo de inflação recai na conta de juros. É o único instrumento para manter a inflação na meta e suavizar os ciclos econômicos. Mas, obviamente, há num desarranjo fenomenal no modelo brasileiro. Enquanto a maioria dos países tem taxa real de juros de um ou dois pontos, algumas vezes negativa, no Brasil supera 8 pontos. O que Bráulio sugere são outras medidas para segurar a inflação, reduzindo o peso dos juros. São medidas óbvias, já defendidas aqui no Jornal GGN.

O primeiro passo é a política monetária se basear nas projeções de inflação da própria autoridade monetária, em vez de se sujeitar ao que ele denomina de “desvios de expectativas do mercado para a inflação”.

O segundo passo é se valer mais de outros instrumentos de política monetária que impactam a demanda agregada. Uma delas é o chamado “colchão de capital anticíclico”, que corresponde a uma exigência de capital das instituições financeiras, em momentos em que a expansão do crédito é muito forte. “Esse colchão corresponde a um dos aprimoramentos introduzidos no âmbito de Basileia III, sendo conhecido, em inglês, como “Countercyclical Capital Buffer” ou “CCyB”, explica ele. Funciona como uma espécie de estabilizador automático dos ciclos econômicos.

Segundo levantamento do BIS (o Banco Central dos Bancos Centrais) esse instrumento existe desde 2015 no Brasil, mas nunca foi acionado. Segundo o próprio BC, o chamado “hiato de crédito” está se abrindo, mas não se sabe a razão do BC não ter acionado seu mecanismo.

Sem essas ferramentas, fica-se nas mãos da taxa Selic, cuja capacidade de desinflacionar a economia brasileira caiu na última década, conforme demonstrou o economista Demian Fiocca. Exige-se uma taxa muito maior, com impactos negativos nas contas públicas.

Bráulio concorda com a tese de Demian, de que o teto da meta é excessivamente baixo para o caso brasileiro,obrigando a uma elevação da taxa Selic a ponto de evar a uma situação de “dominância fiscal” – situação em que a dívida torna-se tão grande que o serviço da dívida inviabilizaria qualquer tentativa de política monetária.

Kassab e Haddad

O Secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo, Gilberto Kassab, é a versão mais completa do que se entende por “raposa” política. Sua crítica ao Ministro da Fazenda Fernando Haddad – ontem, em um evento de mercado -, tem como único objetivo enfraquecer um adversário em potencial do seu candidato, o governador Tarcísio de Freitas.

A maneira de Lula preservar uma das poucas alternativas do PT para 2026 é colocar Haddad na coordenação das políticas de desenvolvimento do seu governo, em vez de deixá-lo preso ao saco de maldades da política fiscal.

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Last Update: 30/01/2025