As reuniões de primavera realizadas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) tiveram um objetivo em comum: como lidar com os Estados Unidos em meio ao segundo mandato de Donald Trump.

“Criados para defender as regras globais e apoiar o desenvolvimento, eles agora estão presos entre uma América agressivamente nacionalista – seu maior acionista – e o resto do mundo”, explica Ngaire Woods, reitora da Escola de Governo Blavatnik da Universidade de Oxford.

Em artigo publicado no Project Syndicate, ela explica que, se os líderes de tais instituições disserem a verdade aos poderosos, correm o risco de se colocarem como alvo da ira de Trump e, se não o fizerem, sua legitimidade estará em jogo.

Esse desafio ficou evidente nas reuniões realizadas na semana passada: no caso do FMI, um de seus objetivos é zelar pelas taxas de câmbio e políticas dos países que afetam a estabilidade financeira global, e isso envolve “chamar a atenção” daqueles que podem empobrecer seus vizinhos com suas ações.

Antes da reunião, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, respondeu ao comportamento imprevisível do governo Trump reconhecendo a incerteza “fora dos padrões”, por conta da imposição de tarifas pelos EUA, reiterando a necessidade de independência dos bancos centrais e instando os países a evitarem “danos autoinfligidos”.

No caso do Banco Mundial, seu foco é reduzir a pobreza e impulsionar o desenvolvimento – e, por décadas, apoiou esforços e investimentos para tirar pessoas da pobreza. Porém, a decisão de Trump em desmantelar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) dizimou programas que possibilitavam o trabalho do Banco.

“A forma como o FMI e o Banco Mundial abordarão o governo Trump determinará sua eficácia”, diz a articulista, ressaltando que os primeiros 100 dias do segundo mandato de Trump oferecem insights sobre a estratégia que devem seguir.

Vale lembrar que FMI e Banco Mundial foram citados no projeto conservador Project 2025, publicado pela Heritage Foundation, e inclusos na revisão de 180 dias do envolvimento dos EUA em organizações internacionais.

“É verdade que a equipe que supervisionava a revisão foi demitida, desorganizando o processo – mas isso pode não ser um obstáculo, dada a propensão do governo a agir sem moderação”, destaca Ngaire Woods.

“À medida que os chefes do FMI e do Banco Mundial conduzem essas instituições para o futuro, eles precisam encontrar um equilíbrio delicado entre confrontar e ceder à Casa Branca. Mas permanecer do lado bom de Trump não é suficiente para prosseguir com suas missões: eles também devem estar atentos ao mundo dentro e fora dos Estados Unidos”, pontua a economista.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 29/04/2025