Um jovem brasileiro associado ao grupo terrorista Estado Islâmico utilizou grupos online para recrutar quatro adolescentes de cidades no interior do Rio de Janeiro e São Paulo entre 2022 e 2023. Pelo menos dois desses menores de 18 anos já estavam em um estágio avançado de radicalização, conforme informações do Metrópoles.
Conhecido nas redes como Ahmed al-Brazili, Luís Carlos da Silva Oliveira, de 20 anos, foi preso no ano passado enquanto tentava chegar à África, onde se uniria aos terroristas. Em maio deste ano, ele foi condenado a 7 anos de prisão por terrorismo e corrupção de menores.
Mensagens no aplicativo Telegram revelaram planos de atentados terroristas no Brasil, instruções para fabricar bombas caseiras, discursos religiosos extremistas e o compartilhamento de vídeos extremamente violentos.
Os investigadores da Polícia Federal descobriram essa célula do ISIS no Brasil em 2022, após receberem um alerta do serviço de inteligência do Marrocos.
A embaixada brasileira no Marrocos foi informada sobre uma conversa interceptada de Ahmed al-Brazili que mencionava um possível ataque a uma igreja católica em Barbacena (MG). Luís Carlos vivia na cidade com sua avó.
FBI
A situação se tornou ainda mais grave quando o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, entrou em contato com os investigadores brasileiros. Um vídeo no pCloud, serviço de armazenamento criptografado, mostrava Luís Carlos encapuzado e com o rosto coberto, respondendo a um questionário do grupo terrorista.
“Eu tenho apoiadores para os quais eu tenho explicado por quais razões o califado é verdade, porque ele está do lado certo”, diz o encapuzado na gravação em inglês. O “califado” a que ele se refere é um sistema de governo religioso defendido pelo ISIS.
Na gravação, Luís Carlos também afirma que tem traduzido documentos da organização terrorista. Ele aprendeu árabe e inglês por conta própria pela internet. Atualmente, o Estado Islâmico opera no norte de Moçambique, onde o português é a língua oficial.
“Um chamamento aos irmãos falantes do português, irmãos de países como: Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique. Eu tenho visto muitos irmãos apoiadores e quero ser um recrutador deles”, declarou ainda o jovem.
Doutrinação e radicalização
Conversas no Telegram revelam como os adolescentes eram doutrinados e radicalizados. Luís Carlos selecionava jovens em grupos de estudo do Alcorão e os convidava para um grupo mais restrito.
Esse grupo restrito tinha nomes como “Clube do Xadrez” e “Estudos de Geopolítica” para disfarçar seu verdadeiro conteúdo. Nas mensagens identificadas pela PF discutiam-se atentados terroristas no Brasil.
“Meu sonho era explodir o consulado israelense aqui. O foda é que não tem uma base sólida de salafis brasileiros. Então não ia servir de nada. Colocar uma mochila com uns 10kg de explosivo no portão”, escreveu um dos adolescentes cooptados para Luís Carlos em março de 2022.
Alguns dias após receber a ideia de um atentado contra o consulado, Luís Carlos enviou um documento com instruções para fabricar bombas ao adolescente. Ambos expressaram interesse em se unir ao ISIS em Moçambique no Telegram.
Segundo a investigação da PF, Luís Carlos orientou dois adolescentes, codinomes Hassan e Shams, a realizar um ataque terrorista contra uma representação dos Estados Unidos no Brasil, caso ele fosse impedido de deixar o país ou preso ao tentar se juntar ao ISIS.
Quando foi preso no Aeroporto de Guarulhos em 11 de junho do ano passado, Luís Carlos pediu para fazer uma ligação e entrou em contato com um desses adolescentes. A Polícia Federal acredita que a intenção era executar o plano.
Vale destacar que o recrutamento de jovens pelo Estado Islâmico não é exclusivo do Brasil. Um estudo do sociólogo franco-iraniano Farhad Khosrokhavar estimou que 67% dos militantes que se juntaram ao ISIS na Síria e no Iraque entre 2012 e 2015 tinham entre 14 e 25 anos.