Donald Trump iniciou seu segundo mandato presidencial nos Estados Unidos com um bombardeio de ordens executivas, decretos, afirmações incendiárias, ameaças econômicas e militares e uma declaração de guerra aos que ele considera seus inimigos internos. Não à toa, dada a quantidade de anúncios do republicano, o governo parece ter muito mais do que 21 dias de vida.
A estratégia é o que Steve Bannon, guru de Trump em sua ascensão política e hoje um influente analista na extrema-direita norte-americana, chamou em 2019 de “inundar a área”.
Questionado pelo site Semafor se é essa a tática que Trump aplica em sua nova gestão, Bannon foi taxativo: “É claro. Funcionou. A imprensa está em colapso”.
Em seu podcast, intitulado War Room (Sala de Guerra, em tradução livre), ele se refere a este momento como “Dias de Trovão” e ilustra o “derretimento” da mídia a partir do caso da MSNBC, uma emissora a cabo que pertence ao grupo NBC e que apresenta uma inclinação liberal — designação que nos Estados Unidos a contrapõe à extrema-direita.
Ao Semafor, Bannon exemplificou como o modus operandi de Trump funciona. Escolhido como principal autoridade da Saúde, Robert F. Kennedy Jr., de passado e presente repletos de negacionismo, passava por dificuldades durante sua sabatina no Senado.
Trump, então, assistiu à primeira hora, notou as dificuldades e tomou a decisão de conceder uma entrevista coletiva. “Ele lançou algo e todo mundo mordeu a isca”, resume Bannon, uma estrela do movimento Faça a América Grande de Novo (MAGA, na sigla em inglês)
Entre outras “iscas”, o presidente voltou a fazer alegações infundadas sobre o acidente aéreo envolvendo um avião e um helicóptero militar em Washington. Chegou, por exemplo, a culpar programas de diversidade pela tragédia.
Segundo Bannon, Trump entende que o meio é a mensagem, uma expressão cunhada por Marshall McLuhan em 1964 ao tratar da formação das consciências nas sociedades de massa em que a informação é comandada pelos meios de comunicação.
Há quem diga que a estratégia de “inundação” de Trump não seria exatamente um sinal de força, mas uma tentativa de mascarar um governo frágil e um apoio popular insuficiente.
Steve Bannon, por sua vez, enfatiza que o presidente conseguiu provocar “escala, profundidade e urgência”, com uma equipe capaz de mover as correntes da política. A “inundação”, avalia, não é formada somente por barulho, mas eventualmente “você tem de ter alguma besteira”.
Trump venceu a disputa presidencial de 2024 ao derrotar a democrata Kamala Harris por 312 a 226 votos no Colégio Eleitoral. No voto popular, porém, a diferença foi muito menor: 49,8% a 48,3%, embora esta seja a primeira vitória do republicano também no voto popular.