O grande desafio de Guilherme Boulos na corrida eleitoral para a prefeitura de São Paulo é conquistar a confiança dos evangélicos sem perder sua autenticidade. Com apenas 9% de apoio entre o grupo, a campanha do candidato do PSOL enfrenta um obstáculo considerável. De acordo com dados do IBGE, São Paulo é o estado brasileiro com o maior número de templos religiosos, com mais de 80 mil estabelecimentos registrados. Estima-se que quase 30% dos eleitores da capital sejam evangélicos.
No primeiro cenário estimulado da pesquisa, os números revelam Ricardo Nunes (MDB) com 22%, Guilherme Boulos (PSOL) com 21%, Datena (PSDB) com 17%, Pablo Marçal (PRTB) com 10%, Tabata Amaral (PSB) com 6%, Marina Helena (NOVO) com 4%, e Kim Kataguiri (UNIÃO) com 3%. O cenário de acirramento no panorama geral aparecem mesmo na pesquisa Real Time Big Data divulgada em 1º de julho. Boulos (29%) e Nunes (28%) aparecem empatados na disputa com o candidato do PSOL numericamente à frente.
Estes fiéis, que representam quase um terço do eleitorado paulistano, são fundamentais para qualquer candidato que aspire a vencer as eleições. Sem conquistar uma fatia significativa desse eleitorado, Boulos corre o risco de ver sua campanha definhar. Em que pese teologicamente serem diversos, discordantes entre si e sem uma grande liderança que congregue seus interesses doutrinários, quando o assunto é política a coisa muda de figura: são um bloco coeso e influente, cujas decisões são frequentemente guiadas por líderes religiosos que têm grande poder sobre suas congregações.
Para conquistar a confiança dos evangélicos, Boulos não precisa negar sua identidade. Em vez disso, é preciso calibrar o discurso para lembrar aos fiéis os valores centrais que eles já conhecem tão bem. A falta de penetração de Boulos no segmento surge da percepção distorcida de existir uma desconexão entre suas propostas progressistas e as preocupações e valores dos evangélicos. Para reverter esse quadro, ele precisa de uma estratégia que vá além das promessas genéricas e se aprofunde nas questões que realmente importam para este grupo: segurança e educação.
A armadilha dessa estratégia, contudo, reside na busca do apoio das grandes denominações abertamente bolsonaristas. Não vale a pena investir no contato com lideranças que já estão fechadas com o bolsonarismo, ou mesmo tentar alcançar os fiéis através delas. É preciso redirecionar esforços para grupos mais independentes, ainda não totalmente envenenados pelo bolsonarismo.
Matematicamente, Boulos não precisa liderar entre os evangélicos para garantir a eleição. Mas também não pode patinar. Os grupos mais abertos ao diálogo podem ajudar a fechar a conta. Entretanto, ainda falta à campanha uma narrativa que autenticamente dialogue com as preocupações reais dessas comunidades, mostrando que as propostas psolistas não antagonizam contra os valores cristãos, e sim buscam o bem das comunidades onde vivem estes fieis. Ao buscar lideranças locais e influenciadores evangélicos não atrelados ao bolsonarismo, é possível começar a desmontar a resistência e ganhar o apoio necessário para transformar a campanha em uma força viável.