No sábado (20), foi realizada a última aula do curso Lênin e a Revolução Russa, da 51ª Universidade de Férias do Partido da Causa Operária (PCO), no Acampamento de Férias da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR). O curso foi ministrado por Rui Costa Pimenta, o presidente nacional do PCO, que é uma das pessoas com maior conhecimento de marxismo no mundo, sendo não apenas um estudioso, como um dirigente revolucionário, na luta pela construção de um partido revolucionário no Brasil há mais de 40 anos.

A aula anterior tratou do período do golpe de Estado de Kornilov, enquanto esta última se dedica a discutir a etapa da insurreição, tanto a política para a sua preparação quanto para a sua própria realização. O primeiro texto da exposição é Sobre os Compromissos, que traz uma importante discussão sobre a questão dos compromissos entre um partido revolucionário e os outros partidos. Rui Costa Pimenta introduz:

“Esse texto foi escrito depois do golpe de estado, onde Lênin reorienta a política do partido Bolchevique diante da situação que se criou depois do golpe de estado. Ele explica de maneira mais detalhada sobre o problema dos compromissos na política e sobre como levar as massas a insurreição.”

Após ler o texto em conjunto, que faz uma retrospectiva dos grandes episódios da Revolução desde fevereiro até o momento posterior à tentativa de golpe do general Kornilov, o dirigente do PCO discute o documento. O tema dos compromissos havia sido mencionado por Pimenta em aulas anteriores do curso, diante da importância de lidar com as ilusões das massas em partidos que não são capazes de levar adiante as reivindicações da classe operária.

“Depois do golpe, a burguesia estando derrotada, porque a resistência ao golpe e a derrota do golpe foi uma derrota do conjunto da burguesia, o governo dos socialistas-revolucionários e mencheviques ficou sem base na burguesia. Então Lenin propõe a palavra de ordem de ‘todo poder aos sovietes’. É o que ele havia dito no começo da Revolução: que os partidos da esquerda pequeno-burguesa assumam o governo, façam um governo responsável perante os sovietes e isso asseguraria a evolução pacífica da revolução. Seria pacífica porque a luta política se daria no interior dos sovietes. […] O governo Kerenski não aceita esse compromisso e, portanto, a campanha em torno dessa política vai esgotar completamente as ilusões das massas e preparar a tomada do poder em outubro.”

Pimenta destaca um ponto importante que costuma gerar confusão quando o assunto é compromissos na política. Ele esclarece que, na medida em que fazer compromissos é uma necessidade e uma inevitabilidade da luta política, é preciso ter bem compreendido o programa revolucionário para saber fazê-los.

“Compromissos são uma parte inevitável da política. Como ele diz: ‘a grande questão dos compromissos é fazer um compromisso sem violentar os princípios revolucionários.’ […] Um oportunista, em geral, está disposto a fazer qualquer compromisso por um ganho imediato, sacrificando tudo. É o estilo do Lula, que chama os militares para o ministério da defesa, chama o Jean Paul Prates, que é ligado as petroleiras, para assumir a Petrobras. [Por outro lado], nós vamos encontrar várias organizações imaturas que não estão dispostas a fazer nenhum tipo de compromisso. Portanto, como os compromissos são necessários para avançar em uma série de situações, elas caem numa completa paralisia política.”

O dirigente do PCO conclui, neste ponto, sintetizando a política de Lênin para esse período de preparação para a insurreição:

“O partido bolchevique, ao invés de lançar imediatamente a política de tomada do poder, propõe um compromisso.”

Após a primeira exposição da aula, abriu-se um debate sobre os temas do curso. O debate, como costuma acontecer nos cursos realizados pelo PCO, ingressou nos problemas da luta política atual, de interesse imediato dos militantes do Partido para atuar nessa luta. Discutiu-se a questão do golpe de Estado de 2016, da frente popular francesa, da luta por libertação na Palestina, entre outras questões fundamentais da luta de classes atualmente. Além disso, também houve perguntas mais conceituais, importantes para a compreensão geral do conteúdo.

A segunda parte da última aula tratou do texto O Marxismo e a Insurreição, que foi escrito como uma carta ao Comitê Central do POSDR (Partido Operário Social Democrata Russo). O texto começa desfazendo uma confusão sobre a insurreição, que era frequentemente acusada de blanquismo pelos setores oportunistas. Pimenta explica o que é o blanquismo.

“O Blanqui viveu uma época muito revolucionária, ele viveu duas revoluções e um monte de tumultos revolucionários, e ele era um especialista dessas insurreições. Mas ele não prestava atenção às condições políticas, ele achava que a situação era sempre favoravel a uma insurreição. Ele mobiliza os operários e tenta ocupar o parlamento na revolucao de 1948 e fica preso até a comuna de paris. Então blanquismo se tornou sinônimo de uma política insurreicional que não leva em conta as condições políticas.”

Desfeita a confusão, o dirigente do PCO segue lendo o texto e o explicando sinteticamente, de acordo com o programa do Partido. Ele fala sobre as condições desfavoráveis, quando não se deve lançar uma insurreição.

“Para nós, a insurreição tem que ser um movimento culminante da classe operária. Insurreição quando não tem ascenso revolucionário é uma loucura. Foi o que as organizações da luta armada na época da ditadura militar fizeram. Lançaram uma insurreição num período de refluxo da classe operária. […] Um problema da insurreição que Marx criticou na comuna de Paris é que ela não pode ficar isolada em uma só cidade porque o país inteiro não está maduro para a insurreição. Marx diz que a comuna de Paris era um ‘assalto aos céus’. Ele queria dizer que tentaram realizar uma atividade impossível. Paris estava madura para insurreição, tanto que ela foi vitoriosa em Paris, mas o restante do país não.”

Logicamente, ele segue para o caso onde as condições estão maduras para a insurreição. Fundamentalmente, o ponto de Lênin com o texto desta aula era mostrar essas condições. Pimenta sintetiza os principais pontos:

“A insurreição deve ser lançada quando o inimigo está atordoado. […] Em julho a burguesia estava unificada, [já em setembro] os mencheviques não estavam aptos a manter uma aliança com a burguesia. […] O golpe [de Kornilov] gera no interior da classe operária um ódio contra a esquerda pequeno-burguesa. […] O Chernove era ministro da agricultura do governo provisório, do partido socialista-revolucionário. Com a saída dele, ficava claro que o governo estava indo à direita.”

O dirigente do PCO também adverte sobre o risco de se perder o momento correto para a insurreição, remetendo a luta política que Lênin precisou travar no Comitê Central do Partido para determinar a necessidade de a realizar naquele momento específico.

“Um problema da insurreição, muito importante, é o seguinte: se você não souber aproveitar o momento certo e ele passar, a situação vai ficar complicada. Isso aconteceu mais de uma vez na história. […] Quando Lenin coloca o problema da insurreição, a direção do Partido Bolchevique toda acha que não dá para fazer. Então ele tem que primeiro convencer a direção do Partido e finalmente ele consegue um acordo. Trótski propunha que a insurreição fosse feita a partir do Congresso Nacional dos Sovietes, mas Lênin fala ‘não, você vai ao congresso e propõe a insurreição, vai dar muita confusão.”

Lênin propôs iniciar a insurreição antes do Congresso e, dessa forma, conseguiu aprovação da maioria absoluta. Pimenta segue expondo mais detalhes da insurreição propriamente dita, do momento da operação.

“A insurreição é conhecida pelo nome de Revolução de Outubro ou Segunda Revolução, a revolução propriamente dita, a tomada do poder pela classe operária. Ela foi relativamente pacífica, não teve grandes enfrentamentos militares. O inimigo estava em um momento de confusão, a classe operária estava toda apoiando a revolução. Na maioria dos quartéis militares a insurreição se resume aos agitadores Bolcheviques colocando em votação a aprovação da insurreição e os militares aprovam. O único lugar que tem um enfrentamento maior é a escola de cadetes, dos oficiais. E eles tomam o palácio do governo, o Palácio de Inverno, que ficou como símbolo da insurreição. Prendem a maioria do governo.”

O presidente do PCO assinala uma conhecida curiosidade dos últimos momentos da operação insurrecional.

“O pessoal cerca o palácio, mas fica hesitante em invadir o palácio. O Governo Kerenski, que era um governo identitário antes do identitarismo, coloca para defender o palácio uma tropa feminina. Então eles [os insurretos] ficam tentando convencer as mulheres a sair da frente para tomarem o palácio. Fica aquele impasse.”

Por fim, sobre essa cena da Revolução, Pimenta mencionou o último lance da operação.

“Os fundos do palácio dão para o rio. Então um marinheiro mobiliza um cruzador e dá um ultimato: ‘ou vocês saem daí, ou nós vamos disparar contra o palácio’. Eles disparam várias cargas de festim, imagina o barulho de um navio de guerra disparando. Aí a defesa do palácio se entrega.”

Após falar sobre a tomada do Palácio de Inverno, que marca a vitória da insurreição, Rui Costa Pimenta avança para os momentos imediatamente posteriores.

“No dia seguinte tem o Congresso [dos Sovietes] e o primeiro decreto que Lênin aprova é o decreto sobre a terra. Ele sabia que precisava consolidar o apoio dos camponeses à Revolução. Eles vão nacionalizar a terra, dar a terra para os camponeses explorarem, etc.”

Chegando ao final da última aula do curso, o presidente do PCO faz um apanhado da importância fundamental da atividade realizada por seu Partido.

“A Revolução Russa é o ponto fundamental de toda política revolucionária. E como nós dissemos na primeira exposição, não se pode falar de

Categorizado em:

Governo Lula,

Última Atualização: 21/07/2024