O ex-presidente Jair Bolsonaro mandando áudio. Foto: reprodução

A perícia forense computacional tornou-se peça crucial nas investigações da Polícia Federal, como no inquérito sobre a tentativa de golpe envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As conversas do réu com familiares e aliados, reveladas no inquérito da PF, chamaram atenção para um detalhe técnico que costuma passar despercebido: o trabalho dos peritos digitais.

São esses especialistas que conseguem recuperar arquivos, mesmo depois de apagados, e transformar celulares, computadores e outros dispositivos em peças centrais para as investigações.

O funcionamento desse trabalho lembra as histórias de Sherlock Holmes, que unia matemática, química e lógica para solucionar mistérios. Hoje, os investigadores da era digital usam a perícia forense computacional para acessar dados em dispositivos eletrônicos, reconstituindo provas que muitas vezes os investigados acreditam ter eliminado.

Quando um mandado de busca e apreensão é cumprido, os agentes coletam computadores, celulares, pen drives e outros aparelhos. Diferente da imagem antiga de policiais passando noites em frente ao computador, hoje o processo conta com equipamentos sofisticados, fornecidos por empresas de países como Israel e Canadá.

Esses sistemas permitem copiar todo o conteúdo de um dispositivo, criando uma “imagem” digital idêntica ao original. É como uma ressonância magnética: todos os arquivos, de fotos a documentos, ficam preservados para posterior análise.

Uma das maiores curiosidades é sobre a possibilidade de recuperar dados apagados. O mito de que deletar significa destruir completamente um arquivo já foi derrubado há tempos. Em geral, quando algo é excluído, o documento não desaparece imediatamente: ele vai para a lixeira e só é substituído quando novos dados ocupam aquele espaço.

Softwares especializados conseguem reunir fragmentos e reconstruir arquivos, como se fosse uma colagem de papéis rasgados. Essa técnica é fundamental em casos de corrupção, fraudes ou, como no atual inquérito, na investigação de ataques ao Estado Democrático de Direito.

A criptografia do WhatsApp também gerou dúvidas, já que mensagens de áudio atribuídas a Bolsonaro e ao pastor Silas Malafaia apareceram na investigação. O aplicativo realmente utiliza criptografia de ponta a ponta durante a transmissão, o que significa que o conteúdo só pode ser lido no celular do remetente e no do destinatário, nem mesmo funcionários da empresa têm acesso. No entanto, a partir do momento em que a mensagem chega ao aparelho de destino, ela passa a estar sujeita às condições de armazenamento.

Foi esse ponto que permitiu à PF acessar conversas de investigados. Malafaia, por exemplo, afirmou ter entregado não só o celular, mas também a senha, o que facilitou a extração dos dados. Para usuários comuns, isso pode ser apenas um detalhe, mas em investigações de grande porte essa diferença é determinante.

Autoridades internacionais, bilionários e executivos de grandes empresas geralmente adotam medidas extras, como a criptografia do armazenamento em várias camadas, para proteger segredos comerciais ou informações sensíveis. No entanto, a PF não encontrou indícios de práticas avançadas desse tipo no material apreendido no caso de Bolsonaro e seus aliados.

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Last Update: 22/08/2025