Economia da China cresce 5,4% no primeiro trimestre, mas guerra comercial com os EUA ameaça estabilidade.
A economia chinesa superou as expectativas e cresceu 5,4% no primeiro trimestre de 2025, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo Escritório Nacional de Estatísticas (NBS). O desempenho mantém o país em linha com a meta oficial de crescimento anual de cerca de 5%, apesar da escalada da guerra comercial com os Estados Unidos e das crescentes incertezas externas.
O resultado veio acima da projeção de 5,16% feita por analistas consultados pela fornecedora de dados financeiros Wind. O crescimento foi igual ao registrado no trimestre anterior. Na comparação trimestral, o PIB cresceu 1,2%.
A expansão ocorre em meio a uma série de choques tarifários, com os EUA impondo tarifas de até 145% sobre produtos chineses desde o retorno de Donald Trump à presidência. Pequim retaliou com tarifas de até 125%, intensificando o conflito comercial que ameaça afetar o desempenho econômico chinês nos próximos meses.
Sheng Laiyun, vice-diretor do NBS, afirmou que a economia teve “um bom e estável início” de ano e manteve o impulso de recuperação, com a inovação exercendo papel crescente. No entanto, ele alertou para a complexidade do cenário externo, a demanda doméstica ainda fraca e a base pouco sólida da recuperação econômica.
Apesar dos desafios, a liderança chinesa permanece comprometida em atingir a meta anual. “Temos confiança, capacidade e determinação para enfrentar os desafios externos e alcançar nossos objetivos de desenvolvimento”, declarou Sheng.
O consumo interno continua sendo a principal aposta do governo para sustentar o crescimento. As vendas no varejo subiram 5,9% em março, acima dos 4% registrados nos dois primeiros meses do ano. Para estimular a demanda, o governo lançou um plano de 30 pontos para impulsionar o consumo, com foco em setores como alimentação, turismo, esportes, cuidados com idosos e serviços médicos.
O ministro do Comércio, Wang Wentao, prometeu mais apoio ao setor de serviços e anunciou novas categorias para incentivo ao investimento estrangeiro, incluindo acampamentos, hospedagens alternativas, serviços imobiliários e atendimento médico online.
Mesmo com o crescimento acima do esperado, analistas alertam que os impactos da guerra comercial devem aparecer nos dados macroeconômicos nos próximos meses. “As cadeias de suprimentos estão sendo afetadas, e os efeitos podem se espalhar para muitos países”, disse Zhang Zhiwei, economista-chefe da Pinpoint Asset Management.
Os investimentos em ativos fixos subiram 4,2% no primeiro trimestre, enquanto os investimentos no setor imobiliário caíram 9,9%, acentuando a queda já vista no ano anterior. O investimento privado teve alta tímida de 0,4%, refletindo a confiança ainda frágil do setor empresarial.
Gary Ng, economista sênior da Natixis, afirmou que a pressão persistente no setor imobiliário e as tensões geopolíticas devem provocar desaceleração nos próximos trimestres. “A demanda antecipada sustentou a produção e as exportações no início do ano, mas o impacto total das tarifas será sentido em breve.”
Para conter os efeitos negativos, o Goldman Sachs projeta cortes de juros de até 60 pontos-base e aumento do déficit fiscal ampliado para 14,5% do PIB. Mesmo assim, o banco alerta que tais medidas não devem compensar totalmente os efeitos adversos das tarifas, e revisou suas previsões de crescimento para a China: 4% em 2025 e 3,5% em 2026.
A próxima reunião do Politburo pode trazer pistas sobre novos estímulos. Zhang acredita que o governo pode adotar medidas adicionais ainda este ano, dependendo da intensidade da queda nas exportações.
Em março, a produção industrial subiu 7,7% em relação ao ano anterior. A taxa de desemprego urbano ficou em 5,2%, ante 5,4% em fevereiro.
Ji Siqi, Sylvia Ma
Publicado em 16 de abril de 2025
South China Morning Post (SCMP)