Milhares de palestinos pegaram as estradas neste domingo (19) para retornar às suas casas na Faixa de Gaza, onde um cessar-fogo entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas entrou em vigor após mais de 15 meses de guerra.

A trégua começou quase três horas depois do combinado porque o Hamas atrasou a comunicação da lista de reféns que planejava libertar neste domingo.

Quando Israel recebeu a lista, indicou que o cessar-fogo seria implementado às 09h15 GMT (06h15 no horário de Brasília). O Catar, que está mediando o conflito ao lado dos Estados Unidos e do Egito, confirmou pouco depois que o cessar-fogo havia entrado em vigor.

O Hamas justificou o atraso com “complicações no terreno e a continuação dos bombardeios israelenses” neste domingo que, segundo a Defesa Civil de Gaza, deixaram oito mortos na Faixa, um território devastado pelo conflito, desencadeado por um ataque de islamistas em Israel em 7 de outubro de 2023.

Mesmo antes do cessar-fogo entrar em vigor, milhares de palestinos deslocados, com seus pertences, pegaram as estradas em caminhonetes, carroças puxadas por burros e a pé no norte e no sul da Faixa, de acordo com imagens da AFP.

Em Jabaliya, no norte de Gaza, cenário de uma intensa operação militar israelense desde outubro, moradores descobriram uma paisagem desolada cheia de escombros.

No final do Angelus, o papa Francisco pediu que o cessar-fogo fosse “respeitado imediatamente” por ambas as partes e expressou sua “gratidão aos mediadores”.

 

Advertência de Netanyahu

O acordo, anunciado na quarta-feira, foi negociado durante meses por mediadores (Catar, Egito e Estados Unidos) e entra em vigor na véspera da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos.

No entanto, Netanyahu esclareceu em um discurso televisionado no sábado que este é “um cessar-fogo provisório” e que Israel se reserva “o direito de retomar a guerra com apoio americano”.

Em Israel, o acordo gerou divisões, e o partido de extrema direita do ministro da Segurança Nacional israelense, Itamar Ben Gvir, hostil ao pacto, anunciou que estava deixando a coalizão de Netanyahu. No entanto, isso não coloca em risco o governo, que ainda conta com uma estreita maioria no Parlamento.

“Se o Hamas permanecer no poder, a instabilidade regional que ele causa pode continuar. Não há futuro de paz, estabilidade ou segurança para ambos os lados se o Hamas permanecer no poder na Faixa de Gaza”, disse o ministro das Relações Exteriores israelense, Gideon Saar.

De acordo com o texto acordado, 33 reféns feitos pelo movimento islamista Hamas durante seu ataque a Israel em 7 de outubro de 2023 serão devolvidos na primeira fase da trégua, de 42 dias.

No mesmo período, 737 prisioneiros palestinos serão libertados das prisões israelenses, de acordo com o Ministério da Justiça israelense.

Um oficial militar disse que a libertação dos reféns ocorreria em três pontos na fronteira de Israel com Gaza, onde eles seriam tratados por médicos e depois transferidos para hospitais.

Neste domingo, o braço armado do Hamas publicou uma lista de três reféns israelenses que seriam libertadas nas próximas horas, três mulheres que foram sequestradas em 7 de outubro.

Segundo o Fórum de Famílias de Reféns, trata-se de Emily Damari e Doron Steinbrecher, capturadas no kibutz Kfar Azza, e Romi Gonen, sequestrada no festival de música Nova.

Por sua vez, Israel estabeleceu uma lista de 90 detidos palestinos que podem ser libertados já no domingo, a maioria deles mulheres e menores de idade.

O Hamas disse esperar que Israel forneça a lista “em breve” e que o acordo prevê “a libertação de 30 prisioneiros palestinos em troca de cada civil retido”.

Entre os prisioneiros palestinos no acordo está Zakaria al-Zubeidi, ex-líder das Brigadas dos Mártires de al-Aqsa, o braço armado do partido Fatah do presidente Mahmoud Abbas.

Esta primeira fase deve abrir caminho para as negociações sobre a segunda, que deverá permitir a libertação dos últimos reféns, antes da terceira e última fase, dedicada à reconstrução de Gaza e à devolução dos corpos dos reféns que morreram em cativeiro.

 

600 caminhões de ajuda

Além da libertação dos reféns, a primeira fase do acordo inclui, segundo o presidente dos EUA, Joe Biden, “um cessar-fogo completo”, a retirada israelense de áreas densamente povoadas de Gaza e um aumento na ajuda humanitária.

Autoridades egípcias disseram que o acordo prevê “a entrada de 600 caminhões de ajuda por dia”, incluindo 50 caminhões de combustível.

Segundo a ONU, os primeiros caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza “apenas quinze minutos” após a trégua ser implementada.

O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 matou 1.210 pessoas em Israel, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.

Das 251 pessoas sequestradas naquele dia, 94 permanecem reféns em Gaza e, destas, acredita-se que 34 morreram, segundo o exército israelense.

Em resposta, Israel lançou uma campanha aérea e terrestre na Faixa de Gaza que custou a vida de pelo menos 46.913 pessoas, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde administrado pelo Hamas, considerados confiáveis pela ONU.

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Last Update: 19/01/2025