O primeiro debate eleitoral dos EUA levantou a discussão do apoio a Biden na esquerda brasileira. Setores da esquerda pequeno-burguesa acreditam que contra Trump é válido apoiar qualquer coisa, até mesmo o responsável pelo genocídio na Faixa de Gaza. Além disso, suas críticas a Trump e elogios a Biden muitas vezes seguem a política do imperialismo. O grande problema disso é que, com a falência de Biden, essa esquerda também tende a falir. Um dos defensores do Partido Democrata é Pedro Paiva, que publicou no Brasil 247 o artigo Joe Biden precisa abrir mão.
O artigo começa: “aconteceu nesta terça-feira o primeiro debate das eleições presidenciais dos Estados Unidos entre Joe Biden e Donald Trump. Não é exagero afirmar que o embate foi uma das cenas mais constrangedoras da história do país”. Essa colocação está em quase todos os órgãos de imprensa. Foi humilhante a participação de Biden no debate. Todos aqueles que tinham esperança na vitória dos democratas começaram a ficar muito preocupados.
Ele continua: “de um lado, Trump tinha a tarefa de se mostrar calmo, contido, uma versão fascista-paz-e-amor. Ele precisava se portar de maneira presidenciável. Apesar de todas as mentiras contadas durante a noite – afinal, não seria Trump sem elas – o ex-presidente conseguiu. Do outro lado, Biden precisava se mostrar com energia, capaz não só de concorrer mas de ocupar a presidência. Enterrar de uma vez por todas as críticas em relação à sua idade e à sua aparente incapacidade cognitiva. Mas não foi o que aconteceu. Biden falhou. Falhou feio”.
Aqui já surge a tese de que Trump seria o grande fascista e mentiroso em oposição a Biden. Isso é absurdo. Basta ver a atuação de Biden na Palestina, na Ucrânia, contra os estudantes, nas universidades dos EUA, e em todos os locais que ele de fato atua para compreender que é falsa essa colocação de que Trump é mais fascista que Biden. O atual presidente dos EUA é democrático só em nome do seu partido. Criticar apenas Trump desta forma é um apoio à política genocida de Biden. A esquerda deveria ter uma posição própria e criticar Trump e Biden conforme a realidade.
Já sobre a situação tenebrosa de Biden no debate, o autor confirma a realidade. E ele ainda continua: “o presidente teve dificuldade de formular frases simples. Se embaralhou, gaguejou, trocou palavras… Em determinado ponto, congelou por vários segundos. Em uma réplica, Trump respondeu: ‘eu não entendi o que ele falou. Acho que nem ele entendeu’. Nós, telespectadores, também não entendemos. Trump destilou xenofobia, defendeu o fim do direito ao aborto legal, disse que os EUA devem apoiar Israel e ser contra um cessar-fogo em Gaza e até mesmo negou sua participação na invasão do Capitólio em 2020. Tudo isso, porém, passou batido. A visível disparidade entre os candidatos ofuscou até mesmo as maiores barbaridades”.
Aqui já há criticas mais bem definidas a Trump. A política contra os imigrantes de Trump pode ser negativa, mas Biden não apresenta uma política superior, tem só uma fachada democrática. Sobre o aborto, vale o mesmo, os democratas não compram a briga com a direita anti-aborto. Em relação a “Israel”, Biden se mostrou pior que Trump. Trump fala, mas Biden faz. E sobre o Capitólio, é mais uma crítica antidemocrática do imperialismo – a invasão do capitólio foi uma manifestação como outra qualquer, não deveria ser criminalizada. No Brasil, citam o caso dos bolsonaristas em 2023, mas fato é que houve muito mais invasões de palácios pela esquerda do que pela direita na história, isso nunca foi crime. É um protesto popular.
O autor continua com a política errada: “Biden teve raros momentos bons, como quando chamou Trump de ‘criminoso condenado’. ‘Bom’ talvez seja um exagero meu. Coisa de quem torce pelo pesadelo menos pior”.
Ele então descreve como logo após o debate se instaurou o caos entre os apoiadores dos democratas. Começaram a debater quem seria a melhor alternativa a Biden, algo que já havia sido discutido antes foi considerado quase impossível. A verdade é que Biden é o único candidato possível para o Partido Democrata e isso é uma demonstração da gigantesca crise do partido. Isso porque setores tradicionais do Partido Republicano apoiam Biden, como os Bush.
Ele então conclui: “a realidade é essa: se existia antes uma sensação de que Biden não dá conta do trabalho, ontem ela se tornou um fato. E o Biden do debate não tem a menor chance contra Donald Trump. A única chance de Biden derrotar Trump é desistindo da candidatura. Figuras influentes do partido podem ajudar no convencimento: Barack Obama, Nancy Pelosi, Gavin Newsom… Mas no fim das contas, a decisão é de Biden. Só resta torcer para que o orgulho dele não nos custe um segundo mandato de Trump – ainda pior para os EUA, para o mundo e, possivelmente, para o Brasil”.
Aqui, aparece o grande problema da esquerda pequeno-burguesa. No fim, o colunista está defendendo a vitória do Partido Democrata, nesse momento, o principal partido do imperialismo no mundo. Um partido que sustenta o genocídio em Gaza, que deu os golpes de Estado na América Latina, incluindo o golpe no Brasil, que está quase começando uma guerra nuclear com a Rússia. Isso porque Trump seria a pior coisa do mundo, algo que já foi comprovado uma mentira, pois ele governou por quatro anos, os anos mais pacíficos da história dos EUA.
As pessoas em que ele tem esperança também demonstram como essa política é falida. Barack Obama, apelidado de “O Bomba” de tanto que atacou o Oriente Médio. O governo Obama foi tão desastroso que deu origem a Donald Trump. Pelosi quase começou uma guerra com a China com provocações na Formosa chinesa (Taiuã). Os democratas são as piores figuras do imperialismo internacional.
A esquerda pequeno-burguesa comete dois erros. Primeiro, que Trump seria a pior coisa do mundo, a realidade é que Biden tende a ser pior que Trump em quase todos os sentidos. E segundo, que é preciso apoiar um dos dois. Diante dessa eleição, é preciso criticar o imperialismo e ter como política que os trabalhadores dos EUA tenham o seu próprio candidato, o seu próprio partido.