Pelo menos 56 deputados participaram do motim na Câmara. Entre eles, dois generais

Participaram da tentativa de golpe, por exemplo, todos os deputados federais oriundos do Exército. Um ex-sargento e um tenente-coronel da reserva foram vigias noturnos do sequestro da Mesa Diretora.

Por Hugo Souza, no Come Ananás

“Olha os personagens aqui, ó. É um mais feio que o outro. Mas não importa a embalagem, importa aqui por dentro”, disse o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), levando a mão ao peito, em um vídeo gravado na noite do dia 5 para o dia 6 de agosto no plenário da Câmara mostrando a cara de vários deputados e deputadas com Jesus e golpismo no coração.

No vídeo – uma “super live da liberdade” – Gayer e o líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), mostram e nomeiam, um a um, os personagens que naquele momento estavam de vigia da Mesa da Câmara para não deixar o Poder Legislativo funcionar, no rodízio estabelecido entre os que participaram da tentativa de golpe da semana passada no Congresso Nacional.

Além de Gayer e Zucco, outros 10 deputados e deputadas de quatro diferentes partidos participavam naquele momento do revezamento golpista:

Nicoletti (União-RR), Carlos Jordy (PL-RJ), Sargento Fahur (PSD-SC), Rodrigo da Zaeli (PL-MT), Paulo Bilynskyj (PL-SP), Pastor Diniz (União-RR), Eli Borges (PL-TO), Alberto Fraga (PL-DF), Clarissa Tércio (PP-PE) e Rosana Valle (PL-SP), que chegou a ser cotada para ser candidata a vice-governadora de São Paulo na chapa de Tarcísio de Freitas em 2022.

Porém, apenas três dos vigias noturnos do motim de 30 horas na Câmara – Zucco, Jordy e Bilynskyj – estão na lista dos 14 deputados e deputadas denunciados à Corregedoria Parlamentar por quebra de decoro, coação institucional e usurpação de poder.

Na verdade, ao todo, pelo menos 56 deputados federais participaram diretamente do sequestro do plenário da Câmara. É o que mostra um vídeo do dia 6 de agosto, quarta-feira da semana passada, com todos eles reunidos em volta da Mesa Diretora e um deles, Nikolas Ferreira (PL-MG), dando um “recado” em nome de todos: “nós não vamos sair desse plenário até pautar a anistia”.

Participaram da tentativa de golpe da semana passada no Congresso, por exemplo, todos os deputados federais que são ex-militares do Exército Brasileiro: além dos vigias noturnos tenente-coronel Zucco e sargento Nicoletti, ex-10° Grupo de Artilharia de Campanha de Selva, estavam entre os amotinados o subtenente Helio Lopes (PL-RJ), General Pazuello (PL-RJ) e General Girão (PL-RN).

Mostrando que não há golpe no Brasil sem generais, Pazuello postou nas redes um vídeo de dentro do plenário sequestrado dizendo que estava participando de “um movimento sério”. General Girão também produziu prova contra si, gravando um vídeo no qual afirma que ele, general de brigada combatente, estava ocupando o coração do Poder Legislativo para “impedir que as sessões venham a acontecer”.

E já que voltamos a falar em coração, ainda falta mencionar um último deputado que não deixou a “família militar” faltar ao Putsch do Esparadrapo. Trata-se do Coronel Chrisóstomo (PL-RO), que em julho pediu apoio das Forças Armadas contra a prisão de Bolsonaro: “quero fazer um último pedido às Forças Armadas. Me orgulhei das Forças Armadas em 64. Estejam ao lado do povo brasileiro”.

No dia 5, terça-feira da semana passada, Chrisóstomo gravou um vídeo na Câmara tirando um esparadrapo da boca e abrindo os botões da camisa para mostrar uma grande sutura no peito: “abri o coração há uma semana, estou correndo risco, mas estou aqui dando tudo de mim pelos brasileiros, pela liberdade”.

Como disse Gustavo Gayer na “super live da liberdade”, na madrugada a vitrola rolando um putsch, “não importa a embalagem, importa aqui por dentro”.

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Last Update: 14/08/2025