O preço dos alimentos tem sido tema de debate nas redes sociais e sendo usado como fator político para que o governo seja criticado, mas o contexto em torno dos preços exige uma análise mais aprofundada.

Uma série de fatores combinados acabaram por influenciar os preços ao longo dos últimos meses, dentre eles as mudanças climáticas em regiões agrícolas, aumento da demanda internacional e a cotação do dólar, o que leva produtores a direcionarem parte de sua produção para ganhar mais com a moeda norte-americana.

“A inflação dos alimentos tem a ver com o que aconteceu na safra do ano passado”, explica Lucy Aparecida de Sousa, conselheira do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo).

A economista cita a quebra da 2024 por conta das enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul, onde mais da metade da produção nacional de arroz foi afetada, enquanto os incêndios vistos na região Sudeste atingiram regiões tradicionalmente produtoras de café.

Efeito do clima sobre a produção

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetaram uma produção de 298,41 milhões de toneladas de grãos na safra 2023/2024, uma redução de 21,4 milhões de toneladas em relação ao volume obtido no ciclo anterior.

“A diminuição observada se deve, principalmente, à demora na regularização de chuvas no início da janela de plantio, aliada às baixas precipitações durante parte do ciclo das lavouras nos estados da região Centro-Oeste, do Matopiba, em São Paulo e no Paraná e pelo excesso de precipitação registrado no Rio Grande do Sul, sobretudo nas lavouras de primeira safra”, disse a Conab na ocasião.

“Este ano, já se espera que a safra seja recorde, mais de commodities que exportam, mas parte das commodities também se come aqui dentro – como soja, que é consumido pela população do mercado interno; café idem; e isso contamina”, ressalta Lucy.

Contudo, as mudanças climáticas vão penalizar cada vez mais países e produtos, trazendo seca e chuva em excesso, e isso já está afetando a performance agrícola de muitos mercados.

“A expectativa é que a safra em geral seja recorde, mas é expectativa – esperemos que nenhum desastre climático afete, com isso a oferta vai aumentar e pressionar os preços para baixo”, explica a economista.

Quanto ao efeito do dólar, a conselheira do Corecon-SP ressalta a especulação com relação ao dólar que levou ao aumento da cotação, e desta forma o exportador do agribusiness prioriza quem dá mais renda para ele.

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Estoques reguladores em queda

Um ponto citado pela economista com relação à inflação envolve o desmantelamento dos estoques regulatórios, normalmente usados tanto para regular o abastecimento interno, como para atenuar as oscilações de preço.

Como lembra Lucy Aparecida de Sousa, os estoques estabilizadores “praticamente não tinham o volume necessário, e os produtos sobem imediatamente – não tem colchão”.

O gráfico abaixo, elaborado pela Conab, mostra a série histórica por vínculo do arroz, onde é possível perceber que o estoque zerou no ano de 2016 – coincidentemente, o ano em que Michel Temer tomou o poder após o impeachment de Dilma Rousseff.

Os últimos dados disponíveis sobre os estoques públicos são referentes a dezembro de 2024, e podem ser vistos na íntegra clicando aqui

Um ponto em especial precisa ser lembrado: os estoques reguladores foram praticamente zerados nos governos anteriores, e são justamente os políticos que integram a oposição ao atual governo federal – em sua maioria, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inclusive dentro do agronegócio – que clamam pela ‘comida barata novamente’ depois de zerarem os estoques no período em que ocuparam o poder.

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Last Update: 05/02/2025