O presidente Lula liderou, nesta quarta-feira (24), a reunião de pré-lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, bandeira crucial do governo brasileiro na presidência rotativa do G20. O esforço tem por objetivo promover a coesão de políticas públicas entre os países do bloco visando à diminuição da miséria no mundo. O Brasil defende que os mais ricos financiem o enfrentamento às desigualdades socioeconômicas. Emocionado, o petista falou da experiência da fome, já no encerramento de seu discurso, e foi aplaudido de pé pelos líderes do G20 presentes ao evento oficial, no Rio de Janeiro.
“A fome, ela não é uma coisa natural. A fome é uma coisa que exige decisão política. Nós, governantes, não podemos olhar, o tempo inteiro, só para quem está próximo de nós. É preciso que a gente consiga fazer uma radiografia e olhar aqueles que estão distantes, aqueles que não conseguem chegar perto dos palácios, aqueles que não conseguem chegar perto de ministros, aqueles que não conseguem chegar numa escola, aqueles que são vítimas de preconceito todo santo dia”, pregou o presidente.
Aos representantes do G20, Lula enumerou as ações levadas a cabo pelo governo federal em prol dos mais vulneráveis e assegurou que, até o fim do mandato, o Brasil terá saído novamente do mapa da fome. “Meu amigo diretor-geral da FAO […] pode ir se preparando para anunciar, em breve, ainda no meu mandato, que o Brasil saiu novamente do mapa da fome”, antecipou, dirigindo-se a Qu Dongyu, chefe da agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Agricultura e Alimentação.
Encarregado de apresentar o relatório do governo brasileiro aos países do bloco, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias (PT-PI), fez um balanço da pobreza mundialmente. “Mesmo com o fim da pandemia, o mundo, no geral, não está conseguindo retomar os trilhos do combate à fome e à pobreza […] daqueles 735 milhões em insegurança alimentar no mundo, em 2022, a FAO revela que fechamos 2023 com 733 milhões”, argumentou.
“Ou seja, se não fosse a redução de 21,4 milhões de pessoas que saíram da fome no Brasil […] o relatório teria apontado tendência de crescimento da fome em 2023. Alguma coisa estamos fazendo certo”, prosseguiu Dias, antes de expor as políticas do Ministério do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome (MDS) nas gestões petistas.
Retrocesso neoliberal
Com o afastamento da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016, a população brasileira assistiu à escalada da miséria e da insegurança alimentar, consequência dos arrochos neoliberais aplicados pelos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL). No governo do capitão da extrema direita, a fila de pessoas em busca de ossos tornou-se emblemática em meio aos retrocessos aos quais o país foi submetido nesse período.
“No Brasil, quando tínhamos uma boa cama de programas interligados, e com a participação e controle social, logramos vencer a fome e reduzimos a pobreza abaixo da metade do que era em 2023, sob o comando do presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff, aqui presente”, lembrou o titular do MDS.
Hoje presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o chamado “Banco do BRICS”, Dilma esteve presente à cerimônia do G20 desta quarta, na capital fluminense.
Fontes de financiamento
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), tratou das fontes de financiamento para a consecução dos objetivos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e sugeriu maneiras de aperfeiçoá-las. “É imperativo nos mobilizarmos para aumentar os recursos disponíveis internacionalmente direcionados a enfrentar esses dois problemas. Precisamos buscar inovações em instrumentos de financiamento para o desenvolvimento, parcerias público-privadas, além de apoiar a reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento”, pediu Haddad.
“Segundo relatório comissionado pela força-tarefa, os 10 maiores provedores multilaterais de financiamento oficial ao desenvolvimento desembolsaram cerca de US$ 46 bilhões, em 2022, para as duas agendas. Isso representa 24,5% de todos os compromissos dos bancos multilaterais de desenvolvimento naquele ano. Se olharmos para os dados da OCDE, menos de 10% da ajuda oficial ao desenvolvimento se destina a combater a fome e a pobreza”, ponderou.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que a Aliança reafirma o compromisso do Brasil com os direitos humanos. Vieira lamentou que o atual cenário de desigualdades socioeconômicas distancie o mundo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 2030.
“A plena implementação dos ODS tornou-se uma meta longínqua para muitos países. O Brasil está profundamente preocupado com a situação internacional atual. Aproveito a ocasião para expressar a nossa consternação diante da situação no Haiti, na Faixa de Gaza e no Sudão, entre tantas regiões que enfrentam insegurança alimentar e nutricional em níveis catastróficos.”