Com grandes empresas mantendo estoques para apenas quatro a seis semanas, os consumidores dos EUA podem enfrentar menos opções nas prateleiras e preços mais altos, caso não haja mudanças significativas no cenário tarifário, alertou Gene Seroka, diretor executivo do Porto de Los Angeles.
Pequenos e médios importadores enfrentam desafios ainda maiores por causa da capacidade limitada de armazenamento, afirmou Seroka durante reunião do Conselho de Comissários Portuários de Los Angeles nesta semana.
“Se nada mudar, ou se esses acordos comerciais permanecerem como estão, veremos escassez pontual e menos opções nas prateleiras e nos sites de compras”, disse ele na terça-feira.
O porto foi o maior do país em volume de importações em 2024.
Grandes varejistas interromperam as importações da China porque os preços dos produtos estão duas vezes e meia mais altos do que no mês anterior, disse Seroka, acrescentando: “Os importadores simplesmente não conseguem justificar esses custos”.
A paralisação indica uma queda ainda maior no volume de embarques.
“As chegadas nesta semana ao Porto de Los Angeles cairão 35% no lado das importações, em comparação com o mesmo período do ano passado”, afirmou Seroka.
O porto espera 17 “navegações em branco” — quando um navio cancela sua escala em um porto programado ou a viagem inteira — entre mais de 80 chegadas planejadas para maio, informou.
O alerta foi feito um dia antes de autoridades chinesas e norte-americanas anunciarem preparativos para negociações presenciais sobre tarifas e comércio na Suíça neste fim de semana, o primeiro encontro do tipo desde que a guerra comercial se intensificou neste ano.
Washington já impôs tarifas totais de 145% sobre importações chinesas em 2025, elevando a alíquota efetiva para cerca de 156%. Enquanto isso, as novas tarifas de Pequim sobre produtos dos EUA subiram para 125%, também acumuladas a tarifas anteriores.
Christopher Tang, professor de administração na UCLA Anderson School of Management, disse que estoques antecipados — acumulados antes do início das tarifas — irão se esgotar, e a queda nos embarques resultará em menos produtos disponíveis.
Mas ele não espera prateleiras completamente vazias, já que os consumidores estão comprando menos devido aos preços elevados.
Estoques de itens majoritariamente fabricados na China, como torradeiras, carrinhos de bebê e utensílios de cozinha, serão visivelmente afetados, enquanto brinquedos e roupas, que podem ser importados do Vietnã e de outros países, terão impacto menor, explicou Tang.
Com o fluxo de importações em queda, demissões ligadas ao setor dispararam desde o início de abril, com mais de mil cortes de empregos anunciados em diversos estados do sudeste, segundo o FreightWaves, que fornece dados de análise sobre cadeias de suprimentos.
O presidente do Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, afirmou que o país não possui ferramentas eficazes para lidar com problemas na cadeia de suprimentos.
“O Fed, em teoria, poderia cortar os juros para estimular a demanda, mas isso seria uma forma muito ineficiente de tentar resolver esse tipo de problema”, disse Powell em entrevista à CNN na quarta-feira.
Segundo a empresa de pesquisa marítima Drewry, as transportadoras vêm “retirando capacidade agressivamente” desde abril.
Dados da consultoria mostram que a capacidade programada de embarques na rota “Ásia para costa leste da América do Norte” caiu 22% em abril e 18% em maio. Já na rota “Ásia para costa oeste da América do Norte”, a queda foi de 20% em abril e 12% em maio.
No entanto, a Drewry prevê que a capacidade transpacífica em maio será de 5% a 8% maior do que em abril, citando uma possível nova onda de estoques antecipados — com mais importações vindas de países asiáticos fora da China antes do fim da pausa tarifária dos EUA, em julho.
Por Carol Yang.
Carol entrou para o Post em janeiro de 2025 e cobre a economia da China. Antes disso, foi repórter no setor de navegação da Lloyd’s List, em Xangai, e trabalhou seis anos na China Global Television Network, em Pequim. Possui mestrado em comunicação intercultural pela Universidade de Warwick.
8 de maio de 2025.
Fonte: South China Morning Post.