Keiny iniciou sua carreira como modelo de webcam aos 17 anos. Foto: Divulgação

Na Colômbia, milhares de adolescentes estão sendo aliciadas por estúdios de webcam que operam à margem da lei, explorando a vulnerabilidade social com a promessa de dinheiro rápido. Isabella (nome fictício), com 17 anos e mãe de um menino, foi abordada na saída da escola por um panfleto que perguntava: “Você quer ganhar dinheiro com a sua beleza?”.

Ao comparecer ao endereço indicado, encontrou um estúdio de sexcam, onde começou a trabalhar no dia seguinte. Mesmo sendo ilegal empregar menores, ela foi colocada ao vivo sem qualquer contrato, usando uma conta de modelo adulta inativa para burlar a fiscalização das plataformas.

A Colômbia concentra aproximadamente 12 mil estúdios e cerca de 400 mil modelos, segundo a Fenalweb, associação que representa o setor. Relatos revelam jornadas de até 18 horas, pressão psicológica e punições por pausas para alimentação ou banheiro.

Jovens como Isabella e Keiny relataram que usaram perfis falsos ou “reciclados” para transmitir em plataformas como Chaturbate, StripChat e BongaCams. Algumas afirmam que foram incentivadas a decorar seus quartos com elementos infantis, como pelúcias e tons rosados, para agradar espectadores que buscam aparência juvenil.

A modelo de webcam colombiana Keiny se prepara para iniciar o streaming. Foto: Divulgação

Os ganhos são baixos: estúdios ficam com até 30% da receita, enquanto plataformas retêm metade. Isabella, após semanas de trabalho, recebeu apenas R$ 230. Ela deixou o estúdio, buscou apoio psicológico e, junto com outras ex-modelos, denunciou os donos à Procuradoria do Estado por exploração de menores, abuso trabalhista e fraude econômica.

“Me afetou muito e não quero mais pensar nisso”, disse à BBC. As gravações feitas durante sua adolescência seguem circulando online, e ela afirma não conseguir removê-las.

A Human Rights Watch documentou casos semelhantes em outras cidades colombianas e expôs as lacunas nos mecanismos de verificação das plataformas, que permitem a presença de menores mesmo sob normas rígidas.

As principais empresas do setor alegam tolerância zero com contas ilegais, mas não realizam inspeções diretas nos estúdios e se eximem de responsabilidade sobre as condições impostas às modelos. Enquanto isso, jovens continuam sendo aliciadas e expostas, em um mercado digital que cresce sobre a ausência do Estado e a normalização da exploração.

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Last Update: 29/06/2025