As mudanças na política de moderação anunciadas pela Meta, que controla o Facebook, a Instagram e o Threads, retiraram o sistema de checagem de fatos e também proteções contra diversos tipos de discriminação que podem aparecer no conteúdo de posts. De acordo com as novas diretrizes, os usuários poderão associar doenças mentais a gênero ou orientação sexual, em contextos de debates religiosos ou políticos. Também foram flexibilizadas restrições a discursos que defendem a limitação de gêneros em determinadas profissões, entre outras profissões.
Sob a pretensa justificativa de defesa da liberdade de expressão, a Meta passou a permitir uma série de termos misóginos e ofensivos, como termos que se referem a mulheres de maneira objetificada como ‘isso’ ou ‘aquilo’. As alterações anunciadas ligaram o sinal de alerta para mulheres e integrantes da comunidade LGBT para o impacto que essas mudanças podem gerar.
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A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, condenou duramente as elaborações do bilionário da tecnologia. “Além de se aliar à extrema direita contra a democracia e a verdade nas redes, Mark Zuckerberg, dono da Meta, declarou seu machismo e misoginia numa entrevista chocante”, “É desolador para a humanidade ver que os controladores da mais avançada tecnologia de comunicação são trogloditas perigosos na vida real. A concentração de poder nas mãos dessa gente é uma ameaça que a sociedade e os governos democráticos precisam enfrentar com urgência. Zuckerberg, Musk e seus aliados estão se tornando os verdadeiros ditadores, com seu falso discurso de defesa da liberdade”, definiu a presidenta do PT.
Guinada à extrema direita
As alterações foram anunciadas a poucos dias da posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, e refletem um redirecionamento da Meta ao campo da extrema direita. Os efeitos a longo prazo ainda são desconhecidos da comunidade internacional.
O jornalista Jamil Chade afirmou que “o que veremos é uma terra sem lei, e não uma terra de liberdade. Estamos diante do esboço dos contornos de uma nova era do imperialismo norte-americano. Ela inclui (…) o absoluto controle sobre o mundo virtual que, hoje, delimita também quem somos, como agimos, como pensamos e nossos destinos.” O jornalista pontuou que, entre os bolsonaristas, as mudanças foram extremamente celebradas. Fato que evidencia “o quanto essa ala depende da desinformação em suas campanhas eleitorais. Eles não lutam pela liberdade de expressão. Lutam pelo poder de usar a mentira como instrumento legítimo de poder.”
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Entretanto, para as mulheres e integrantes da comunidade LGBT, públicos que são perseguidos por representantes extremistas, as consequências são bem conhecidas: discursos de ódio, ofensas e ataques. Ou seja: as redes sociais passarão a ser um ambiente ainda mais hostil, inseguro e violento para as mulheres. Um dos efeitos da decisão é o impulsionamento da propagação de fake News e também a disseminação de discursos violentos contra mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+, imigrantes. E o que acontece nas redes sociais, no ambiente virtual, muitas vezes, tem potencial de extrapolar as telas e migrar para a vida real.
Aumento da violência
No X, o Ministério das Mulheres afirmou que as mudanças são preocupantes para as mulheres, pois desinformação e discurso de ódio atingem de forma desproporcional as mulheres e a facilitação para a violência virtual pode resultar em mais violência no cotidiano.
Com o fim da checagem de fatos anunciada pelo presidente da Meta (Facebook e Instagram), desinformação e discursos de ódio terão ainda mais espaço.
❌ Isso enfraquece a luta contra a misoginia e expõe comunidades vulneráveis, especialmente mulheres, a diversos riscos. 🤬 pic.twitter.com/chf35MCiuL
— Ministério das Mulheres (@mindasmulheres) January 10, 2025
A pasta defendeu ainda que as mudanças anunciadas enfraquecem os esforços para regular as plataformas digitais e proteger os direitos das mulheres no ambiente online, além de favorecer a produção de conteúdos políticos falsos que irão insuflar a polarização da sociedade.
Recentemente, o Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais, parceria do NetLab-UFRJ com o MMulheres, divulgou relatório que revela o êxito da monetização de conteúdo misógino, discriminatório e desinformativo sobre questões de gênero em plataformas digitais como o YouTube, Facebook e Instagram.
“A busca por audiência sem responsabilidade social pode poluir o ambiente digital e torná-lo nocivo para a sociedade. O primeiro estudo se debruçou sobre golpes e fraudes contra mulheres em anúncios nas plataformas da Meta. Entre os resultados, o estudo mapeou publicidade digital direcionada a homens que incentivava comportamentos tóxicos em relação às mulheres.
Anúncios tóxicos
A pesquisa revelou que 1.565 anúncios tóxicos analisados em plataformas da Meta (Facebook e Instagram); 80% dos anúncios tinham o corpo da mulher como o principal alvo da publicidade abusiva online; e 78,6% dos anúncios envolvem riscos à saúde pública ou individual
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Com redes sociais já cheias de conteúdos opressores e preconceituosos, quão maior podem ser os danos à saúde mental de mulheres e outros grupos minorizados? O quanto os direitos e a dignidade humana estarão ainda mais ameaçados a partir de agora? Essas são dúvidas que especialistas e mulheres de movimentos sociais questionam.
A jornalista Flávia Oliveira, em comentário na Globo News, classificou as mudanças anunciadas pela Meta como ‘infâmia’: “É um texto, é uma autorização infame. Estamos falando de infâmia. E me parece que a sociedade como um todo, não somente gays, lésbicas e trans, tem que se levantar contra essa infâmia. Essa é uma causa de todos nós. Porque se uma minoria está em risco, toda a humanidade estará em risco mais cedo ou mais tarde.”
Da Redação do Elas por Elas, com informações do MMulheres e GloboNews