Os bancos brasileiros registraram lucros bilionários em 2024, e a explicação para esse crescimento recorde não se deve apenas à eficiência administrativa das instituições financeiras. O principal motor desse desempenho extraordinário são os juros elevados, mantidos artificialmente altos pelo Banco Central sob a justificativa de controle da inflação. No entanto, essa política monetária restritiva tem efeitos perversos sobre a economia real: encarece o crédito, sufoca o setor produtivo e penaliza a população trabalhadora, enquanto os bancos seguem ampliando suas margens de lucro.
O impacto da política de juros sobre os bancos e a economia real
O Itaú Unibanco anunciou um lucro líquido recorrente de R$ 41,4 bilhões em 2024, um crescimento de 16,2% em relação ao ano anterior, marcando o maior lucro da história do sistema bancário brasileiro. O Santander Brasil, por sua vez, registrou um aumento impressionante de 74,9% em seu lucro líquido recorrente no quarto trimestre de 2024. Esses números demonstram que, enquanto a economia real luta para crescer em um ambiente de crédito caro e demanda reprimida, o setor bancário segue imune à crise.
A principal explicação para esse fenômeno está no spread bancário — a diferença entre os juros que os bancos pagam ao captar dinheiro e as taxas que cobram ao conceder crédito. O Banco Central, ao manter a taxa Selic elevada em 13,25% ao ano, favorece diretamente o sistema financeiro. Bancos captam recursos a um custo relativamente baixo e emprestam a taxas abusivas, garantindo margens exorbitantes. Para o trabalhador e o empresário, o cenário é outro: crédito caro significa menor capacidade de consumo e investimento.
Selic alta: um entrave para o crescimento econômico
A política de juros elevados tem sido defendida pelo Banco Central como um mecanismo para conter a inflação. No entanto, os efeitos dessa estratégia são questionáveis. Com o consumo enfraquecido e o custo do crédito elevado, o setor produtivo perde fôlego, o que afeta diretamente a geração de empregos e o crescimento econômico.
O mercado financeiro, por sua vez, celebra. O Itaú Unibanco distribuiu R$ 15 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) extraordinários, garantindo retornos generosos aos acionistas. Isso reflete um modelo econômico que prioriza a remuneração do capital em detrimento da produção e do trabalho. Em vez de canalizar recursos para investimentos produtivos, a política monetária do Banco Central estimula a financeirização da economia, aprofundando a desigualdade social.
A concentração bancária e a falta de concorrência
O cenário de juros elevados se agrava devido à estrutura altamente concentrada do setor bancário brasileiro. Segundo o Banco Central, os cinco maiores bancos do país — Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa Econômica Federal — controlavam mais de 80% dos empréstimos concedidos no Brasil em 2020. Essa concentração reduz a competição e impede que os consumidores tenham acesso a crédito mais barato.
A falta de concorrência no setor bancário contribui para a manutenção dos altos lucros das instituições financeiras. São empresas bem administradas, mas operam em um ambiente de oligopólio, com 200 milhões de brasileiros para apenas cinco bancos. Isso favorece a concentração de mercado e impede que as taxas de juros ao consumidor caiam significativamente.
Embora fintechs como Nubank e C6 Bank tenham surgido como alternativas, seu impacto ainda é limitado diante do domínio dos grandes bancos. O crescimento dessas novas instituições digitais pode ser um fator positivo no longo prazo, mas não altera a dinâmica concentradora do mercado financeiro brasileiro no presente.
Uma política a serviço dos bancos, não do país
O atual modelo de política monetária implementado pelo Banco Central tem beneficiado desproporcionalmente o setor financeiro, enquanto empresas e trabalhadores pagam a conta. Os lucros astronômicos dos bancos, impulsionados pelos juros altos, revelam uma contradição fundamental: enquanto o discurso oficial justifica a Selic elevada como uma medida de controle da inflação, os efeitos práticos dessa política são o encarecimento do crédito e a desaceleração econômica.
A economia brasileira precisa de um modelo que favoreça o investimento produtivo, o consumo e a geração de empregos, em vez de priorizar os interesses do sistema financeiro. Para isso, é fundamental que o Banco Central reveja sua política de juros e adote uma postura que equilibre a estabilidade econômica com o desenvolvimento do país. Caso contrário, a desigualdade seguirá aumentando, e os lucros bilionários dos bancos continuarão a ser sustentados pelo sacrifício da maioria da população.