Após dois anos consecutivos de retração, a produção científica brasileira voltou a crescer em 2024, alcançando pouco mais de 73 mil artigos publicados — um avanço de 4,5% em relação ao ano anterior, segundo relatório da editora Elsevier em parceria com a Agência Bori. O estudo, que reúne dados de 53 países com mais de 10 mil artigos publicados entre 2022 e 2023, utiliza como referência a base SciVal, responsável por monitorar a produção de pesquisadores e instituições em periódicos de circulação internacional.
Esse resultado marca uma inflexão importante diante do biênio anterior: em 2023, o Brasil havia registrado 69.656 artigos, número que representava uma queda de 7,2% em comparação com 2022. Ainda assim, mesmo com a retomada, o país não recuperou o pico histórico de produção alcançado na década passada e figura apenas na 40ª posição em taxa média anual de crescimento entre 2013 e 2023, com 3,5% ao ano.
A análise por áreas do conhecimento revela que a recuperação não se distribui de forma homogênea. Entre 2022 e 2023, as Ciências Médicas sofreram uma queda de 10% no número de artigos com participação de autores brasileiros. Engenharias, Ciências da Natureza e Ciências Agrárias também recuaram, com variações negativas entre 6% e 7%. Já Humanidades e Ciências Sociais tiveram retrações mais moderadas, de 2% e 4%, o que reforça a percepção de que os cortes orçamentários e as mudanças no financiamento impactaram de maneira desigual os diferentes campos do saber.
O relatório associa a desaceleração da ciência nacional à redução dos investimentos federais em pesquisa e desenvolvimento ao longo da última década. Em 2023, o orçamento destinado à área correspondia a cerca de 76% dos valores empenhados em 2015, após ter atingido o piso em 2021, com apenas 71% do nível de oito anos antes. Esse cenário ajuda a explicar por que o Brasil, embora mantenha posição de destaque em volume absoluto de artigos, vem perdendo espaço para países emergentes como Indonésia, Iraque e Etiópia, que registraram taxas de crescimento superiores a 20% no mesmo período.
Impacto das ações do MCTI
A retomada observada em 2024 reflete medidas implementadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), sob a liderança da ministra Luciana Santos. Entre elas, destacam-se:
– Recomposição parcial do orçamento do FNDCT, que voltou a financiar projetos estratégicos em diversas áreas.
– Inclusão da Ciência e Tecnologia no PAC, garantindo recursos adicionais para infraestrutura de pesquisa e inovação.
– Reabertura de editais de fomento e bolsas, que ampliaram oportunidades para pesquisadores e instituições retomarem projetos interrompidos.
– Programas voltados à internacionalização e cooperação científica, fortalecendo a presença de pesquisadores brasileiros em redes globais.
Essas iniciativas ajudaram a reverter a tendência negativa, ainda que de forma moderada, e explicam parte da alta registrada em 2024. O estudo Bori–Elsevier sugere que a ciência brasileira reage justamente a essa recomposição de recursos e ao ambiente mais favorável para pesquisa.