A invasão de forças rebeldes a Damasco, a capital da Síria, no último domingo 8, tirando do poder o presidente Bashar al-Assad, submergiu o país em incertezas. O movimento não é de pouca monta: “a captura de Damasco“, como anunciada por Abu Mohammad al-Jolani, líder do grupo Hayat Tahrir-al Shams (HTS), encerrou cinquenta anos de uma dinastia aparentemente inabalável.

Diante disso, não são apenas os sírios que se perguntam qual será o futuro político do país e como as forças locais vão se movimentar frente ao vácuo de poder. 

Essa pergunta inaugura a semana das lideranças políticas globais, desde autoridades ligadas ao Kremlin, que confirmaram a fuga de Assad à Rússia, até o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que, zombeteiro, indicou que o presidente russo, Vladimir Putin, não estaria “mais interessado” em proteger o líder sírio deposto.

Ebulição na Síria

Sem dar maiores detalhes, a Rússia afirmou que Assad estaria preparando uma transição pacífica de poder. Apesar do tom diplomático adotado, há poucos motivos para crer que a mudança de eixo no país do Oriente Médio seja marcada pela calmaria.

Isso se deve ao fato de que a Síria é um país complexo, com profundas divisões étnicas e religiosas, com um histórico de perseguição às minorias cristãs e curdas. A própria deposição de Assad ocorreu sob os ecos da revolta, com os opositores deixando claro que a tomada de poder buscava encerrar os duros anos recentes vividos pelos sírios, com centenas de milhares de mortos em decorrência dos conflitos locais.

O comando da Síria sob o regime único de Assad não desfez as disputas locais. Exemplo disso é que, mesmo que o líder deposto tivesse o controle das zonas centrais da Síria e de parte da costa mediterrânea, ele não conseguiu tirar do controle dos rebeldes as demais regiões do país. Além disso, mesmo o que se pode chamar de “grupos rebeldes” não compõe uma força unificada contra Assad, mas expressam diferentes forças, conflitantes entre si.

Quem assume? 

O primeiro nome que salta aos olhos após a queda de Assad é o do HTS. Criado em 2011, o grupo era um braço direto da Al Qaeda, o grupo terrorista de base fundamentalista islâmica. 

Pelo menos no discurso, o HTS foi mudando ao longo dos anos. Em 2016, rompeu com a Al Qaeda e se fortaleceu, juntando-se a outras unidades rebeldes. Rival do Estado Islâmico, o HTS é um grupo sunita e, à vista da comunidade internacional, pode ser considerada uma força moderada.

Diferentemente das forças jihadistas, o HTS tem trânsito com grupos não mulçumanos. Essa forma de atuação contribuiu para o domínio de parte do noroeste da Síria.

Foi al-Jolani o responsável por chamar a derrubada de Assad de “vitória para a nação islâmica”, ainda no domingo, se colocando, como esperado, no papel de líder máximo da nova era política. 

A liderança se limitou a dizer, também, que o atual primeiro-ministro da Síria, Mohammed Ghazi al-Jalali, deverá continuar à frente do governo até que a transição para um novo regime seja feita. O HTS poderá buscar concentrar forças e decidir governar sozinho a Síria, assim como também poderá chegar a uma coalizão com outros grupos rebeldes. 

Um desses grupos é o Exército Nacional da Síria (ENS), apoiado pela Turquia. Esse braço político é uma junção de milícias anti-Assad, mas, diferentemente do HTS, tem como marca a perseguição à minoria curda no país. 

Os curdos, por sua vez, encontram respaldo nas Forças Democráticas da Síria (SDF, na sigla em inglês). Não se trata de apontar que essa força assumirá a liderança da Síria, mas que ela poderá ser um ator importante na composição das relações de poder, daqui em diante.

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Last Update: 09/12/2024