Um novo relatório da organização israelense Kerem Navot revelou que, até o final de 2023, ao menos 77 assentamentos ilegais do tipo “pastoral” foram estabelecidos por colonos israelenses na Cisjordânia ocupada. Esses postos se concentram principalmente no vale do Jordão e no sul da região de Nablus, e já impõem controle sobre aproximadamente 240 mil dunams (1 dunam = mil metros quadrados ou 0,1 hectare) de terra palestina — cerca de 10% do território da Cisjordânia.
Esses assentamentos não se baseiam em autorizações oficiais ou planos urbanísticos. Ao contrário, utilizam uma estratégia conhecida como “assentamento pastoral”, que consiste na instalação de pequenas fazendas de gado em território palestino. Essas áreas são ocupadas por colonos armados, geralmente ligados a movimentos religiosos extremistas, que conduzem rebanhos para consolidar presença territorial.
O gado é usado como instrumento para delimitar zonas sob controle israelense. Áreas onde os animais pastam são tratadas como “habitadas” pelos colonos, o que, na prática, impede o acesso dos palestinos.
Segundo a ONG B’Tselem, mais de 18 comunidades beduínas palestinas foram desalojadas nos últimos anos como resultado direto da pressão desses postos. Agricultores relataram casos de expulsão, apreensão de animais, destruição de plantações e restrição de acesso a fontes de água. Apenas no norte do vale do Jordão, mais de mil palestinos foram obrigados a abandonar suas terras desde 2020.
Reportagem publicada pelo jornal israelense Haaretz apontou que cerca de 20% dos comandantes de batalhões das Forças de Defesa de ‘Israel’ (FDI) destacados na Cisjordânia são eles próprios colonos, muitos com vínculos diretos com organizações envolvidas na expansão dos assentamentos pastorais. Esses militares estariam facilitando a manutenção e o crescimento das fazendas ilegais, inclusive garantindo conexões com redes de água e eletricidade, apesar da ilegalidade desses postos mesmo sob as leis israelenses.
O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) relatou que a maioria dos incidentes de violência por parte de colonos israelenses ocorre nas proximidades dessas fazendas. Em 2025, somente nos dois primeiros meses do ano, foram registradas 139 agressões contra palestinos por colonos, número que pode ultrapassar 800 até o final do ano se mantido o atual ritmo. Os dados apontam para uma concentração de ataques justamente no vale do Jordão e no sul de Nablus.
A Comissão do Muro e dos Assentamentos da Palestina informou que, em janeiro de 2024, foram documentadas 1.593 violações por parte de colonos e forças de ocupação israelenses em toda a Cisjordânia. Entre elas, 291 ocorreram em al-Khalil, 203 em al-Quds e 200 em Nablus, regiões onde a presença de fazendas pastorais tem se intensificado.
Os assentamentos pastorais operam sem registro formal, mapas ou limites definidos. Em geral, basta uma barraca, alguns animais e a presença de homens armados para que a terra passe a ser tratada como sob controle israelense. Esse processo, que não depende de decisões oficiais do governo de ‘Israel’, tem avançado rapidamente e é considerado por organizações palestinas como parte de uma política sistemática de expansão territorial às custas do deslocamento forçado da população local.