O presidente Lula e seu governo não atravessam um bom momento. Seus índices de aprovação são os piores desde a posse. O Banco Central (BC) voltou a subir o juro, agora por decisão de uma diretoria dominada por indicados de Lula. Partidos com cargos no governo plantam na mídia sugestões para uma reforma ministerial. Uma raposa política como Gilberto Kassab, homem forte do governo paulista, crava que o presidente não se reelegeria, se a eleição fosse hoje.

“Comecei a rir”, disse Lula sobre a reação que tinha tido diante do prognóstico. “A eleição vai ser só daqui a dois anos.” 

O presidente comentou o assunto em uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto na manhã desta quinta-feira, 30 de janeiro. Uma entrevista repentina, sem um tema específico e para a qual os jornalistas, CartaCapital incluída, haviam sido chamados sem muita antecedência. São sinais de que vem aí um novo Lula, disposto a dar mais a cara a tapa publicamente em defesa de si e seu governo.

A troca de guarda na chefia da Secom (saiu o petista Paulo Pimenta, entrou o publicitário Sidônio Palmeira, coordenador do marketing lulista na campanha de 2022) já era uma pista das preocupações e planos do presidente.

O que se apresenta neste segundo tempo de governo é um Lula parecido com aquele do segundo mandato, disposto a falar e defender seus pontos de vistas sobre os assuntos do momento, a ocupar espaço na mídia e tentar influenciá-la — ainda que para conter danos. Era a filosofia de seu ministro da Comunicação Social da época, o jornalista Franklin Martins. O atual Secretário de Imprensa de Lula, o também jornalista Laércio Portela, era do time de Franklin.

Essa renovação é justificada pela popularidade claudicante e o esfriamento da boa vontade em relação o governo no noticiário e no mundo político. Numa pesquisa Genial/Quaest de 27 de janeiro, a desaprovação a Lula superou a aprovação pela primeira vez desde janeiro de 2023: 49% a 47%, respectivamente. No levantamento, 43% disseram ter visto mais notícias negativas sobre o governo e 28%, mais notícias positivas.

Para o presidente, há um ciclo natural de expectativas em relação a qualquer governo. No primeiro ano, o eleitor espera novidades e mudanças; a partir do segundo, começa a cobrar resultados concretos. “A gente não está entregando tudo o que prometeu”, reconheceu o petista durante a coletiva. “Então, como o povo vai falar bem do governo? É preciso ter muita paciência.”

A mesma “paciência” ele recomendou ao se referir a Gabriel Galípolo, novo presidente do Banco Central. Questionado sobre o aumento da taxa de juros em um ponto percentual, para 13,25% ao ano, Lula evitou críticas diretas. “O presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau”, ponderou. “Eu não esperava um milagre.” Até dezembro, o petista tinha mais liberdade para atacar a política monetária, já que o BC era comandado por Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro.

O Banco Central justificou a alta dos juros como uma medida para conter a inflação, mas a decisão tem um efeito colateral: encarece a dívida pública. E, paradoxalmente, os mesmos economistas que pedem juros altos acusam o governo de “gastança”. Lula rejeita a crítica. Quando perguntado se o governo prepara novos cortes de despesas, foi direto: “Se depender de mim, não tem outra medida fiscal [além daquelas aprovadas em dezembro no Congresso].” E reforçou que são os mais pobres que sempre acabam pagando o preço dos ajustes fiscais.

“As pessoas que passaram o ano inteiro falando mal do Haddad [ministro da Fazenda] deviam pedir desculpas”, provocou o presidente. Ele citou o resultado das contas públicas primárias, que fecharam 2024 com um déficit de 0,1% do PIB. Para Lula, “zero um é zero”. “Rombo fiscal existiu foi no governo passado”, disparou.

A mesma turma do mercado financeiro que previa um desastre econômico sob Lula também errou feio nas projeções. Em janeiro de 2023, estimavam um crescimento de 0,7% para o PIB e inflação de 5,3%. No fim, a economia cresceu 3,2% e o IPCA ficou em 4,6%. Para 2024, previam 1,5% de crescimento e 3,9% de inflação. O PIB deve ter crescido ao menos o dobro (o dado oficial sairá em março), enquanto o IPCA foi de 4,8%.

“Há pessimismo desde 2002 [ano de sua primeira eleição]”, disse Lula aos jornalistas. “Nós vamos continuar crescendo”, prosseguiu. Manter o ritmo na casa dos 3% vistos em 2023 e 2024 será difícil, com o juro do BC em 13,25%. Essa é uma das razões para o governo ter negociado com bancos uma maneira de levar o empréstimo consignado para trabalhadores do setor privado. Lula reuniu-se com bancos em 29 de janeiro e, na entrevista coletiva, anunciou: “Vai ser o maior programa de crédito da História desse país”. 

E o preço dos alimentos? O presidente tem feito reuniões com ministros sobre o assunto. Segundo ele, não vai ter mágica. O governo tentará baratear a comida ao estimular a produção agrícola com mais financiamento.

E o preço do diesel, que a Petrobras vai subir em breve? Os caminhoneiros precisam saber, disse o presidente, que mesmo que venha o aumento, o preço ainda será menor do que em dezembro de 2022, último mês de Bolsonaro no poder.

E a presidente do PT, será ministra, como tem sido noticiado? Ocupará a Secretaria Geral da Presidência? “A Gleisi é um quadro muito refinado (…). Ela tem condições de ser ministra em muitos cargos”, respondeu Lula.

E uma reforma ministerial, virá? Rodrigo Pacheco, presidente do Senado até 1.o de fevereiro, e Arthur Lira, o da Câmara até a mesma data, entrarão na equipe? Por enquanto, disse Lula, não há reforma pronta e acabada.

 

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Last Update: 30/01/2025