Coca e Pepsi travam uma batalha campal há décadas. Brigam para conquistar pontos de venda, espaços nas gôndolas e a lembrança e aprovação dos consumidores. A batalha tem tons dramáticos e, agora, a vantagem para uma delas pode ser construída por meio de um elemento inesperado, as tarifas. Não sabemos o que Trump prefere. Mas sabemos quem está sendo beneficiado.

Tanto a Coca quanto a Pepsi desenham uma história de segredos em razão da fórmula dos xaropes, o que é, essencialmente, a principal característica da bebida antes de acrescentar água e gás. Há 50 anos, a Pepsi adotou uma estratégia de produzir o xarope na Irlanda. Motivo? Estar perto do mercado europeu, diversificar a capacidade logística e enfrentar a Coca-Cola em um terreno no qual as estratégias poderiam ser mais eficazes. Claro, tudo com vantagens tributárias. Agora, todo xarope produzido na Irlanda está sujeito a uma tarifa de mais 10% de impostos.

A Coca-Cola mantém grande parte de sua produção em Atlanta e em Porto Rico, território norte-americano. Assim, estará imune às tarifas. Vantagem para a Coca na largada. A guerra tem, no entanto, mais bombas a estourar. O alumínio, por exemplo. A Coca importa o produto do Canadá, que passou a ter um acréscimo de 25% nas tarifas para o mercado dos EUA. A solução é aumentar a presença de embalagens plásticas ou comprar alumínio internamente.

As duas marcas se enfrentam em diversas áreas. Recentemente, ambas definiram estratégias de entrada no mercado de bebidas prebióticas nos EUA. No Brasil, a Pepsi tentou várias alternativas, mas ainda não conseguiu decolar, apesar de contar com a distribuição da AmBev.

A situação pega a Pepsi em um momento ruim. Nas últimas duas décadas, a companhia perdeu mercado e a segunda colocação para a marca Dr. Pepper.  Em outros países, não consegue reposicionar-se. No Brasil, enfrenta um dilema muito presente no dia a dia em bares e restaurantes. O velho “pode ser Pepsi”, que o atendente, sempre constrangido, pergunta quando não tem a marca líder. E grande parte das vezes a resposta tende a ser…“me dá um guaraná”.

Avanço holandês

O mercado de cerveja brasileiro voltou aos patamares anteriores à pandemia. Existe certa expectativa em relação a preços por conta da guerra comercial e os preços internacionais do alumínio e seu reflexo sobre as latas. Mas a projeção aumenta por conta da inauguração, no segundo semestre, da nova unidade da Heineken, em Minas Gerais, na cidade de Passos. A expectativa é de que ela coloque no mercado mais 5 milhões de hectolitros de Heineken e Amstel. A fábrica é a primeira totalmente construída pela empresa no ­Brasil. O volume melhora a competitividade na ­Heineken, que poderá optar por estratégias mais agressivas de preços e volumes. O verão de 2026 promete.

China elétrica

Leapmotor. O nome não é muito conhecido no Brasil, mas a montadora chinesa é prima-irmã da Jeep, Fiat, Citroën, ­Dodge e Alfa Romeo, entre outras. A Leapmotor tem uma joint venture com a Stellantis, que possui fábricas em Pernambuco e no Rio de Janeiro. A parceria foi concebida para encontrar canais de comercialização fora da China. A Leapmotor tem uma fábrica na Europa, na Espanha. E pode estar de malas prontas para desembarcar com a produção também no Brasil. As duas fábricas atuais da Stellantis são fortes concorrentes para concentrar a produção voltada para a América Latina. Fundada em 2015, a Leapmotor foca em carros elétricos.

Chilli Beans

A Chilli Beans, rede de ópticas, obteve linha de crédito de 30 milhões de ­reais para financiar os franqueados. Líder em venda de óculos escuros na América Latina, a empresa tem 235 franqueados e o dinheiro servirá para dar suporte a lojas e quiosques. O cálculo da Chilli ­Beans é bastante simples. Com capital, os franqueados podem expandir os negócios. E se o capital tiver juros menores do que aqueles do mercado financeiro, o temor pode transformar-se em ampliação e novas lojas. A estimativa é gerar 700 novos empregos até 2029. Além do Brasil, a Chilli Beans atua na Bolívia, Colômbia, Peru, Chile, México, Estados Unidos, Portugal, Kuwait e Tailândia. No total, são cerca de mil franqueados. •

Publicado na edição n° 1359 de CartaCapital, em 30 de abril de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Coca, Pepsi e o tarifaço’

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Last Update: 24/04/2025