O avanço da violência contra as mulheres está no centro de uma pesquisa elaborada na UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro) premiada com o 2º lugar na 5ª (V) Edição do Prêmio Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Viviane Vieira do Amaral – Edição 2025 – Categoria Produção Acadêmica.

Intitulada “Entre a fé e a quebra do silêncio: uma abordagem empírica da violência doméstica conjugal sob a influência do conservadorismo religioso”, a pesquisa embasou a tese de doutorado da assistente social, advogada e mestre em Ciência da Religião Líbia Goulart, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UENF, com orientação do professor Frederico Carlos de Sá Costa.

A pesquisa — que teve por objetivo averiguar de que maneira a violência doméstica é influenciada pelo conservadorismo religioso — dá continuidade ao mestrado de Líbia, cuja dissertação teve como título “Religião e violência doméstica: um olhar a partir das mulheres atendidas pelo Núcleo de Prática Jurídica do Centro Universitário Redentor em Itaperuna-RJ em 2018”.

O mestrado em questão realizou um estudo de caso com 10 mulheres atendidas no Núcleo, todas católicas praticantes – uma vez que, na ocasião, a Campanha da Fraternidade promovida pela CNBB tinha como tema Fraternidade e Superação da Violência.

O doutorado buscou saber como estariam hoje essas 10 mulheres, sete anos após o mestrado. No entanto, só conseguiu contato com uma delas, Rosa (nome fictício). O método utilizado foi a História de Vida, na qual a participante torna-se a principal fonte de informação e a base para a construção das categorias analíticas.

Conservadorismo como propulsor da violência doméstica

Em sua pesquisa, Líbia Goulart defende a ideia de que o contexto instalado pelo conservadorismo religioso tem potencial de atuar na promoção da violência doméstica, uma vez que a religião serve não só como guia moral, mas também como um mecanismo de socialização.

Líbia ressalta que o matrimônio é visto como a base da unidade familiar, o que contribui para a resistência a mudanças sociais que envolvem reinterpretação ou a flexibilização dos termos do casamento.

Em muitas tradições religiosas conservadoras, há uma promoção explícita de uma hierarquia dentro do casamento, na qual o homem é visto como o cabeça do lar, enquanto a mulher deve lhe obedecer e a ele se submeter.

Além disso, é muito comum que, mesmo diante de casos de violência, líderes religiosos se limitem aconselhar as vítimas a orarem pela paz familiar, ao invés de incentivá-las a procurar auxílio nas áreas legais ou policiais, reforçando a ideia de que cabe à mulher suportar todas as vicissitudes em nome da preservação da família.

Frequentemente as mulheres que vivenciam situações de violência são vistas como responsáveis pelo comportamento violento de seus maridos, e que elas devem suportar a violência, em vez de denunciá-la ou procurar ajuda externa, o que perpetua uma cultura de impunidade entre os agressores.

Dada a influência do conservadorismo religioso, ela considera essencial que haja estratégias de enfrentamento deste tipo de violência que passem pela sensibilização das instituições religiosas para a necessidade de um acolhimento ativo e inclusivo das vítimas.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 13/09/2025