
Em agosto do ano passado, em São Paulo, a aposentada Lourdes Diana, de 77 anos, perdeu R$ 1.000 após cair em um golpe via WhatsApp. Ela recebeu uma mensagem que parecia ter sido enviada por sua filha, pedindo um Pix de R$ 800. Sem desconfiar, fez a transferência, acreditando que a filha precisava de ajuda durante uma viagem. A imagem de perfil no aplicativo era, de fato, da filha — mas o número pertencia a um golpista.
Casos como o de Lourdes se repetiram por todo o Brasil. Segundo dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), cerca de 153 mil pessoas foram vítimas desse mesmo tipo de golpe em 2024. Entre os crimes mais recorrentes também estão falsas vendas, com 150 mil vítimas, e o golpe do falso funcionário de banco, com 105 mil registros. No total, os prejuízos com crimes cibernéticos chegaram a R$ 10,1 bilhões em 2024 — um aumento de 17% em relação ao ano anterior.
Especialistas apontam três principais razões para a persistência desse tipo de crime: o alcance massivo da internet, o imediatismo com que as pessoas tomam decisões online e a habilidade dos criminosos em manipular psicologicamente suas vítimas. Segundo o perito em crimes digitais Wanderson Castilho, muitas pessoas caem nesses golpes por agirem sem refletir e por não compreenderem o real poder da tecnologia.
Uma pesquisa do Instituto DataSenado revelou que 24% dos brasileiros com mais de 16 anos perderam dinheiro em golpes digitais no último ano. Isso representa mais de 40,8 milhões de vítimas, afetadas por crimes como clonagem de cartões, fraudes online e invasões de contas bancárias. Como o levantamento foi feito por telefone, o número real pode ser ainda maior, já que muitos casos não são reportados às autoridades.
Os grupos mais vulneráveis estão nas extremidades geracionais: os mais velhos e os mais jovens. Os idosos, por terem menos familiaridade com a tecnologia, tendem a acreditar mais facilmente em mensagens — especialmente quando envolvem supostos familiares. Já os jovens, embora nativos digitais, muitas vezes confiam demais em seus conhecimentos, tornando-se alvos fáceis de abordagens rápidas e com promessas de vantagens.

Entre os golpes mais comuns estão a clonagem do WhatsApp, em que o criminoso engana a vítima para obter o código de segurança e assume o número; a falsa venda, por meio da criação de sites com promoções irreais; e o do falso atendente bancário, em que o golpista se passa por funcionário do banco para roubar dados e induzir transferências.
Vazamentos de dados também impulsionam a atuação dos criminosos. Em novembro de 2024, a Polícia Civil de São Paulo descobriu uma quadrilha que comercializava informações pessoais de mais de 120 milhões de brasileiros. Esses dados permitem abordagens mais convincentes, aumentando as chances de sucesso dos golpes.
Para se proteger, especialistas recomendam medidas básicas, como ativar a verificação em duas etapas, desconfiar de preços muito abaixo do mercado, evitar clicar em links desconhecidos e nunca fornecer senhas ou dados por mensagens ou ligações. A Febraban reforça que instituições financeiras jamais solicitam senhas ou transferências.
O especialista Rony Vainzof, do Comitê Nacional de Cibersegurança, destaca que, além da responsabilidade individual, é necessária uma resposta estrutural. Segundo ele, o Brasil precisa investir em educação digital, fortalecer a aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados e punir os criminosos com mais rigor.
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