Pelo menos 142 empresários e fazendeiros ligados ao agronegócio participaram ativamente da tentativa de golpe de Estado no Brasil entre outubro de 2022 e janeiro de 2023. É o que revela o relatório “Agrogolpistas”, produzido pelo observatório De Olho nos Ruralistas, com base em quatro meses de apuração sobre a atuação de pessoas físicas e jurídicas ligadas ao setor.
Mato Grosso lidera em número de envolvidos
A maior parte dos envolvidos está no Mato Grosso, berço da soja no Brasil. Só a cidade de Sorriso concentrou 34 investigados. O clã Bedin, pioneiro da região, aparece com dez membros na lista e liderou o envio de caminhões usados para bloqueios de rodovias e o cerco ao Quartel-General do Exército em Brasília. Junto com a família Lermen, os Bedin responderam por 28 caminhões — um quarto da frota golpista oriunda do estado.
Leia também:
STF ouve mais testemunhas na ação penal da tentativa de golpe
Mauro Cid presta depoimento à PF e ex-ministro bolsonarista é preso
“O general Braga Netto entregou e comentou que era alguém do agro que tinha dado”, afirmou Mauro Cid sobre os R$ 100 mil recebidos para comprar armas. Em outra passagem, o tenente Portela teria dito que “o pessoal que colaborou com a carne está cobrando se vai ter mesmo o churrasco” — codinome para o golpe.
Multinacionais, bancos e silêncio institucional
Esses empresários não agiram isoladamente. Recebem crédito de bancos como BTG Pactual, Santander, Rabobank, John Deere e XP Investimentos. Alguns são parceiros comerciais da Syngenta, que premiou uma empresa investigada com uma viagem internacional em 2024, mesmo após o bloqueio judicial de suas contas, e muitos seguem recebendo crédito e contratos com essas corporações — apesar de figurarem em listas de indiciados por atos antidemocráticos. Entre os citados, há também ex-presidentes da Aprosoja, políticos locais, empresários milionários e dirigentes sindicais.
Confira abaixo o mapa com a origem dos agrogolpistas:

O relatório denuncia ainda a omissão da Justiça e do STF quanto à responsabilização desse setor. “Nenhum desses fazendeiros foi condenado”, afirma o texto, que critica o silêncio institucional diante da ação de um dos principais financiadores do levante antidemocrático. Enquanto isso, figuras como Sérgio Moro e Deltan Dallagnol — ambos com laços diretos ou familiares com o agronegócio — defendem tratamento mais brando aos envolvidos.
Com base em dados da Abin, da PF e das CPIs do Senado e do Distrito Federal, o estudo mostra que o “pessoal do agro” organizou comboios de caminhões, contratou banheiros químicos, tendas, geradores e forneceu alimentos aos acampamentos. Três fazendeiros do Pará também são investigados por apoiar o atentado com explosivos planejado para o Aeroporto de Brasília no Natal de 2022.
Leia também:
Depoimento de brigadeiro aproxima Bolsonaro da prisão
Marinha expulsa militar por participação nas invasões do 8 de Janeiro
Apesar da dimensão da atuação ruralista na tentativa de golpe, o diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, declarou em entrevista: “Não conseguimos identificar megafinanciadores”. O relatório rebate: não há um único nome, mas um ecossistema bem articulado e impune.
O dossiê finaliza com um alerta: o silêncio diante desses financiadores não é desinformação — é escolha política. A impunidade do agro revela um pacto de proteção que atravessa fronteiras econômicas, institucionais e ideológicas.
Para ver a íntegra do dossiê “Agrogolpistas”, clique aqui.
__