A questão da Cisjordânia é um dos exemplos mais emblemáticos da opressão sofrida pelo povo palestino, marcada pela ocupação e invasão contínuas de seu território, por uma invasão estrangeira e também, pelo apoio ao massacre do povo palestino dado pelos governos árabes corruptos. A região, situada a oeste do Rio Jordão, passou por uma série de invasões que moldaram o atual cenário de disputa, principalmente entre palestinos e o Estado sionista de “Israel”, com o apoio de potências imperialistas.
Ainda em 1948, a legalização do roubo das terras palestinas para a formação de “Israel” desencadeia a Guerra Árabe-Israelense, entre os países árabes e o enclave imperialista. Durante o conflito, ocorre também a invasão da Cisjordânia pela vizinha Jordânia, monarquia controlada com mão de ferro pelo fantoche do imperialismo, rei Abdula, que aproveita a conflagração para se apoderar de um pedaço da Palestina.
Em 1950, o território invadido por Abdula é oficializado como parte da Jordânia, que manterá o controle da região por quase duas décadas. Durante este período, os palestinos na região não tiveram sua soberania reconhecida. A Jordânia impõe ao território uma ditadura, reprimindo a população local, que já se encontrava desalojada e sob um sistema de opressão colonial.
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, a situação da Cisjordânia mudou radicalmente. A guerra, provocada pela escalada das tensões entre o Estado sionista e os vizinhos árabes, terminou com uma vitória esmagadora das forças israelenses. “Israel” não só conseguiu destruir grande parte da infraestrutura militar árabe, como também conquistou vastos territórios, incluindo a Cisjordânia, Gaza, o Sinai e as Colinas de Golã. A partir desse momento, a Cisjordânia passou a estar sob ocupação israelense direta, e a população palestina foi submetida a uma ocupação militar que dura até hoje.
A guerra de 1967, assim como a de 1948, foi utilizada por “Israel” como uma desculpa para expandir seu território em detrimento dos palestinos. Sob a justificativa de que os territórios eram necessários para a segurança do Estado, Israel iniciou um processo sistemático de colonização da Cisjordânia, construindo assentamentos ilegais e deslocando a população local. Esses assentamentos, que continuam a crescer até hoje, são um dos principais obstáculos para a criação de um Estado palestino viável.
Com a Cisjordânia ocupada por “Israel”, a rebelião popular do povo palestino, culmina na Primeira Intifada em 1987. A revolta, que começou como uma série de protestos populares contra a ocupação israelense, rapidamente se transformou em uma insurreição generalizada.
A brutal repressão israelense, com uso de força militar contra civis desarmados, chocou o mundo e chamou a atenção para a situação dos palestinos. No entanto, a Intifada também forçou “Israel” e seus aliados a considerarem a possibilidade de algum tipo de acordo com a liderança palestina, como forma de diminuir a pressão.
Para esse objetivo, surgiram os Acordos de Oslo em 1993. Firmados sob a égide dos EUA e da ONU, os acordos previam a criação de uma Autoridade Palestina que teria controle sobre partes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. A ideia era que, ao longo do tempo, esse controle fosse expandido e que as negociações levassem à criação de um Estado palestino independente. No entanto, o que os acordos realmente fizeram foi derrotar a verdadeira revolução representada pela Intifada até que a ocupação israelense tivesse condições de retomar o controle ditatorial sobre território, não sendo mais do que uma manobra, mas que expressava a dificuldade crescente da manutenção do enclave imperialista.
A partir de 1993, a Autoridade Palestina passou a controlar oficialmente a chamada Área A, que representa aproximadamente 11% da Cisjordânia. No entanto, essa região é geograficamente fragmentada, com cidades e vilarejos separados uns dos outros, o que dificulta qualquer tipo de governança efetiva. Além disso, a Autoridade Palestina não tem controle sobre as fronteiras ou o espaço aéreo, e as forças israelenses realizam incursões militares na região sempre que julgam necessário, violando a soberania limitada que foi concedida.
A Área B, que corresponde a cerca de 28% da Cisjordânia, é ainda mais complexa. Nessa região, o controle é dividido entre as autoridades palestinas e israelenses, com os palestinos assumindo a administração civil e “Israel” mantendo o controle militar. Na prática, isso significa que a presença militar israelense continua sendo uma constante na vida dos palestinos, e qualquer tentativa de resistir à ocupação pode ser reprimida com força.
A maior parte da Cisjordânia, cerca de 61%, permanece, entretanto, sob controle total de “Israel”. Conhecida como Área C, essa região inclui a maior parte dos assentamentos israelenses e das terras agrícolas mais férteis. Apesar de abrigar uma significativa população palestina, a Área C é tratada por “Israel” como seu território de facto e as autoridades israelenses têm promovido ativamente a colonização dessa área, deslocando os palestinos e destruindo suas vilas para dar lugar a novos assentamentos.
Os Acordos de Oslo, saudados na época como um avanço histórico em direção à paz, se revelaram uma farsa completa. Ao invés de garantir a criação de um Estado palestino, os acordos mudaram aspectos da dominação de “Israel” sobre a maior parte da Cisjordânia, criaram uma entidade palestina para fazer o trabalho sujo de oprimir o povo palestino na região, mantendo a ocupação e colonização sionista em pleno curso. O resultado é que, mais de 30 anos após os acordos, os palestinos ainda vivem sob ocupação militar, sem qualquer perspectiva real de soberania.
A Cisjordânia, hoje, é um território em disputa, onde a presença militar israelense é constante e a expansão dos assentamentos continua a todo vapor. A luta pela libertação do território e pela criação de um Estado palestino independente permanece tão distante hoje quanto estava em 1993.