Na primeira semana do ano, a primeira notícia relacionada ao esporte brasileiro veio do cinema, com a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro, premiação realizada em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Não só a ganhadora do troféu de melhor atriz, como também outros conceituados comentaristas da área cultural, especialmente cinematográfica, compararam o significado da conquista e das comemorações por ela gerada com aquelas de uma Copa do Mundo.

A importância dessa conquista teve reflexos no ânimo da nossa população.

Ela chegou em uma hora fundamental das nossas vidas, e praticamente ao mesmo tempo que, do mesmo território estadunidense, chegam as declarações estapafúrdias e perigosíssimas do presidente eleito, Donald Trump.

A elevação da nossa autoestima é algo precioso no momento em que discutimos, mais uma vez, o rumo contrário: o da afirmação da descolonização, da autodeterminação e da nossa independência.

A grande repercussão da conquista de Fernanda Torres e do filme Ainda Estou Aqui representa um importante estímulo para toda a cultura brasileira – e, nisso, incluo também o esporte.

O futebol brasileiro, por sua vez, precisa retomar sua posição de liderança entre os países mais destacados do cenário global, especialmente em um contexto onde a “indústria do esporte” se expandiu significativamente.

O crescente interesse de diferentes nações – entre elas, os países árabes e os Estados Unidos – nesse mercado tem mudado ainda mais o jogo.

Mas, como bons brasileiros que somos, continuamos com a energia das festas de fim de ano, já pensando no Carnaval e aplaudindo nossos heróis esportivos, como o Gabrielzinho da natação, que simboliza a alegria e o entusiasmo do nosso esporte.

É, no entanto, hora de “botar a bola no chão” e focar na recuperação da nossa performance esportiva.

A temporada futebolística, no Brasil, começa com a virada do ano – ou seja, num momento diferente daquele seguido pelos países do Hemisfério Norte.

Neste início de janeiro, as atenções já começam a se voltar também para a tradicional Copa São Paulo de Futebol Júnior.

A competição, com sua fase inicial irregular, só ganha intensidade à medida que se aproximam as finais. A expectativa é grande para as novas revelações que podem daí surgir.

Enquanto isso, as transferências de jogadores continuam em ritmo acelerado, com alguns clubes promovendo mudanças massivas em seus elencos.

As pré-temporadas começam a ser realizadas, seja nos próprios centros de treinamento de clubes com boa infraestrutura, seja no exterior, onde já acontecem amistosos e torneios promocionais.

Como já disse aqui outras vezes, a situação do futebol brasileiro não pode ser analisada sem considerar os problemas que afetam o esporte como um todo.

A crise no calendário esportivo é uma questão crucial. A programação excessiva de jogos tem gerado protestos, em todos os níveis, relativos às condições desumanas impostas aos atletas.

No fim do ano, tivemos o exemplo do Botafogo, que viajou ao Catar para um torneio, com todos os jogadores extenuados.

Além disso, a recente mudança no formato de administração dos clubes, com o modelo das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs), gerou novas discussões.

Um dos riscos que temos visto a partir das SAFs – e que foi apontado pelo cronista esportivo Carlos Eduardo Mansur – é o risco do “culto à personalidade” decorrente da ascensão de figuras messiânicas à frente dos clubes.

Isso me faz lembrar de uma conversa que tive quando o Botafogo foi vendido.

Comentei com um amigo: “Por que não vender para os Moreira Salles, banqueiros conhecidos por serem alvinegros e sempre apoiarem o clube?”

A resposta foi que eles preferiam não misturar paixão com negócios. A questão é complexa, e vemos agora o impacto dessas novas estruturas de gestão no futebol.

Curiosamente, e já que me dispus a misturar futebol e cinema nesta coluna, veio de um Moreira Salles, o Walter, o filme que nos trouxe tanta alegria nesta semana. •

Publicado na edição n° 1344 de CartaCapital, em 15 de janeiro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Cinema e futebol’

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Last Update: 09/01/2025