Neste domingo (1º/12), o Massacre de Paraisópolis, bairro periférico da zona sul de São Paulo, completou cinco anos sem que os responsáveis pelas mortes de nove jovens durante uma operação da Polícia Militar no Baile da DZ7, em 2019, fossem condenados. Para marcar a data, famílias das vítimas organizaram um ato em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo em São Paulo, e lançaram o site “os9queperdemos” que contém a linha do tempo do episódio e também hospeda uma central de denúncias e relatórios sobre a violência policial e a criminalização do funk.
O protesto reuniu famílias de vítimas e apoiadores que caminharam pela Rua Nabih Assad Abdalla, no Morumbi, carregando faixas com frases como “O Direito existe para que a justiça seja feita” e “Não foi socorro”. A manifestação criticou a versão da PM, que afirma ter ido ao baile prestar socorro e assistência, apesar das evidências de repressão violenta.
Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique Quirino de 16 anos, uma das vítimas, emocionou o público ao dizer que “não é só quem aperta o gatilho, quem joga o gás lacrimogêneo, quem executa. Quem manda também tem que ser punido”. Ela destacou a omissão de responsabilidade dos governantes e criticou a impunidade que ainda prevalece: “os governadores não são punidos”.
A tragédia e as investigações
As nove vítimas, com idades entre 14 e 23 anos, morreram após serem encurraladas em uma viela da comunidade pela PM. Apesar da versão inicial de que foram pisoteadas, a Defensoria Pública de São Paulo e o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (Caaf) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) comprovaram que as mortes ocorreram por asfixia mecânica.
A Defensoria produziu um relatório de 187 páginas detalhando imagens e áudios que indicam o uso desproporcional de força, como o lançamento de explosivos pela PM, agravando o pânico na multidão. Doze policiais foram acusados por homicídio e outro por expor os participantes do baile a risco.
Entretanto, o processo avança lentamente: a primeira audiência de instrução, no Tribunal de Justiça de São Paulo, ocorreu apenas em julho de 2023, quase quatro anos após a tragédia. Na ocasião, havia 24 testemunhas de acusação na lista de depoimentos programados, de um total de 52 testemunhas arroladas.
Violência policial e racismo estrutural
Dados do Instituto Sou da Paz divulgados em outubro mostram que, entre janeiro e agosto de 2024, 441 pessoas foram mortas pela PM paulista, um aumento de 78% em relação ao mesmo período de 2023. O racismo estrutural fica evidente: dois em cada três mortos eram negros, e o aumento entre vítimas negras chegou a 83%.
Criminalização do funk
O massacre de Paraisópolis reflete o estigma em torno do funk e de eventos culturais periféricos. Em 2019, João Doria, então governador de São Paulo, afirmou que não recuaria nas ações das forças de segurança, mesmo diante de denúncias de abusos. Para os familiares, a criminalização desses espaços contribui para a tragédia.
O site “os9queperdemos” lançado no ato de buscar manter a memória das vítimas vivas e incentivar denúncias de abusos. Para as famílias, trata-se de uma ferramenta de resistência e luta por justiça.
O caso continua como símbolo de luta contra a violência policial no Brasil, destacando a urgência de responsabilizar não só os executores, mas também quem determina operações repressivas.
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com informações de agências