Duílio Alves, ex-presidente do Corinthians. Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Durante 36 dias entre setembro e outubro de 2023, o ex-presidente do Corinthians Duílio Monteiro Alves usou recursos do clube para bancar uma série de despesas pessoais. A lista inclui desde cervejas, carnes e flores até medicamentos para disfunção erétil. Um escândalo de cartão corporativo com recibos em nome de Duílio, notas sequenciais de estabelecimentos fantasmas e uso de verba em benefício próprio — e que passou, mesmo com ressalvas, pelos conselhos fiscal e deliberativo do clube.

Relatório de despesas do Corinthians, obtido e verificado pelo portal ge, mostra que o clube repassou R$ 80 mil em espécie à presidência entre os dias 2 e 30 de outubro. O valor declarado nos comprovantes foi de R$ 86,5 mil, o que geraria um reembolso de R$ 6,5 mil a Duílio. Ao todo, foram 176 compras feitas no período.

Veja os relatórios:

A maior parte dos gastos — R$ 57,8 mil — é com alimentação, incluindo 38 compras no Oba Hortifruti de itens como picanha, cerveja, sorvete e doces. Mas o mais curioso está no “Oliveira Minimercado”, responsável por R$ 32,5 mil em notas de buffet. O endereço? Um imóvel residencial no Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, onde moradores negam qualquer atividade comercial. Antes de ser “minimercado”, a empresa operava como “Oliveira Obras de Alvenaria”.

Os recibos de Duílio e de Denilson Grillo, ligado à sua gestão, revelam um padrão de uso pessoal do dinheiro alvinegro: serviços de lavanderia (R$ 505), salão de beleza (R$ 171), kit de descarga (R$ 219), aparelhos de barbear BaByliss (R$ 3 mil) e até arranjos de flores com borboleta decorativa (R$ 737).

Três compras de farmácia chamam atenção: dois remédios com tadalafila e um com Cialis, ambos para tratamento de disfunção erétil. Um deles foi adquirido em Fortaleza no mesmo dia em que o Corinthians enfrentou o Fortaleza pela semifinal da Copa Sul-Americana.

Há ainda recibos sem valor fiscal, como o pagamento de R$ 3.350 a Maria Aparecida de Souza e outro de R$ 2 mil a Sidney Balbino dos Santos, ex-assessor parlamentar de Andrés Sanchez. Sidney aparece também como comprador de roupas com CPF identificado em nota fiscal.

Os gastos com transporte somaram R$ 13,8 mil, incluindo manutenção de veículo (R$ 9,4 mil) e diversas compras de gasolina num mesmo posto — três delas no mesmo dia, com intervalo de minutos. O dono do posto afirmou não ter relação alguma com o Corinthians.

Apesar da comprovação dos gastos em notas fiscais verificadas pela Secretaria da Fazenda, Duílio nega qualquer irregularidade. O clube, por sua vez, aprovou as contas, com ressalvas, por seus conselhos internos. A blindagem política, histórica no Parque São Jorge, novamente fala mais alto que a responsabilidade com o patrimônio alvinegro.

Enquanto a atual gestão tenta avançar na apuração desses gastos, outra sombra ronda o clube: os gastos de Andrés Sanchez, presidente antes de Duílio, também entrarão na mira. Ele usou o cartão corporativo para passar o réveillon em Tibau do Sul (R$ 9.416) e para uma estadia em Fernando de Noronha (R$ 6.980), sem qualquer justificativa institucional.

Em meio à pior crise financeira da história do clube, com dívidas superiores a R$ 1,5 bilhão e desempenho esportivo pífio, os gastos pessoais de seus ex-presidentes jogam sal em uma ferida aberta. O Corinthians, gigante que é, segue refém de gestões que tratam o clube como extensão de suas próprias casas — ou, neste caso, de suas carteiras.

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Last Update: 22/07/2025